A JUSTIÇA MALAndra, Gilmar e a sua cúmplice
25/12/2017 às 08:21 Ler na área do assinanteDois episódios recentíssimos fecham 2017 nos ajudando a compreender como um Poder Judiciário seletivo e leniente é capaz de garantir a impunidade aos larápios e reduzir a pó qualquer vestígio de institucionalidade nesta eterna Ilha de Vera Cruz:
EPISÓDIO 01
Desejando achincalhar o trabalho de Rodrigo Janot à frente da Procuradoria-Geral da República, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, fingiu não ter visto a mala com R$ 500 mil carregada pelo assessor especial de Michel Temer; tampouco as malas com R$ 51 milhões escondidas pelo ministro do Governo Michel Temer. Limitou-se a dizer que o ex-procurador-geral fez um péssimo trabalho, "populismo judicial responsável por tais assanhamentos".
Foi preciso o ministro Luís Roberto Barroso desnudar a cegueira seletiva do colega togado:
"Eu ouvi o áudio, ‘Tem que manter isso aí, viu?!’. Eu vi a mala de dinheiro, eu vi a corridinha na televisão. Tudo documentado! [...] Nós vivemos uma tragédia brasileira, uma tragédia da corrupção que se espalhou de alto a baixo. É a cultura de desonestidade em que todo mundo quer levar vantagem. Há um país que se perdeu pelo caminho, naturalizou as coisas erradas e temos o dever de enfrentar isso!"
EPISÓDIO 02
No dia seguinte, misteriosamente, Gilmar Mendes, na condição de presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), concedeu Habeas corpus ao ex-governador Anthony Garotinho e dispensou Rosinha Matheus do uso de tornozeleiras eletrônicas.
Imediatamente, rastilhou nas redes sociais uma entrevista atribuída ao juiz Glaucenir Oliveira, da Justiça Eleitoral de Campos dos Goytacazes, responsável pelas prisões de Garotinho e Rosinha. Ouve-se no áudio:
"A gente leva pedrada, tiro, enquanto o grande general desse Poder Judiciário que é ele agora [Gilmar Mendes], parece que é o dono do poder, mela o trabalho sério que a gente faz, com sarcasmo, falta de vergonha e, segundo os comentários que ouvi hoje, comentários sérios de gente lá de dentro, é que a mala foi grande!", conclui, supostamente, o juiz de Campos.
A mala desta vez não ficou invisível! Ato contínuo, Gilmar Mendes determinou ao TSE uma rigorosa investigação contra o juiz Glaucenir Oliveira. Sua cúmplice no STF, ministra Cármen Lúcia, também determinou ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) imediata investigação contra o juiz fluminense.
EPÍLOGO
O Poder Judiciário do Brasil está sendo destruído por malas e "malas" e assumindo o protagonismo do maior espetáculo de Insegurança Jurídica já visto neste quinhão tupiniquim do Planeta Terra.
BÔNUS TRACK
"Uma única mala talvez não dê toda a materialidade criminosa que a gente necessita para resolver se há ou não crime de corrupção."
Fernando Segovia, novo diretor-geral da Polícia Federal do Brasil, afilhado político do imortal José Sarney, em explícita MALAndragem.
Segue o enterro..
Helder Caldeira
Escritor, Colunista Político, Palestrante e Conferencista
*Autor dos livros “Águas Turvas” e “A 1ª Presidenta”, entre outras obras.