Universidades e a opção por teses de “orgias” em detrimento de estudos na área da cultura
16/10/2017 às 09:50 Ler na área do assinanteA UFF aprovou uma tese de doutorado em Antropologia sobre orgias homossexuais, que teve bolsa do CNPq e bancou a participação do autor em quatro ‘festas’ (não vamos usar aqui a palavra ‘suruba’, que este é um espaço de família).
Numa dessas ‘festas’, o pesquisador teve um approach tão científico do seu objeto de estudo que chegaram a ejacular (“inadvertidamente”) no seu rosto.
“Percebo as festas de orgia como locais de intensa e conflituosa produção de subjetividade e construções muito próprias relativas ao princípio da masculinidade e de ser homem; de uma forma particular de socialidade e de estabelecimentos de vínculos interpessoais; e, claro, de pôr em prática experimentações sensoriais e corporais de performances relativas à putaria.”
Então tá.
A dissertação de mestrado desse pesquisador acaba de ser publicada pela mesma universidade, com o título de “Vamos fazer uma sacanagem gostosa?”.
Trabalhos acadêmicos similares (igualmente financiados com recursos públicos) são “Erótica dos signos nos aplicativos de pegação: processos multissemióticos em performances íntimo-espetaculares de si” (UFRJ), “A Zuadinha é tá, tá, tá, tá: representação sobre a sexualidade e o corpo feminino negro” (UFRB), “A pedofilia e suas narrativas: uma genealogia do processo de criminalização da pedofilia no Brasil” (USP), e “Fazer banheirão: as dinâmicas das interações homoeróticas na Estação da Lapa e adjacências” (UFBA).
Começo a entender a recusa do meu projeto de mestrado, sobre memória e esquecimento, em que pretendia discutir em que medida os mecanismos de proteção ao patrimônio de fato atendem aos princípios de preservação da paisagem cultural.
Talvez devesse ter me disposto a problematizar as colunas e seus capitéis como simulacros da sociedade falocrata, a questão de gênero envolvida em “telhado” (o que fica em cima) ser uma palavra masculina e “fundação” (o que fica em baixo) ser feminina, ou a transexualidade latente das pilastras (que são meio pilar, meio parede).
Ou será melhor esperar a tal maré conservadora chegar às universidades, e aí tentar de novo?
Se demorar muito, me inscrevo com algo como “Brita, cimento, areia, água e muito ferro – a bacanal abstrata do concreto” ou “Tijolo com tijolo num desenho lógico – o homoerotismo construtivista chicobuarquiano na ereção das alvenarias”.
Se até um dos sete anões é Mestre, por que eu não posso?
Eduardo Affonso
É arquiteto no Rio de Janeiro.