Crescendo como rabo de cavalo

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“Nada é mais difícil e cansativo do que tentar demonstrar o óbvio”. (Nelson Rodrigues).

No livro “Raízes do Brasil” de Sergio Buarque de Holanda, um dos clássicos da historiografia e das ciências sociais do Brasil, o autor nos diz que existe uma incompetência secular que o povo da Terra dos Papagaios tem em separar a vida pública da vida privada. Os agentes públicos que ascendem aos altos cargos, principalmente os que ostentam diplomas das profissões liberais e os que não ostentam, mas fingem possui-los, rapidamente passam a tratar a coisa pública como se fosse sua, de sua família e de seus amigos. Esse hábito, herdado dos portugueses, instalou-se no Brasil como uma praga e persiste até os dias de hoje:

- “Em quase todas as épocas da história portuguesa uma carta de bacharel valeu quase tanto como uma carta de recomendação nas pretensões a altos cargos públicos. No século XVII, a crer no que afiança (o livro) a “Arte de furtar”, mais de cem estudantes conseguiam colar grau na Universidade de Coimbra todos os anos, a fim de obterem empregos públicos, sem nunca terem estado em Coimbra”. (Raízes do Brasil, pag. 157).

Essa praga, não separar o público do privado em todos os níveis, instalou-se no Brasil e aqui ficou. Tornou-se regra. O solo que devia receber os benefícios da democracia tornou-se lodoso. O “homem cordial” da terra brasilis adquiriu o hábito do “coitadismo” e a cultura e a educação que deviam ser a base da democracia foi fraudada desde o primário até a Universidade.

Sem educação e sem um mínimo de cultura, não há como entender o jogo democrático, os valores, as regras de que todos são iguais perante a lei. A sociedade desigual tornou-se norma. A regra instalada foi a de que “todos são iguais perante a lei, porém, alguns são mais iguais”.

Vejam as declarações do semianalfabeto presidente do Brasil, sua arrogância e a certeza de que o que é público pertence àqueles que estão investidos em cargos públicos, isto é, a ele e seus amigos, em pronunciamento que fez em rede nacional de rádio e televisão em 24/02/2025:

 - “Meus amigos e minhas amigas,
Venho aqui para falar de dois assuntos muito importantes.
Uma dupla que não é sertaneja, mas que está mexendo com o Brasil: o Pé-de-Meia e o novo Farmácia Popular.
É para os jovens brasileiros que trago a primeira boa notícia.
O pagamento da poupança de R$ 1 mil do programa Pé-de-Meia entra amanhã na conta e rendendo.
Tem direito ao valor quem passou de ano.
Mas quem concluiu o ensino médio já pode sacar a partir desta terça-feira.
E olha que legal: mais de 90% dos jovens que estão no programa passaram de ano.
Essa ação extraordinária está ajudando mais de 4 milhões de jovens a permanecerem na escola, melhorando a qualidade do ensino e aumentando a renda da família.
Todo mês, o aluno que comparece às aulas recebe R$ 200.
Se fizer o Enem, ganha mais R$ 200, também, num valor total que pode chegar a R$ 9,2 mil.
E a gente também criou o Pé-de-Meia Licenciatura, um estímulo para quem se formou no ensino médio e teve boa nota no Enem, seguir a carreira de professor.
A segunda notícia que quero compartilhar com vocês é a gratuidade de 100% dos remédios do Farmácia Popular.
Agora, todos os 41 medicamentos do programa serão de graça.
Quem tem doenças como diabetes, hipertensão ou asma, vai poder tirar a sua medicação numa farmácia conveniada apenas apresentando a receita médica e o seu documento de identidade.
Além dos remédios, a Farmácia Popular trouxe outra novidade: a oferta de fraldas geriátricas.
Tudo de graça.
Depois de dois anos de reconstrução de um país que estava destruído, estamos trabalhando muito pra trazer prosperidade para todo o Brasil, principalmente para quem mais precisa.
Seguimos ao lado de cada brasileiro e de cada brasileira: pra levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”.

