Advogado acusado de tráfico foi sócio do escritório de Bermudes e Guiomar Mendes
18/12/2017 às 12:01 Ler na área do assinanteO Rio de Janeiro que indubitavelmente vive a pior fase de sua história, invariavelmente é tomado de assalto por novas e cruéis histórias que chocam a sociedade.
Neste domingo (17) uma reportagem do jornal ‘O Globo’ revelou a terrível história de Bernardo Russo, um jovem e promissor advogado, filho de família abastada, preso recentemente, acusado de envolvimento com o tráfico de drogas.
De acordo com a acusação, Bernardo comprava drogas na Rocinha e revendia a amigos da Zona Sul, do Rio de Janeiro, onde nasceu e foi criado, no bairro do Leblon, o metro quadrado mais caro do Brasil. Faturava com o tráfico em torno de R$ 900 mil por mês.
Preso no dia 30 de novembro, o advogado foi solto na semana passada e deve aguardar em liberdade o seu julgamento.
Na investigação a polícia captou conversas comprometedoras do advogado com traficantes.
O Globo na matéria divulgada traça um paralelo entre Bernardo e outros milionários que já se envolveram com o tráfico de drogas. Transcrevemos:
RIO — Nos anos 1990, um rapaz de classe média alta, filho de um alto executivo do Banco Nacional, com todas as chances na vida, foi parar na prisão acusado de tráfico internacional de drogas. De principal fornecedor de cocaína das altas-rodas da sociedade carioca, João Guilherme Estrella passou a operador de uma rede de “mulas” para envio de droga para a Europa. Até ser descoberto pela polícia. Uma história revelada pelo jornalista Guilherme Fiúza no livro “Meu nome não é Johnny”, que virou sucesso no cinema.
Uma década antes, outro abastado morador da Zona Sul ficara famoso ao ser acusado, em 1984, de levar cocaína para a Europa dentro de latas de sardinhas. Seu nome era Lívio Bruni Júnior, filho de um homem que fez fortuna controlando uma rede com mais de 200 salas de cinema no país. Livinho, como era conhecido, cresceu com tudo de bom e de melhor que o dinheiro do pai podia lhe oferecer. Com a prisão decretada, fugiu para o exterior. Em novembro de 1996, foi preso na Espanha em flagrante de estelionato e deportado para o Brasil. Em 1997, foi condenado a 25 anos de prisão.
Uma história semelhante está sendo investigada no Rio e quase passou despercebida em meio às operações policiais de combate ao crime organizado no estado. Como as de Johnny e Lívio Bruni, poderia ganhar roteiro de cinema ou ser contada em livro. No dia 30, Bernardo Russo Menezes Martins Correa foi preso na Zona Sul, acusado de pertencer à quadrilha de tráfico da Rocinha. Ele estaria envolvido, segundo a polícia, com a “maior quadrilha de traficantes que atuava na Zona Sul, na Barra da Tijuca e no Recreio dos Bandeirantes”. A definição foi dada pelos delegados Felipe Curi e Gustavo Castro, da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) da Polícia Civil, que comandaram as investigações.
Grampos telefônicos, de acordo com a polícia, revelaram que Bernardo negociava drogas com traficantes da maior favela do Rio e as repassava a consumidores de classe média alta no asfalto. O “delivery” era responsável, de acordo com a investigação, por mais de 800 entregas por semana.
O que distingue Bernardo Russo de João Guilherme e Livinho, é que o advogado já trilhava uma carreira brilhante. Era um profissional vitorioso, chegou a ser sócio do escritório Sérgio Bermudes, uma das maiores bancas do país, que atualmente conta em seu quadro societário com a ilustre Guiomar Mendes, esposa do não menos ilustre ministro Gilmar Mendes.
Nesse sentido, complementa o jornal O Globo:
‘Com histórico acadêmico exemplar, sempre teve boas notas e destaque nas salas de aulas. Um perfil esperado para quem, afinal, havia frequentado as melhores escolas do Rio. Passou pelo Colégio Santo Inácio no ensino médio, formou-se em Direito na PUC e fez especialização em Direito de Estado na Fundação Getulio Vargas (FGV)."
Preso, Bernardo Russo foi recolhido à Cadeia Pública José Frederico Marques, onde ficou ao lado de boa parte dos políticos que dominaram o cenário do poder nas duas últimas décadas, mas foram parar em Benfica por corrupção.
A defesa do advogado alega que ele é inocente. No inquérito entregue à 21ª Vara Criminal, foi anexado um histórico do que seria o passado ilibado do advogado, filho de um tradicional médico do Leblon.