
A história do único brasileiro que está em vantagem no embate contra Moraes
23/03/2025 às 14:14 Ler na área do assinante
Uma reportagem publicada pelo site Poder 360 faz um histórico sobre os embates envolvendo o jornalista Allan dos Santos e o ministro Alexandre de Moraes.
O jornalista teve que deixar o Brasil para não ser preso. Morando nos Estados Unidos desde 2020, Allan vem sofrendo uma intensa perseguição por parte do magistrado brasileiro.
Bom de briga, Allan perdeu muita coisa, mas talvez seja o único cidadão no mundo que está em vantagem no embate contra Moraes.
Transcrevemos a matéria:
A Interpol, organização policial internacional, e o Departamento de Estado dos Estados Unidos consideram insuficientes as evidências apresentadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, contra o jornalista Allan dos Santos, de 41 anos. Por conta disso, o pedido de extradição não foi acatado, nem houve a inclusão do nome de Santos na lista de foragidos internacionais.
Investigado em inquéritos conduzidos por Moraes no Brasil, Allan dos Santos mudou-se para os EUA em meados de 2020. Em outubro de 2021, pouco mais de um ano depois, o ministro do STF determinou sua prisão preventiva e iniciou um processo para sua extradição. Ele é acusado de lavagem de dinheiro, associação criminosa e incentivo a crimes de calúnia e difamação, supostamente com o objetivo de desestabilizar a democracia brasileira. Santos nega as acusações e alega ser vítima de censura.
O jornalista é apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por envolvimento em um suposto plano de golpe de Estado após a derrota eleitoral em 2022.
FUNCIONAMENTO DO ALERTA VERMELHO DA INTERPOL
A Interpol não realiza investigações ou prisões de forma autônoma, cabendo essa responsabilidade às forças policiais dos países-membros. O Brasil pode requisitar a emissão de um alerta vermelho (“red notice”), que informa às autoridades globais que um indivíduo está sendo procurado. No entanto, para que o pedido seja aceito, ele deve ser devidamente fundamentado.
No caso de Allan dos Santos, o governo brasileiro solicitou a inclusão de seu nome na lista de alerta vermelho, mas a Interpol recusou o pedido. Vale destacar que, mesmo que a organização aceitasse a solicitação, não teria o poder de obrigar um país a prender alguém, cabendo a cada nação decidir se coopera ou não.
Se um brasileiro procurado estiver nos EUA, o Departamento de Estado norte-americano pode ser envolvido no processo, desde que haja um pedido de extradição oficial do Brasil. No entanto, a decisão final sobre a extradição é normalmente tomada pelo sistema judiciário dos EUA.
DÚVIDAS LEVANTADAS PELA INTERPOL
Ao determinar a prisão preventiva de Allan dos Santos, o ministro Alexandre de Moraes solicitou à Interpol sua inclusão na lista vermelha, o que possibilitaria um alerta global para localização e possível detenção do jornalista. Entretanto, a organização não atendeu ao pedido.
Em novembro de 2022, juízes próximos a Moraes especularam, em mensagens vazadas e divulgadas pela Folha de S.Paulo, sobre o motivo da recusa da Interpol. Um dos magistrados, Airton Vieira, mencionou que a entidade sugeriu a existência de um possível viés político na solicitação.
A Interpol chegou a pedir informações adicionais sobre as acusações de lavagem de dinheiro contra Santos em pelo menos duas ocasiões: dezembro de 2021 e julho de 2022. Segundo e-mails divulgados, Moraes teria informado que não poderia fornecer mais detalhes.
Em 15 de dezembro de 2022, a Interpol comunicou que não incluiu o jornalista na lista vermelha devido à falta de esclarecimentos sobre os supostos crimes. Apesar disso, seu nome foi registrado no sistema da organização para consulta interna pelas forças de segurança.
O advogado de Allan dos Santos, Renor Oliver, afirmou que a divulgação do nome do jornalista no sistema da Interpol teve o objetivo de “constranger o investigado”. Em resposta, a defesa entrou com um pedido de revisão junto à Comissão de Controle dos Arquivos (CCF) da Interpol, que, em outubro de 2024, confirmou que Santos não consta na lista vermelha.
POSICIONAMENTO DOS EUA
O STF também encaminhou um pedido de extradição de Allan dos Santos ao Departamento de Estado norte-americano. Alguns dos crimes atribuídos ao jornalista fazem parte do Tratado de Extradição vigente entre Brasil e EUA.
Contudo, assim como a Interpol, o governo dos EUA considerou as provas insuficientes. Em resposta enviada ao STF em 17 de fevereiro de 2023, o Departamento de Estado solicitou mais informações antes de avançar com o processo.
O órgão norte-americano declarou que poderia atender parcialmente ao pedido de extradição, desde que fossem esclarecidas as suspeitas relacionadas a “organização criminosa” e “lavagem de dinheiro”. O Departamento de Estado pediu ao STF:
Detalhamento das ações de Santos para ocultar ou dissimular recursos de origem ilícita;
Explicação sobre a natureza do crime e o conhecimento do jornalista sobre a procedência ilegal dos bens;
Evidências concretas de sua participação em atividades criminosas;
Definição legal de “organização criminosa” e como Allan dos Santos se enquadra nesse conceito.
SITUAÇÃO DE ALLAN DOS SANTOS
Allan dos Santos, fundador do extinto site Terça Livre, é considerado foragido da Justiça brasileira, embora não tenha sido denunciado pelo Ministério Público nos inquéritos em andamento no STF, como os das fake news e das milícias digitais.
O jornalista tem criticado abertamente os ministros da Suprema Corte. Após o YouTube derrubar seu canal, ele criou novas contas em diferentes redes sociais, que também foram removidas por determinação do STF.
A defesa de Santos afirma que ele continua nos EUA legalmente e prefere não divulgar detalhes sobre seu visto por questões de segurança. Em outubro de 2024, o jornalista revelou que estava trabalhando como motorista de aplicativo no país. Atualmente, ele participa da publicação digital Revista Timeline, ao lado de Luís Ernesto Lacombe e Max Cardoso. Em janeiro de 2025, Alexandre de Moraes determinou a remoção dos perfis da revista das redes sociais, sem explicar os motivos.
CONFLITO COM O RUMBLE
Após ser banido de diversas plataformas, Allan dos Santos passou a utilizar o Rumble, onde continuou publicando e monetizando conteúdos.
Em fevereiro de 2025, Moraes ordenou que o Rumble bloqueasse a conta do jornalista. O CEO da plataforma, Chris Pavlovski, se recusou a cumprir a decisão, chamando-a de “ilegal”. Como resposta, o ministro determinou a suspensão do Rumble no Brasil e impôs uma multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento.
A empresa e a Trump Media & Technology Group acionaram a Justiça dos EUA, alegando que a ordem violava a Primeira Emenda da Constituição Americana, que protege a liberdade de expressão. Em 25 de fevereiro, a Justiça dos EUA decidiu que o Rumble não precisaria atender às ordens do ministro brasileiro, por entender que elas não tinham validade no país.
Após 14 meses de bloqueio no Brasil, o Rumble retomou suas operações em 8 de fevereiro de 2025, mas foi novamente suspenso em 21 de fevereiro. Em 15 de março de 2025, o STF referendou a decisão de Moraes para manter a plataforma fora do ar.
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