Os Cavaleiros que dizem “Ni!” e o Grande Teatro de Infantilização do Supremo

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“É saudável rir das coisas mais sinistras da vida, inclusive da morte. O riso é um tônico, um alívio, uma pausa que permite atenuar a dor”. (Charlie Chaplin).

Os Ministros do Supremo Tribunal Federal agora estão numa grande missão, uma espécie de incumbência ordenada pelo “além”: estão determinados a infantilização dos homens que habitam a Terra dos Papagaios.

No filme “Monty Python em Busca do Cálice Sagrado”, aparecem os Cavaleiros que dizem “Ni!”. Eles são guardiões das palavras sagradas: “Ni!”, “Peng” e “Neee-Wom”. Dessas palavras, uma é mais poderosa, mais respeitada e amedronta a todos que se aproximam: “Ni!”

Quem comanda os Cavaleiros que Dizem “Ni!” é um ser divino, um cavaleiro de 12 metros de altura com braços desproporcionalmente curtos e chifres de rena inseridos em seu capacete. Os outros cavaleiros são de proporções humanas normais e agem como um coro, apenas repetindo as palavras e frases que o cavaleiro principal fala.

No filme-teatro-ao-vivo, que estreou nesta terça no Brasil, intitulado “A Condenação Antecipada de Jair Bolsonaro”, e foi retransmitido pela Internet, pela Tv Justiça, GloboNews, Jovem Pan, BandNews, o roteirista parece ter copiado as cenas do filme de Monty Python. 

Aqui os protagonistas estão fantasiados com capas pretas e também afirmam que são guardiões das palavras sagradas: “Democracia”, “Justiça”, “Urnas Eletrônicas”. Eles afirmam que são justos, são probos e são cheios de idoneidade moral. Dessas palavras, assim como no filme de Monty Python, a mais importante, a mais influente, a que causa maior medo é: “Democracia!”

Quem comanda a tropa de cavaleiros do STF é um ser da cabeça pelada, reluzente, ele acredita que tem mais de 12 metros de altura, que é maior que os outros homens porque não acredita em espelhos, e possui braços que alcançam a todos. Os outros cavaleiros também não se olham nos espelhos que possuem em suas casas, são de proporções humanas normais, com exceção dos rostos de aparência cínica, agem servilmente, numa uma espécie de coro, apenas reproduzindo as palavras e frases que o cavaleiro principal proclama.

Na comédia de Monty Python, “Os Cavaleiros que dizem Ni” são também guardiões da floresta, aterrorizam qualquer um que deseje passar por ali e quem ousa enfrenta-los terá que fazer um sacrifício.  Afirmam que por serem os guardiões das palavras sagradas: “Ni!”, “Peng” e “Neee-Won”, todos os que quiserem atravessa-la terão que fazer uma oferenda.

O Rei Arthur e seus cavaleiros que estão em busca do “Cálice Sagrado”, ao se depararem com os “Cavaleiros que dizem “Ni” são impedidos de continuar. Arthur afirma que deseja apenas atravessar a floresta.

Os guardiões exigem um sacrifício e começam a gritar “Ni!”, “Ni!,”Ni!”.

O grupo recua temeroso. Satisfeitos com  o poder que demonstraram, os cavaleiros ordenam que Arthur lhes traga um  arbusto; caso contrário, nunca passarão vivos pela floresta. Arthur diz que quer apenas passar, mas os cavaleiros novamente gritam "Ni!". Os viajantes então concordam com o pedido. O cavaleiro de 12 metros explicita que o arbusto deve ser -  "Aquele que pareça bonito. E não muito caro".

Na comédia ao vivo em que os “astros do STF” afirmam que é um julgamento, que começou nesta terça/quarta no Brasil, intitulado “A Condenação Antecipada de Jair Bolsonaro”, os guardiões do STF gritam aos quatro ventos que são justos, são probos e são cheios de idoneidade moral.

Mas a verdade é outra. Vejamos qual é:

1) Todos eles são inimigos declarados de Bolsonaro. O Chefe maior, Barroso, já deu declarações a imprensa afirmando:

- “Nós derrotamos o Bolsonarismo!”. Já derrotaram e agora vão julgá-lo?  Nenhum juiz pode antecipar sentenças e se assim o fizer estará impedido de fazer qualquer julgamento. E por que não se julgam impedidos?

2) Moraes, o homem da cabeça reluzente que imagina medir 12 metros, é vítima, investigado, investigador, acusador e sentenciador. Essa é a justiça?
3) Esses advogados, todos de tendência socialista, defensores do atual presidente-condenado-descondenado, foram nomeados supremos e hoje julgam a todos e querem que todos andem conforme sua régua. Não como manda a Constituição do país, mas como eles a interpretam.
4) Segundo o último levantamento do site Poder360, os Ministros que falam “Democracia”! na Terra dos Papagaios possuem um total de 60 pedidos de Impeachment no Senado da República:
- “Com o novo pedido de impeachment apresentado em 9 de setembro, o cerco contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes se intensificou. Já são 24 pedidos. O último, assinado por 152 deputados, já tem a adesão de 36 senadores. Faltam apenas 5 votos para a Casa Alta constituir maioria simples e abrir o processo de cassação do magistrado”.
- Alexandre de Moraes - 24 pedidos de Impeachment.
- Luis Roberto Barroso - 17 pedidos de Impeachment.
- Gilmar Mendes - 06 pedidos de Impeachment.
- Carmém Lúcia - 04 pedidos de Impeachment.
- Dias Toffoli - 03 pedidos de Impeachment.
- Edson Fachin - 02 pedidos de Impeachment.
- Luiz Fux - 02 pedidos de Impeachment.
- Flávio Dino - 01 pedido de Impeachment.
- Nunes Marques - 01 pedido de Impeachment.

