Um resultado do fatídico desabamento do prédio em São Paulo foi obrigar parte da imprensa a admitir que os tais "movimentos sociais" não são formados por anjos e paladinos da justiça.
"Mas não se pode deslegitimar" ou "não é o caso de criminalizar" foram as desculpas mais lidas após o reconhecimento do fato de que o MTST e seus afiliados são os coronéis da nova "indústria da seca", rebatizada como comércio de invasões.
Desculpas envergonhadas, tímidas, de quem sabe que está tentando salvar os anéis depois de terem sido perdidos os dedos.
Quem emprega essas desculpas ainda acha, às vezes ingenuamente às vezes maliciosamente, que tais movimentos são instrumentos na luta por moradia para todos. Só que basta uma passada no próprio site do MTST pra descobrir que esses "movimentos sociais", na verdade, estão em guerra, e seus filiados não passam de soldados arregimentados, quer eles saibam disso quer não.
Em 2015, durante a movimentação para o impeachment, Lula falava em "exército do Stédile" (que até agora não deu as caras), e o que se vê nesse momento é o nascimento do "exército do Boulos" (Lula, ele próprio, já esteve no papel de general de um exército, o dos metalúrgicos).
Está lá, na parte de "objetivos" do site do MTST, que o que o movimento deseja é a "construção do poder popular".
Além disso, dizem seus líderes que "as formas de atuação do MTST estão centradas na luta direta contra nossos inimigos", sendo esses "inimigos" "as leis, o governo, a justiça" que refletem os interesses de "patrões, proprietários de terras e banqueiros".
O MTST NUNCA quis resolver o problema da moradia, assim como o MST nunca quis resolver o problema do latifúndio, ou como a UNE nunca desejou a universalização de um ensino de qualidade, ou como os sindicatos nunca desejaram o pleno emprego, porque o atingimento desses objetivos significaria o fim de suas clientelas.
Prova disso é que os desabrigados pelo desabamento recusaram as ofertas da prefeitura para irem a albergues da região, e preferiram permanecer no meio da praça, segundo o Padre Júlio Lancelotti (que certamente deve envergonhar todo católico que se preze), numa "atitude de enfrentamento".
No albergue as famílias encontrariam, além de abrigo e proteção, chuveiro quente, muda de roupas e 3 refeições diárias. Mas eles preferem permanecer numa ocupação sem água corrente, sem energia elétrica, com toque de recolher e com esgoto correndo livremente pelos corredores.
Ora, não há "inimigos" num regime democrático. Pode haver adversários, pode haver discordâncias, mas "inimigos" só os há numa guerra. "Inimigos" não coexistem, inimigos buscam a destruição um do outro.
Sempre que abre a boca pra falar em "democracia", Guilherme Boulos ressalta que não tem interesse em democracia "política" se não houver democracia "econômica", ou seja, SOCIALIZAÇÃO.
O movimento não quer a parcela dele no espaço urbano, ele quer a minha e a sua.
Entender isso é fundamental.
Em agosto de 2016, no rescaldo do impeachment, Lindbergh Farias disse na tribuna do Senado que não haveria conciliação.
É verdade. Não pode haver. Somos nós ou eles.
E é bom lembrar, como mostra a história, que eles estão dispostos a tudo.
Rafael Rosset
Advogado