O Brasil foi infestado pelo vírus da corrupção. Pior que a dengue, a malária ou o ebola, ele se instaura silenciosamente e só causa alarde quando já se transforma numa epidemia.
A principal população atingida é dos políticos, mas todas as autoridades públicas, no três níveis de Poder, estão sujeitas à contaminação e alguns já o foram.
A Presidente seria uma exceção, lutando pessoalmente contra a contaminação, mas acaba sendo leniente e convivente com a epidemia que assola o seu Governo e seu partido. Ela pode até se defender com o seu autismo, de não querer saber, de desconhecer o que se passa a sua volta, mas pressente que o vírus está muito próximo e já contaminou muitos dos mais próximos.
A oposição, enquanto fora do Governo, se põe contra e faz denúncias, mas como também está em governos estaduais ou municipais não pode se considerar inteiramente livre de contaminação. Não há governante, de partido que for, que não esteja sob suspeita.
Não há político atualmente no país que possa ser alçado, com apoio da sociedade, como um líder competente para conduzir uma ampla renovação do país, tornando-o livre da doença da corrupção. Existem nomes como o de Marina Silva, Joaquim Barbosa, que são vistos como tais por alguns, mas não tem consenso. Seriam mais "lobos solitários" do que comandantes de um exército. Não contariam com uma massa crítica para mudar o Brasil e salvá-lo de um grande desastre.
A esperança do Brasil está na emergência dessa nova geração e juízes e promotores, analistas dos tribunais de contas e outros servidores públicos com poder de Estado que ainda são idealistas, acreditam que podem livrar o país do vírus, e poderão subir na carreira sem serem contaminados.
É uma grande oportunidade histórica mas que pode ser mais uma vez perdida. O que garante que eles não serão contaminados? Ou com a sua visão justiceira e higienista não levam a uma ditadura.
A corrupção é um vírus, como tanto outros, que estão incubadas nas pessoas e que podem permanecer latentes, sem nunca se manifestar ou irromper de forma explicita, com sintomas externos ou velada, dependendo das própria defesas, como do ambiente. Ou pode não estar presente, mas as pessoas podem ser contaminadas, se não tiverem mecanismos de autodefesa.
O principal mecanismo de autodefesa é a educação. Educação para entender que corrupção não só é um crime individual, mas que a extensão corroí toda uma sociedade. Enquanto o corrupto for um marginal dentro da sociedade, como é um assassino ele poderá ficar livre ou ser preso e condenado, mantendo o funcionamento normal da sociedade. Porém uma sociedade em que o assassinato se torna a prática mais comum, essa sociedade não sobrevive.
A contaminação individual pode ser facilitada pelo ambiente em que a corrupção passa a ser corriqueira ou aceita como um fato comum ou menor: "se todo mundo faz, porque não posso fazer?".
Por outro lado a contaminação pode ser feita de forma sutil, que começa com os brindes de final de ano. Em todo o mundo é usual que fornecedores agraciem os seus principais clientes com presentes de Natal. É um momento de congraçamento, de desejos de ano melhor, de demonstrar o apreço dando presentes.
Mas nas relações empresariais essa prática acaba sendo a porta de entrada da corrupção e o principal teste de vulnerabilidade do agraciado.
Se ele devolver o presente, por menor que seja, será uma demonstração de imunidade, de autodefesa e "falta de educação". Que será interpretado, em realidade, ou como falsa indignação como uma ofensa: "você acha que estou querendo lhe comprar por tão pouco. É só um presentinho de Natal."
Se ele receber, sem devolver e apenas agradecer, sem qualquer comentário, não dará abertura. Mas se no ano seguinte não receber e reclamar ou reclamar do nível do seu presente, estará dando a abertura para o ingresso do vírus. Embora muitos não percebam está dando o recado: "posso ser "comprado" mas não por tão pouco". Mas o corruptor profissional percebe e sabe que a porta está aberta.
Esse presentinho pode ser uma garrafa de uísque ou de vinho, ou subir para caixa, obras de arte, que parecem ter sido o presente mais comum para os dirigentes da Petrobras ou até um apoio financeiro para trabalhos científicos do Vice-almirante, presidente da Eletronuclear.
No tempo do regime militar uma das principais missões do lobista era identificar pelo que o militar de alto patente "era fraco": um dos mais comuns era mulher. Mas esse envolvia um problema que era a esposa do militar. Não podia ser uma prática comum. O derivado dessa perspectiva era agradar a esposa. Quem melhor teria tido essa percepção foi Paulo Maluf.
A segunda grande opção era cavalo. Sejam as apostas no Jockey Clube, em que resultados eram fraudados para beneficiar as apostas do militar, como os cavalos mesmo e seus apetrechos dos militares da cavalaria.
Outra eram os carteados de mesa em que os militares sempre ganhavam dos civis. Por acaso fornecedores ou empresários dependentes da regulação do Estado.
A ampla contaminação da corporação militar superior foi uma das razões pela qual os generais não contaminados acharam melhor se retirar.
O resultado não foi dos melhores. Com a democratização o vírus se expandiu. Apenas a contaminação se tornou mais simples. A entrada continuou sendo os presentes, mas o grande "ponto fraco" passou a ser só um: dinheiro. Preferencialmente em conta no exterior.
A contaminação pelo vírus da corrupção pode ser favorecida ou reprimida pelo ambiente. Muitas empresas privadas e mesmo Governos limitam o valor do recebimento de presentes, obrigando o seus funcionários a devolverem. Alguns são radicais e obrigam a devolução, qualquer que seja o valor. O Governo brasileiro estabeleceu uma regra, mas não cuida de fazer cumprir.
O ataque do vírus da corrupção pode ocorrer de forma quase imperceptível, mas vai se alastrando silenciosamente. Quando se percebe, pelos sintomas externos ele já se instalou.
Jorge Hori
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Jorge Hori
Articulista