O encontro entre Fátima e a moça que perdeu o emprego de ministra por puro preconceito
23/02/2018 às 10:51 Ler na área do assinante- Estamos começando mais um 'Encontro', e hoje vamos tratar do caso de uma moça que não consegue emprego por causa do preconceito. Bem-vinda ao programa, Cristiane.
- Oi, Fátima, bom dia.
- Uma moça bonita como você, que tipo de preconceito você sofre para arrumar um emprego?
- Corrupção, Fátima.
- E você com certeza perdeu oportunidades por causa da corrupção? Isso foi claro para você ou foi uma suposição?
- Porque, assim, eu não era totalmente corrupta, mas toda vez que eu ia fazer entrevista, eu sabia que eu não passava por conta dos casos de corrupção na família e por causa que eu não assinava carteira, usava funcionário para pagar as minhas contas, fazia acerto com o tráfico...
- E isso te prejudicava?
- Então, isso me prejudicava muito. Depois da entrevista que um presidente aí me chamou pra um trabalho, eu fiquei tipo assim muito decepcionada, porque uma amiga minha, Luislinda, me falou assim, que era praticamente trabalho escravo, e eu não ia nem ser chamada.
- Mas é por você ser corrupta ou por você ser mulher?
- Então, eu percebia na hora da entrevista, que era tipo assim por conta das duas coisas. Ele começou...
- Ele quem? O golpista?
- Isso, ele, o presidente, ele falou assim que ali no governo tinha que ser tudo mais discreto, que o pessoal que trabalhava ali com ele tinha que usar o rabo preso, não podia botar as manguinhas de fora, e parecia que ele queria acabar com aquele assunto logo pra mim poder ir embora.
- E você, por ser mais exuberantemente corrupta, não foi contratada?
- Então, eu fiz a entrevista e tudo, mas não chamou. Até agora não chamou. Eu aí juntei uns parças meus, tudo gente simples assim, que não tem dinheiro nem pra comprar uma camisa, a gente tomou umas, foi pra uma lancha, deu depoimento dizendo que quem põe patrão na justiça é maluco, mas não adiantou. O preconceito foi mais forte.
- Nos governos anteriores não havia, mas há muitos corruptos neste governo, não?
- Eu acho que é por conta da minha ancestralidade.
- Sua família também é corrupta, é isso?
- Muito. Papai é bastante corrupto. Teve preso, inclusive.
- Acho que estamos diante de um caso de tríplice preconceito, por você ser mulher, corrupta e filha de presidiário. Vamos para um rápido intervalo e voltamos com a história de um rapaz que teve que abandonar as mulheres e as namoradas e fugir pro Espírito Santo apenas com um fuzil AR-15, uma submetralhadora e dois milhões de dólares por causa da perseguição dos militares ao seu negócio de venda de substâncias ilícitas numa comunidade carioca. Não sai daí, já já a gente volta.
Eduardo Affonso
É arquiteto no Rio de Janeiro.