A cara de pau é deslavada...
As investigações estão a demonstrar que André Puccinelli é o homem que durante 16 anos comandou, no dizer do próprio relatório da Polícia Federal, uma verdadeira organização criminosa, com um único objetivo: ganhar muito dinheiro e vencer eleições. E, de fato, foram 16 anos de muita grana e seguidas vitórias nas urnas.
Como já explanado num outro artigo (veja aqui), as ramificações do grupo são inúmeras e o nível que atingiu permitiu que se transformasse numa verdadeira máquina eleitoreira, só colocada em risco na eleição de 2012, com a derrota no pleito municipal de Campo Grande.
O problema angustiante é que dos tentáculos desta máquina, sob o comando de Puccinelli, além da eleição de diversos políticos para cargos relevantes, conseguiram, com o produto auferido pela organização, nomear conselheiros do Tribunal de Contas e desembargadores do Tribunal de Justiça. Um problema muito sério, que torna as instituições capengas e desacreditadas.
Assim, hoje existem inúmeras "autoridades" ocupando cargos de relevância sem a mínima qualificação moral e intelectual para tal. Por ora, vamos nos ater ao caso específico do conselheiro do TCE/MS Osmar Jeronymo.
Esse moço foi lapidado por Puccinelli, que lhe ensinou todas as práticas perversas que domina com maestria. Jeronymo acompanha o italiano desde a época em que este foi deputado estadual, em 1986. Entretanto, a extrema afinidade entre os dois iniciou-se em 1983, quando o então desconhecido médico foi nomeado secretário de saúde do governo Wilson Barbosa Martins, uma compensação por sua participação nas eleições municipais de Fátima do Sul, quando foi o mais votado, mas, pelas regras eleitorais da época, não se elegeu.
De lá prá cá, André e Osmar não mais se largaram. Onde estava André, logo aparecia Osmar e alguma coisa eles estavam aprontando.
E a confiança de André no discípulo sempre foi muito grande. A ele cabiam as tarefas mais espinhosas. Uma delas lhe rendeu um processo crime que em breve poderá resultar em "cana", caso antes não seja preso por outro motivo. Refiro-me a trama diabólica, da qual também participou o outro discípulo do capo - o próprio filho, André Junior - quando plantaram "provas" para incriminar um deputado petista, então um crítico mordaz de André Puccinelli, que mais tarde, numa demonstração de força da organização, acabou sendo usado como peça do golpe político que retomou o comando da prefeitura de Campo Grande.
Eis que agora, com a Operação Lama Asfáltica, aparece Osmar como um saltitante envolvido. Foi flagrado pela Polícia Federal em conversas incriminadoras. As investigações apontaram fortes indícios de fraudes em gigantescas obras públicas.
Tudo leva a crer que o conselheiro está atolado até o pescoço, mas não é pra menos, enquanto Amorim era o braço financeiro da organização, Jerônimo era o articulador, o grande negociador.
Ora, constitucionalmente, para ser conselheiro do Tribunal de Contas são necessários alguns requisitos básicos, quais sejam: mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade; idoneidade moral e reputação ilibada; notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública.
Nesse caso, uma coisa é certa: Osmar tem mais de 35 e menos de 65 anos de idade...
As questões que deixo no ar são as seguintes: Será que Osmar Jerônymo goza de todos os requisitos básicos para exercer a função de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul? Quando o MP vai sair da zona de conforto, assumir a postura de independência que lhe cabe, e agir?
José Tolentino
Jornalista. Editor do Jornal da Cidade Online.