A TV Globo rejeitou a nova proposta de novela da autora Gloria Perez, intitulada Rosa dos Ventos, apontando problemas graves no enredo, repetições temáticas e abordagens controversas. A emissora considerou a trama "pouco criativa", "com repetição de histórias recentes" e classificou o projeto como "um trabalho ruim", de acordo com pareceres técnicos da área de teledramaturgia.

A recusa da emissora marcou um rompimento com Gloria, que optou por não renovar seu contrato após décadas de parceria com a casa. A autora estreou na Globo em 1979 e estava ligada oficialmente ao canal desde 1990. O veto causou insatisfação, especialmente porque a autora recusou alterar o núcleo central da história — um aborto forçado que servia de ponto de partida para todas as tramas paralelas da novela.

Segundo Gloria, a Globo não rejeitou Rosa dos Ventos por completo, mas exigiu que o aborto fosse retirado do roteiro. Em entrevista ao Estadão, a autora foi direta:

“Tirar o aborto era tirar o macaco do King Kong.”

Para ela, o tema era essencial à estrutura dramática da obra.

No entanto, de acordo com a avaliação interna da emissora, o problema maior era a forma como o aborto seria retratado. O enredo previa que Murilo (Murilo Benício), empresário e marido da protagonista Mabel (Giovanna Antonelli), drogaria sua amante Cibele (Grazi Massafera) para realizar um aborto forçado, a fim de evitar escândalos e proteger a carreira política da esposa. O caso seria tratado como crime, e não como uma discussão sobre o direito da mulher à escolha, o que para os avaliadores soou como um enfoque sensacionalista e reacionário.

A proposta de incluir política no enredo também gerou resistência. A personagem de Giovanna Antonelli seria uma candidata em plena campanha eleitoral — embora, segundo Gloria, a história não explorasse diretamente temas partidários ou polarizações. Ainda assim, por se tratar de um ano eleitoral (2026), a Globo avaliou que o risco de associação política seria inevitável e, portanto, indesejável.

Além desses pontos, pareceres compararam Rosa dos Ventos negativamente a outras novelas recentes que fracassaram em audiência e repercussão, como Travessia e Mania de Você, ambas com histórias centradas em famílias ricas envolvidas em traições e disputas internas.

Outro aspecto criticado foi o uso do Rio Grande do Sul como cenário. Gloria argumentava que a novela seria uma homenagem à cultura gaúcha. Já a emissora avaliou que o povo do estado poderia não reagir bem à representação de um eleitorado manipulado pela protagonista.

Com todos esses fatores combinados — polêmica temática, roteiro reciclado e riscos políticos —, a decisão final partiu de Amauri Soares, diretor-executivo da TV Globo e dos Estúdios Globo, que optou por não levar o projeto adiante. Assim, Rosa dos Ventos foi arquivada e Gloria Perez encerra, ao menos por ora, sua longa trajetória na emissora.

E a Globo segue em derrocada...

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