O mundo está em convulsão porque os governantes dos países líderes (EUA, Rússia e China) não mais se entendem na busca de vantagens econômicas e expansão territorial. A União Europeia tornou-se linha secundária, ao lado do Japão e da Coreia, sem esquecer Israel e Síria. A guerra por mercados se traveste de ideologias provocando o renascimento da velha “guerra fria” do século passado: esquerda e direita, países centrais e países periféricos. Ressurge a luta entre o bem e o mal, eivada de tinturas religiosas. Tudo isso respaldado por enormes arsenais nucleares e grande ignorância das massas populares tementes a Deus. Os debates são acirrados, mas não há diálogo. O sociólogo Sérgio Adorno diz que “A polarização constrói um mundo de polaridades não negociáveis: certo e errado, justo e injusto, acerto e erro, verdade e mentira. A sociedade democrática é justamente aquela que lida com as diferenças. A polarização é um mal e é incompatível com a vida social”.
No Brasil as coisas também se complicam porque o país navega em um mar de lama onde predomina a disseminação de facções partidárias sem nenhum cunho ideológico, ou proposta programática. O que interessa, de fato, é o enriquecimento fácil para aqueles que conseguem votos para se elegerem. E a intervenção militar (salvadora) feita contra o crime organizado (que está associado à corrupção política), até agora não apresentou resultados positivos, o que faz os brasileiros olharem para os conflitos dos países vizinhos.
Debate e diálogo não são sinônimos. O primeiro é uma estratégia de contestação baseada em argumentos conceituais válidos, onde duas ou mais pessoas defendem ideias conflitantes; há respeito mutuo e contra argumentos, como acontece nos debates científicos, filosóficos, literários, jurídicos e políticos. Diálogo é uma conversa informal entre duas ou mais pessoas em busca de um entendimento a respeito de ideias que não são consensuais.
Argumento é uma afirmação acompanhada de justificativa; é um recurso verbal para convencer alguém sobre determinada opinião ou comportamento; é um raciocínio lógico que conduz à indução ou dedução de algo entre duas afirmações opostos. Para cada argumento lógico há (ou deveria haver) contra-argumentos racionais.
Ocorre que, muitas vezes, nos debates ou diálogos esgotam-se os argumentos e os contra-argumentos em uma das partes. A pessoa, então, não tendo mais o que dizer, parte para a rotulação do oponente. Dependendo do tema em pauta ele dirá: você é comunista ou você é nazista; você é judeu ou você é muçulmano; você é petista ou você é peessedebista. É por aí a fora, instalando-se o radicalismo em ambas as partes e eliminando a possibilidade de conciliação porque os sentimentos de ódio e de rancores passam a predominar.
É o que está acontecendo entre os brasileiros no atual momento político eleitoral, onde predomina interesses menores. Lula e seus seguidores (rotulados de esquerda) recebem o apoio explícito de aproximadamente 35% da população e, ao mesmo tempo, são hostilizados por 35% dos brasileiros que apoiam Bolsonaro e Alkmin (rotulados de direita), e que são odiados pelos primeiros. Cerca de 30% do povo a tudo assiste com grande desencanto, sabendo que nada poderá fazer para mudar essa situação. A cada momento que passa as coisas vão se radicalizando e a nação se divide em perigosa dissensão, estado de litígio, de conflito.
Esse quadro lembra o panorama político dos momentos do pré-golpe militar de 1964 que, por coincidência, completou 54 anos no dia 31 de março (ou 1º de abril como foi comemorado em 1965). Hoje as Forças Armadas ocuparam as cidades em luta campal contra o crime organizado, caracterizando uma verdadeira guerra civil. O que mostra que a onda de violência e corrupção política generalizada pode sair do controle, como aconteceu no Rio de Janeiro.
E isso sem falar nas consequências econômicas e sociais para a população. Os otimistas (aqueles que ainda não sentiram os efeitos da crise) afirmam que a renovação que acontecerá nas próximas eleições redirecionará o país para as sendas da prosperidade. Entretanto, os analistas políticos dizem que a renovação nas próximas eleições será grande, que oscilará entre 40% a 50%, mas que isso não mudará a estrutura política porque os novos eleitos já virão contaminados pelo vírus da corrupção endêmica.
Os pessimistas reconhecem que Pindorama não chegou ao fim do poço e que a solução para esse caos seria, talvez, um novo pacto social. Mas não acreditam nas lideranças que comandam os poderes da República, deixando uma pergunta no ar: quem teria credibilidade suficiente para liderar um movimento como esse?
Aos que defendem a ocupação militar do país, leiam o que diz o historiador Pedro Henrique Pedreira Campos a respeito da falta de fiscalização autônoma e da forte censura que existia na ditadura dos anos 1964 a 1985: “Era um cenário ideal para práticas corruptas”.
O que fazer? Ir para as ruas gritando Lula na cadeia, ou fora Temer, não é suficiente.
Landes Pereira
Economista e Professor Universitário. Ex-Secretário de Planejamento da Prefeitura de Campo Grande. Ex-Diretor Financeiro e Comercial da SANESUL. Ex-Diretor Geral do DERSUL (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem). Ex-Diretor Presidente da MSGÁS. Ex-Diretor Administrativo-Financeiro e de Relações com os Investidores da SANASA.