
Moraes retira o sigilo da comovente carta escrita por Débora Rodrigues
26/03/2025 às 18:11 Ler na área do assinante
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu nesta quarta-feira (26) tornar pública uma carta escrita por Débora Rodrigues dos Santos, de 39 anos, que se encontra presa preventivamente desde março de 2023.
A cabeleireira foi denunciada pela Procuradoria-Geral da República após ter escrito com batom, na estátua A Justiça em frente ao STF, a frase “perdeu, mané”, durante os atos de 8 de janeiro daquele ano — uma alusão direta à expressão proferida por Roberto Barroso, também ministro da Corte.
Débora é julgada pela Primeira Turma do STF, que já conta com dois votos favoráveis à sua condenação a 14 anos de prisão, proferidos por Moraes e pelo ministro Flávio Dino. A análise do caso está suspensa após o pedido de vista feito por Luiz Fux.
Eis a comovente carta escrita por Débora:
"Excelentíssimo Ministro Dr. Alexandre de Moraes, que esta o encontre com saúde e paz.
Me chamo Débora e venho através desta carta me comunicar amistosamente com vossa Excelência. Não sei ao certo como dirigir as palavras a alguém de cargo tão importante, portanto peço que o Dr. desconsidere eventuais erros.
Sou uma mulher cristã, tenho 39 anos, trabalho desde os meus 14 anos de idade, sou esposa do Nilton e temos dois filhos, o Caio (10 anos) e o Rafael (8 anos) que são meu coração batendo fora do peito.
Excelência, para não tomar muito o seu tempo, vou direto ao ponto.
Sou uma cidadã comum e simples e sempre mantive minha conduta inabalada, jamais compactuei com atitudes violentas ou ilícitas.
Fui a Brasília, pois acreditava que aconteceria uma manifestação pacífica e sem transtornos, porém, aos poucos fui percebendo que o movimento foi ficando acalorado. Devo deixar claro que em momento algum eu adentrei em quaisquer Casas dos poderes, fiquei somente na Praça dos 3 Poderes, encantada com as construções tão gigantescas e bem arquitetadas. Sinceramente, fiquei muito chateada com o “quebra quebra” nas instituições.
Repudio o vandalismo, contudo eu estava ali porque eu queria ser ouvida, queria maiores explicações sobre o resultado das eleições tão conturbadas de 2022.
Por isso, no calor do momento cheguei a cometer aquele ato tão desprezível (pichar a estátua).
Posso assegurar que não foi nada premeditado, foi no calor do momento e sem raciocinar.
Quando eu estava próxima à estátua, um homem pelo qual eu jamais vi, começou a escrever a frase e pediu para que eu a terminasse, pois sua letra era ilegível. Talvez tenha me faltado malícia para rejeitar o “convite”, o que não justifica minha atitude, me arrependo deste ato amargamente, pois causou separação entre eu e meus filhinhos.
Nesse período de um ano e sete meses [na época da carta] de reclusão eu perdi muito mais do que a minha liberdade, perdi a chance de ajudar o Rafinha na alfabetização, não o vi fazer a troca dos dentinhos de leite, perdi dois anos letivos dos meus filhos e momentos que nunca mais voltarão.
Meus filhos estão sofrendo muito, choram todos os dias por minha ausência, passam por psicólogos afim de ajudá-los a organizar os sentimentos dessa situação. Um castigo e uma culpa que vou lamentar enquanto eu viver.
Excelentíssimo Ministro Dr. Alexandre de Moraes, meu conhecimento em política é raso ou nenhum, não sabia da importância daquela estátua, nem que ela representa a instituição do STF, tampouco sabia que seu valor é de dois milhões de reais. Se eu soubesse, jamais teria a audácia de sequer encostar nela, minha intenção não era ferir o Estado Democrático de Direito, pois sei que o mesmo consiste na base de uma nação.
Portanto, venho pedir perdão por este ato que até hoje me causa vergonha e consequências irreparáveis.
Sei que não deveria, mas hoje tenho aversão à política, e quero ficar o mais distante possível disso tudo.
Entendi que quando somos tomados pelo entusiasmo e a cólera podemos praticar atitudes que não contribuem em nada. O que eu fiz não me representa e nem transmite a mensagem que eu sonhei em tecer para os meus filhos.
O que mais almejo é ter minha vida pacata e simples de volta e ao lado da minha família.
Termino essa carta na esperança de que essa demonstração sincera do meu arrependimento possa ser levada em consideração por vossa Excelência.
Deus o abençoe!"
Débora Rodrigues dos Santos.
A frase “Perdeu, mané”, utilizada no ato, remete a uma declaração do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, que em novembro de 2022 foi gravado em Nova York respondendo a um manifestante com essa expressão.
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