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Ninguém vai mais às ruas...

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Um dia a esquerda foi às ruas. Não era só por 20 centavos, nem era apenas a esquerda. Não sabiam o que pedir, pois afinal a esquerda estava no poder e seguiria lá por mais três anos.

Outro dia, a direita foi às ruas. Não só por causa dos 20% de inflação acumulada em dois anos, nem era apenas a direita. Não encontrou grande objeção, afinal a esquerda no poder não governava de acordo com sua própria base. Era apenas um governo agudamente ruim.

Desde então ninguém mais foi às ruas, que de resto andam perigosas, dominadas por máfias, milícias, empreendedores avulsos e prósperos do crime comum e, eventualmente, por gente queimando pneu por gosto pelo esporte de queimar pneus e atrapalhar a vida dos outros.

Eu, particularmente, queria ver nas ruas gente comum e gente incomum, cada um cuidando de sua vida, de ambições, de afetos e de entretenimentos, eventualmente confiando e cooperando uns com os outros, e a soma desses múltiplos caminhos resultasse num país olhando para frente, porque para trás fica a sensação de uma trajetória errática, focada em clamar a um Estado que, mesmo que deseje, não tem muito a oferecer. Enquanto uns e outros iam às ruas, as corporações (de esquerda, neutras e de direita) exauriam o Estado em benefício próprio, como nossa história errática testemunha.

Foto de Aurélio Schommer

Aurélio Schommer

Membro do Conselho Curador na Fundação Cultural do Estado da Bahia - Funceb e Membro Titular no Conselho Estadual de Cultura da Bahia.

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