Algumas considerações sobre o que disse o condenado/descondenado:

1) Jair Bolsonaro entregou o país com todas as Empresas Estatais saneadas e dando lucro. Hoje todas estão dando prejuízo. Lula, na maior cara-de-pau, afirma que o país estava destruído.
2) O pé-de-meia distribui dinheiro aos estudantes. Era só o que faltava. Raciocine: Quem paga a escola pública? A merenda, os livros, os professores, os vigias, os pedagogos, os prédios das escolas, a energia, água consumida? Quem? Você, através dos impostos. Parece que é de graça. Mas você paga. E o “çábio” presidente brasileiro, além da escola “gratuita” agora está “pagando” para que os estudantes estudem! Isto é, os pais pagam a escola pública e agora estão pagando para que os filhos estudem na mesma escola que eles pagam!
3) Os dois remédios foram acrescentados a uma lista que já existe. Não tem nada de “Nova Farmácia Popular”. Não tem nada de extraordinário. Não tem nada de gratuidade de 100% dos medicamentos do programa, além da oferta de fraldas geriátricas.
4) - “É tudo de Graça”!
Aqui nós temos a confirmação da mistura do público com o privado.  O agente público afirma que quem está dando o beneficio é ele! Que tudo é de graça! Ele é uma espécie de mágico, um benfeitor da humanidade, mas como já foi dito, quem paga a conta são os brasileiros através dos impostos. Disse o Estadão em Editorial:
- “Nessa cartilha da comunicação presidencial, produzida sob a lógica de comitê eleitoral, revogam-se todas as disposições legais, morais ou políticas em desfavor de uma comunicação pública republicana, impessoal e apartidária”.

A falta de decência no ato do pronunciamento, o uso do governo em busca de votos com dinheiro público, apesar de faltar dois anos para eleição, foi assim resumida pelo jornalista J. R. Guzzo:

- “O discurso eleitoral de Lula, feito sob o disfarce 100% hipócrita da “prestação de contas”, não é apenas ilegal, imoral e arrogante.
É também uma exibição pública de mentiras, de atentados contra o Tesouro Nacional e de ausência de vida inteligente no santo-dos-santos do governo.
Seu novo gênio das comunicações achou uma grande ideia, por exemplo, fazer com que Lula dissesse ao vivo o seguinte: ele tinha a nos dar de presente “uma dupla que não é sertaneja, mas está mexendo com o Brasil”.

Nossa mediocridade é fácil de identificar: basta você olhar o ser que dirige a nação e os assessores: Governam a Terra dos Papagaios desde 2002. A grande maioria foi acusada de corrupção. Foram condenados. Confessaram os crimes. Devolveram parte do dinheiro. Foram descondenados pelo STF. Os ministros do STF têm ligações estreitas com todos eles. Zanin era advogado de Lula. Barroso, o Presidente do STF, defendeu o terrorista Cesari Battisti que assassinou quatro pessoas na Itália, foi condenado a prisão perpetua e aqui divulgou-se que era inocente. Dino era ministro de Lula. Moraes tem 24 pedidos de impeachment. Barroso 17. O atual presidente, semianalfabeto, foi condenado a 12 anos de cadeia e descondenado pelo STF.

Essa turma mistura sempre o publico com o privado e afirma que tudo dado ao povo é de graça, que estamos crescendo, que somos invejados por todos, que eles são defensores da democracia e assim criaram uma casta de privilegiados, reeditaram a nobreza: o imperador, a rainha, o príncipe, o duque, o marquês, o conde, o visconde, o barão, os juízes intocáveis, chamados de supremos, que interpretam a Constituição a seu bel-prazer e de acordo com os nobres acima citados.

Do outro lado está o povo recebendo “tudo de graça”!

Que nação aceitaria ser governada por uma turma dessas?

Que país pode crescer administrado por gente com esse histórico?

Ao misturar o público com o privado o tipo de progresso, crescimento ou desenvolvimento (“é tudo de graça”) alardeado pelo governo petista/comunista é como rabo de cavalo: cresce sempre para baixo.

Finalizo com as palavras do escritor Fábio Giambiagi, autor do livro “Brasil - Raízes do Atraso - Paternalismo versus Produtividade”, pág. 25:

- “No resto do mundo, os países crescem porque trabalham muito, porque poupam muito ou porque estudaram muito. No Brasil, com todas essas regulações existentes no mercado de trabalho, poupando pouco e com nossa baixa escolaridade, você quer o quê? Há um problema de incentivos que fica cada vez mais claro no Brasil: em comparação com outros países, se o objetivo mais importante for crescer a taxas elevadas, estamos com o modelo errado. Em outras palavras, o Brasil cresceu pouco porque não merecia crescer mais”.

Bom final de semana a todos.

Foto de Carlos Sampaio

Carlos Sampaio

Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

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