O autoextermínio de um jornalista: quando um profissional se alinha a um juiz… (veja os vídeos)

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O jornalista Eduardo Costa, atuante há décadas no rádio e televisão em Minas Gerais, outrora (da minha parte pelo menos) dono de respeito por boa parte da audiência e dos profissionais do ramo, cravou um punhal no próprio peito.

A despeito de suas críticas ácidas contra o STF e alguns de seus ministros, sempre coberto de razão, como por exemplo, o Dias Toffoli no caso Lava Jato, Costa é conhecido por seu viés esquerdista entre o público (vira e mexe, tropeça quando se trata de ideologia). Por mais razões que tenha para tecer seus comentários, refiro-me às questões políticas, o jornalista sempre deixa escapar seu espírito vingativo e incoerente com a profissão, contra a direita conservadora. Com isso, acaba se contradizendo muitas vezes. 

Durante esta semana, caiu nas redes sociais um trecho de sua participação no programa Conversa de Redação da Rádio Itatiaia no dia 6 de março. Neste trecho, é claro que, na opinião dele, o julgamento tem que ser sumário, ou seja, a sentença já está definida; Bolsonaro e os outros 33 réus têm que ser presos imediatamente. Está dando o que falar, e como é peculiar a esquerdistas agirem, a tchurma procurou um culpado pela divulgação do vídeo, e caíram de pau pra cima da comentarista Rita Mundim. Aquela conversinha modorrenta de que foi tirado de contexto, que isso e aquilo, então, divulgo abaixo a íntegra do debate no programa. Tirem suas conclusões.

Em outras palavras, no comentário de Eduardo Costa, Bolsonaro foi o comandante do “golpe”, e não passa na cabeça dele, que caso se comprove algum movimento de alguns personagens que estavam no entorno do então presidente, de haver discussão e debate de uma questão legal e constitucional que seria uso do artigo 142, por exemplo, isso não significa “trama de golpe”. Que, aliás, é prerrogativa dos chefes dos três poderes da república - Executivo, Legislativo e Judiciário. 

Isso para início de conversa, pois, na cabeça dele, a trama é de GOLPE institucional puro. Da mesma forma, o caro jornalista sequer justifica, dentre vários outros fatores, como pode ser dado golpe sem armas, sem tanques nas ruas? Como Bolsonaro pode liderar aquela multidão que estava em Brasília naquele fatídico dia 8 de janeiro, estando ele nos Estados Unidos? Como Eduardo Costa pode entender como “rito legal”, “prazo regimental”, ignorando todos os atropelos constitucionais que o judiciário vem cometendo, especialmente o ministro Alexandre de Moraes? Como não leva em consideração a opinião de vários juristas renomados que condenam o parecer do Procurador da República, Paulo Gonet, que acatado pela 1ª Turma para julgar tal parecer, e transformar 34 acusados em réus? E por falar em 1ª Turma, porque as vítimas do 8 de janeiro são julgadas pelo pleno do STF e, neste mesmo caso, insistem em julgar apenas neste apêndice do colegiado? Essa vista grossa que o Eduardo faz tem nome: jornalismo militante e oportunista.

Único momento lúcido do repórter, foi quando disse que não é jurista, o que ficou claro na sua análise incompetente, mas, no entanto, numa retórica incomum, fala como tal.  E dizer que não é jurista não é mérito nenhum, pois pode servir apenas como uma reserva conceitual dele para se desculpar, lá na frente, quando tudo isso for colocado em pratos limpos. 

