É na sala vermelha de um hospital público que ricos e pobres se igualam
22/04/2018 às 14:15 Ler na área do assinanteDiscordo da frase: quando morremos tudo se iguala.
Enterro de rico e de gente famosa tem caixão chique, várias celebridades, cobertura da imprensa, etc e tal.... já no sepultamento de uma pessoa pobre e desconhecida geralmente encontramos alguns familiares e uns poucos verdadeiros amigos.
Como médico socorrista, que desde a sua formatura trabalha com urgência e emergência, posso afirmar com absoluta certeza: é na sala vermelha de um pronto socorro público qualquer, que independentemente da condição financeira ou do "pedigree" da vítima, tudo e todos se igualam.
O sofrimento e o desespero são por demais democráticos, atingindo à todos igualmente. Nas "garras do monstro" em que se transformou o sistema público de saúde brasileiro, todos padecemos sem discriminação.
Já vi pessoas conhecidas e importantes (que não foram identificadas como tal) ficarem amontoadas em macas frias, em um hospital público lotado qualquer, aguardando entre a vida e a morte, o momento de seu atendimento.
Muitos políticos, artistas, celebridades e membros de suas famílias, acostumados com as boas coisas da vida, às vezes, também são expostos a este tipo de sofrimento (o cantor sertanejo Cristiano Araújo é um bom exemplo do que digo).
O dinheiro desviado dos cofres públicos por políticos inescrupulosos, aqui faz seus maiores estragos, sendo mais fácil de ser identificado o grande prejuízo que causam a nossa sociedade.
Educação de péssima qualidade, estradas perigosas e mal conservadas, uma segurança pública ineficiente e falida, um código penal atrasado e benevolente com os criminosos, dentre outras mazelas, acabam por piorar e alimentar a nossa tragédia.
Mas como eu ia dizendo...
É na sala vermelha de um hospital público qualquer, que todos somos igualados na tristeza, no desespero e no sofrimento.
Roberto Corrêa Ribeiro de Oliveira
Médico anestesiologista, socorrista e professor universitário