Ora, se existem pedidos de Impeachment é porque são acusados de crimes, não desmandos, como a imprensa amiga que passa o pano para os ministros afirma.

Crimes, senhores! Crimes! E por que não são afastados e julgados? 81 Senadores são responsáveis por essa situação! Por que a maioria não se manifesta? Por que a imprensa não pede a cabeça dos Ministros todos os dias, assim como pede a cabeça de Jair Bolsonaro e dos bolsonaristas?

Por outro lado, se esses Ministros fossem justos, probos e cheios de idoneidade moral, se afastariam dos cargos. Seriam os primeiros a dizer:

- Não, a Suprema Corte não pode ter elementos acusados de crimes, corrupção, pedidos de Impeachment. Isso quebra a confiança da população. Enxovalha a corte. Diminui a nação. 

Se são inocentes, mas são acusados de crimes contra a nação, então afastem-se dos cargos e enfrentem o julgamento de Impeachment e provem suas inocências. Não é isso que eles exigem de todos? Provem suas inocências!

E por que não fazem isso se acreditam que são inocentes, se são justos, se são probos e possuem idoneidade moral?

Na comédia de Monty Python, Os Cavaleiros que dizem “Ni!” exigem que o Rei Arthur traga a eles outro canteiro de arbustos, e faça arranjos para que um canteiro fique mais alto do que o outro. Com pequenos detalhes: “uma passagem no meio... cortarão a árvore mais alta da floresta com um... arenque!”. Arthur recusa, afirmando que a tarefa não poderia ser realizada. Os cavaleiros suplicam ironicamente: - "Oh, por favor!?"

Então os guardadores das “palavras sagradas” mudaram as palavras e agora as novas palavras defendidas são:

- "Ekke Ekke Ekke Ekke. Ptang Zoo Boing. Zoow Ziiiing"!

O Rei Arthur acha muito difícil pronunciar essas palavras e a partir daí se refere a eles como "Os cavaleiros que até recentemente diziam Ni!"

Percebam que desde a condenação de Lula a 12 anos de cadeia, passando por todas as instancias da justiça e Lula sendo condenado em todas elas, os Cavaleiros do STF defendiam outras palavras. Mas, assim como os Cavaleiros que dizem “Ni!”, eles também pediram um segundo arbusto, cheio de detalhes e que a árvore mais alta da floresta fosse cortada  com um peixe (arenque), coisa impossível de se fazer. Então, subitamente, mudaram seu entendimento: os que roubaram eram todos inocentes!

Encantados com os detalhes do “segundo arbusto” (o leitor inteligente, certamente, compreende a metáfora do “segundo arbusto”) passaram a falar outras palavras, a defender outros conceitos e a perseguir todos aqueles que se manifestam, que exigem a livre expressão, que criticam as urnas eletrônicas e acusam o STF de não “produzir um ato de justiça, tal como se entende a ideia de justiça nas sociedades civilizadas”. Disse Guzzo:

- “O STF está impondo ao Brasil, com o apoio fechado de um governo que se tornou seu sócio, uma situação contrária à natureza das coisas...  Criou-se no Brasil a prodigiosa ficção de que houve uma “tentativa de golpe armado” para derrubar o governo Lula, e de que há “provas robustas” de que o responsável foi Bolsonaro. O problema fatal nesse enredo é que jamais houve golpe algum, e por via de consequência também não há prova alguma, e muito menos “robusta”. O que há é um condenado antes do julgamento - e uma encenação a ser executada, como nos processos mais clássicos das ditaduras”. (Estadão - “Julgamento de Bolsonaro no STF é ação política e tribunal deixa de produzir atos de justiça” - J.R. Guzzo).

Invenção, ficção, historias da carochinha contadas para crianças que somos nós. O STF age com se a população da Terra dos Papagaios tivesse sofrido uma grande amnésia nestes últimos cinco anos.

A comédia de Monthy Python semeia riso e nos faz pensar sobre os absurdos que existem no mundo. A comédia do STF semeia ódio e nos faz chorar de raiva porque busca nos infantilizar e nos induz a aprender as novas “palavras sagradas” inventadas por eles:- "Ekke Ekke Ekke Ekke. Ptang Zoo Boing. Zoow Ziiiing”!

Assim como o Rei Arthur recusou repeti-las, nós também rejeitamos a repetição e nos referimos a eles apenas como "Os cavaleiros que até recentemente diziam Ni!"

Bom final de semana a todos.

Foto de Carlos Sampaio

Carlos Sampaio

Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)