A Neta, fabricante chinesa de veículos elétricos, continua enfrentando uma grave crise financeira, cujos efeitos são cada vez mais visíveis. A situação, que já se arrasta desde o ano passado, se agravou nos últimos meses, levando a empresa a adotar medidas drásticas que impactam diretamente sua estrutura. Entre as ações mais notáveis estão os cortes profundos em seu centro de pesquisa e desenvolvimento, setor responsável pela criação de novos veículos e tecnologias.

Somente na última semana, cerca de 200 funcionários foram demitidos, e outros 1.500 poderão perder seus empregos nos próximos dias, com a empresa oferecendo pacotes de indenização para quem aceitar a rescisão. Para os colaboradores que permanecerem, estima-se uma redução salarial de até 75%.

Em meio a essa turbulência, a Neta acumula uma dívida de aproximadamente US$ 1,4 bilhão (cerca de R$ 8 bilhões) com fornecedores, que têm cobrado a empresa de forma incisiva. Relatos indicam que credores estão realizando reuniões no saguão da sede da empresa, em Xangai, para exigir o pagamento imediato das dívidas. A companhia está atualmente negociando uma solução com um fundo soberano estrangeiro, o que inclui a aprovação de um financiamento emergencial.

No aspecto comercial, os números são alarmantes. As vendas da Neta na China caíram drasticamente, com uma redução de 98% em janeiro em comparação ao mesmo período de 2024. Em fevereiro, a empresa vendeu cerca de 400 unidades, um número ínfimo comparado às 18.000 unidades mensais que alcançou em 2022, seu pico de vendas.

No Brasil, a Neta mantém seus planos de produção com modelos como o Aya e o X, que serão fabricados em regime CKD (kits completamente desmontados). A empresa destaca que a fábrica a ser instalada no país não só atenderá o mercado brasileiro, mas também outros países do Mercosul. A loja inaugurada no Rio de Janeiro, em janeiro, já oferece modelos à pronta-entrega, e os clientes podem realizar pedidos personalizados, com entrega prevista em até sete dias.

De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), a Neta emplacou apenas 27 unidades em janeiro e fevereiro, números bem abaixo das expectativas do Grupo Genial, responsável pela concessionária carioca, que esperava vender 40 unidades mensais. A empresa também planejava abrir uma nova loja em Niterói, mas os números não têm sido favoráveis.

Em resposta, a Neta reafirmou seu compromisso com o Brasil e a importância de sua operação no país. A companhia destaca que, apesar da crise, seus planos para o mercado brasileiro permanecem inalterados. A fábrica que será instalada no Brasil seguirá o modelo CKD, compartilhando capacidade com outras montadoras locais, e gerará centenas de empregos diretos. Além disso, a empresa prevê a produção local dos modelos AYA e X, com investimentos na localização de seus produtos para garantir qualidade e competitividade no mercado.

A Neta conta com fábricas fora da China na Tailândia, Indonésia e Malásia.

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