Qualquer que seja o resultado do julgamento de hoje, vamos ficar frustrados.
Uns porque o criminoso foi absolvido, outros porque o inocente foi condenado.
É que a Justiça não foi feita para saciar nossa sede de justiça, mas tão somente para fazer cumprir a lei.
Os que querem Lula na cadeia se apoiam nas próprias convicções políticas e nas centenas de páginas com provas, indícios e evidências - documentais, testemunhais, periciais.
Os que o querem impune se apoiam nas próprias convicções políticas e renegam as mesmíssimas provas, indícios e evidências.
Por isso é que acusados de crimes vão a julgamento, não a disputa eleitoral.
Por isso os votos dos juízes, desembargadores e ministros nos tribunais - não os votos dos eleitores nas urnas.
Urnas elegem, tribunais julgam.
Urnas captam (ou deveriam captar) convicções políticas.
Tribunais avaliam (ou deveriam avaliar) o que diz a lei, o que consta dos autos.
A defesa de Lula acusa a Justiça de ter sido célere demais, levando-o a julgamento em tão pouco tempo - e, simultaneamente, alega que a Justiça foi lenta demais e já perdeu o prazo para julgá-lo.
(Ainda lhe falta argumentar que o ritmo foi normal demais - trunfo que talvez esteja guardando para a próxima instância).
Defesas - e acusações - têm o direito de ser parciais, de fazer o recorte que quiserem, de jogar holofotes sobre determinados pontos e disfarçar outros na penumbra.
Cabe aos julgadores botar óculos escuros aqui e acender a lanterna acolá - ainda que alguns eventualmente (talvez por serem também eleitores) não distingam luz de sombra, óculos de lanterna.
Seja como for, juízes foram inventados para estar acima das paixões, dos interesses, das conveniências. Para ser sobre-humanos. Não são. Mas, ao contrário da maioria de nós, conhecem as leis.
Podemos discutir ad aeternum se a decisão de hoje (e as próximas, porque a fila de decisões que vêm por aí é de dobrar a esquina) será legítima ou não. Se corresponde às nossas expectativas (ou às nossas intenções mais inconfessáveis).
Mas será legal, e deve ser acatada - para nossa frustração ou (tomara!) a deles.
___________
___________
___________
Eduardo Affonso
É arquiteto no Rio de Janeiro.