A contradição maior do comentário do jornalista reside em um fato importante. Segundo ele, vai morrer sem entender o que fizeram com a Lava Jato, como o Lula saiu candidato (e “ganhou” a eleição) e como todos os condenados estão livres (mas todos sabemos os porquês disso, inclusive, ele). Vamos lembrá-lo, que tudo isso, desse monstrengo jurídico, é originado no mesmo palco da veemente crítica dele; o STF, e praticamente com os mesmos protagonistas. Se isso não lhe diz nada…

No dia 26 de fevereiro, na mesma Rádio Itatiaia, Eduardo Costa disse que os comandantes da Aeronáutica e do Exército teriam dito que foram procurados para dar o golpe. Isso é coisa da cabeça dele e por sua conveniência ideológica… os generais podem ter dito realmente que foram procurados a título de consulta (constitucional, por sinal) para aplicação de alguma medida, também constitucional, como o artigo 142 já citado aqui. É muito diferente de dizer que foram procurados para dar um golpe.

Pelo visto, o Eduardo tem razão ao dizer que Deus lhe deu pouca inteligência. Deduzo isso não porque ele não entende e não sabe da realidade, fazendo essa acusação patética sobre os generais, e sim, por achar que todo mundo vai engolir essa conversa mole dele, fazendo pouco caso da nossa inteligência. E ele jura que quer um Brasil melhor…

Observem que eu não faço, em nenhum momento, alusão às defesas públicas dos acusados, mesmo porque, acho desnecessário, pois as acusações da PGR são desconexas e inventivas por si só (e não são baseadas apenas em um “inquérito gigantesco da Polícia Federal”, mas muito mais em cima de uma inválida delação premiada do coronel Mauro Cid), e natimortas

Leia a transcrição da fala do Eduardo Costa em um dos vídeos, e assista seus comentários nos dois vídeos citados, e faça seu próprio juízo:

“Todo mundo sabe que eu sou um repórter. Jornalista é aquele ser que fala sobre tudo sem saber de nada…, na profundidade. A gente, né…, eu não sou jurista, eu não acompanho o processo. Agora, o que eu vejo como contribuinte, que paga a conta, da mesma forma que eu vou morrer sem entender como jogaram na lata de lixo a Lava Jato, como o Lula voltou a ser presidente, como os Odebrecht estão soltos, o Palocci está solto, eu vou morrer sem entender… para mim estava tudo certo naquela apuração. Da mesma forma, - referindo-se ao GOLPE e ao Bolsonaro, o processo está seguindo o rito legal, o prazo é regimental, está tudo dentro dos conformes, e essa gente poderosa, o presidente Bolsonaro, os generis de 4, 3, 2 estrelas, essa gente tem que ir pra cadeia, porque o que aconteceu é muito grave. E tem inocentes úteis, idiotas úteis, que estão pegando 17 anos de cadeia só porque estava lá na praça. Agora quem arquitetou, quem pensou, quem previu, que achou que podia derrubar um presidente eleito, tem que ir pra cadeia. Eu estou esperando essa hora! E quanto… quanto mais rápido melhor. E se me disserem que a intenção é tirar o Bolsonaro do pleito do ano que vem, e eu respeito quem não concorda com isso, mas eu acho que tem que tirar mesmo, uai… comanda um golpe de estado e vai ser candidato… e como o Lula não podia ter sido. Não tem nada, pra mim, nessa história.”   

E continua o jornalista, após uma intervenção dos comentaristas William Travassos e Rita Mundim, onde ambos entendem haver ruídos no tal processo que corre no STF a respeito da “trama de golpe” e do 8 de janeiro - levantando a lebre sobre a ideia do julgamento como já definido e sobre a legalidade do processo dos vitimados do 8 de janeiro;

“Eu acho que foi completa, eu discordo do rito do julgamento daqueles outros, que houve julgamento digital, a distância, sem a defesa.. sem dar a defesa… sem dar aos acusados uma defesa oral, presencial… nesse processo que corre agora, com a procuradoria acompanhando tudo, o que eu estou achando é que está legal, e eu estava esperando por isso. Eu sempre cobrei aqui, gente, que os cabeças do 8 de janeiro fossem punidos. Estou começando a ficar feliz com o Supremo.”
Foto de Alexandre Siqueira

Alexandre Siqueira

Jornalista independente - Colunista Jornal da Cidade Online - Autor dos livros Perdeu, Mané! e Jornalismo: a um passo do abismo..., da série Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Visite:
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