O Alfaiate do Panamá e o Escrevinhador da Terra dos Papagaios
22/02/2025 às 19:35 Ler na área do assinante“A mentira é o único privilégio do homem sobre todos os outros animais”. (Fiódor Dostoiévski).
No filme o “Alfaiate do Panamá”, baseado no romance de mesmo nome escrito por John Lé Carré, estão presentes elementos de intriga política, suspense deslealdade, falsidade, ganancia e espionagem. O livro foi publicado em 1996. O filme foi produzido e dirigido por John Boorman em 2001.
- “Harry, menino, eu lhe disse várias vezes, um homem que diz a verdade deve ser descoberto mais cedo ou mais tarde. Tente sinceridade, isso é uma virtude. Mas a verdade é uma aflição”!
O romance de John Lé Carré não tem heróis. A trama envolve Harry Pendel que tem como máxima de vida as palavras acima e elas voltam repetidamente à sua mente:
“Tente a sinceridade. A verdade é uma aflição”.
Isto é, ser sincero é muito melhor quer dizer a verdade. Uma mentira dita com franqueza supera a verdade e fica em seu lugar. Harry Pendel é o Alfaiate do Panamá.
Ele é charmoso, idealista, uma espécie de sabichão que trata de qualquer assunto com maestria e criou e é presidente da casa Pendel & Braithwaite, Alfaiates à Royalty, que afirma ser uma filial da matriz londrina atualmente na Cidade do Panamá. Ele é um costureiro de mão-cheia e enquanto conta suas historias mirabolantes, corta tecidos caros, vai cosendo mentiras e vestindo a corrupta elite panamenha.
Internamente a sociedade panamenha está em ebulição, pois vai ganhar o controle total do Canal do Panamá. Esse fato desperta cobiça de diferentes agentes. Políticos, empresários, traficantes, ladrões, países estrangeiros, todos estão ávidos pela transferência que os Estados Unidos farão ao pequeno país. A disputa interna é para ver quem fica com o butim.
E é para dentro desse caldo de interesses pessoais que os britânicos enviam o espião Andrew Osnard. Ele recebe essa missão como uma espécie de punição. Osnard é mulherengo, beberrão, boa vida, não tem escrúpulos e sua missão é identificar quem é quem no Panamá. Ele escolhe como alvo Harry Pendel e começa fazendo um levantamento de sua vida pessoal.
Como eu disse antes, Harry Pendel é o craque da tesoura no Panamá. Ser vestido por ele é o máximo. A elite panamenha de todos os matizes atravessa diariamente as portas da empresa de Pendel e na medida em que ele vai confeccionando vestimentas, vai ouvindo segredos dos poderosos. Pendel é um depósito de informações confidenciais ditas entre quatro paredes de seu provador. Mas seu passado o condena.
E o segredo de Pendel está nas mãos do espião britânico Andrew Osnard. Harry Pendel é um ex-presidiario que refez sua vida no Panamá. Mas, além de esconder seu passado, Pendel está cheio de dívidas. O espião britânico começa a chantageá-lo. Em troca de seu silêncio Pendel, que confecciona também as roupas dos generais panamenhos que estão no poder deve ouvir e repassar a Osnard os segredos, detalhes, negócios e as atividades dos generais e outros poderosos do Panamá.
Pendel começa a dar informações ao espião britânico. Este, que não tem qualquer principio moral, negocia as informações com diplomatas ingleses em troca de dinheiro.
Então Pendel diz a Osnard que os generais vão vender o canal. Franceses, japonese e principalmente os chineses estão interessados. Mas existe uma oposição que faz uma “conspiração silenciosa” para derrubar o governo do Panamá, pois o atual governo passaria o controle do Panamá a outro país. O movimento necessita de dinheiro. Dez milhões de dólares é a quantia exigida. Osnard negocia com o chefe do serviço secreto britânico e diz que o valor é de quinze milhões de dólares. Os diplomatas, apesar de não acreditarem muito nessa historia, participam da negociata. Então o chefe do serviço secreto britânico vai ao alto comando da Inglaterra e detalha o plano da oposição para derrubar o governo. Afirma que eles precisam de 20 milhões de dólares.
O alto comando morde a isca e diz que dará 15 milhões para o inicio das ações. As informações são passadas aos americanos, donos do canal.
Nenhumas das informações que Pendel vendeu ao espião eram verdadeiras. São todas historias espalhafatosas inventadas por ele. Nunca houve “oposição silenciosa”. As informações passadas aos embaixadores britânicos e ao chefe do serviço secreto foram todas turbinadas por Osnard. Nunca houve qualquer tipo de ataque preparado para tomar o poder. Tudo estava escrito nos papeis. Desenhado. Tudo inventado. Tudo por dinheiro.
O embaixador britânico no Panamá descobre a farsa e diz a Osnard:
- “Meu dever é informar o Ministério do Interior sobre essa farsa”.
- “Quanto custa seu dever”? Pergunta Osnard.
- “Dois milhões”. - “Um” - retruca Osnard. - “Um e 250”. Diz o embaixador. -“Fechado”.
As mentiras tomam forma de verdade e tudo sai de controle. O falso líder da oposição, um bêbado, Mickie Abraxas, se suicida. A informação passada ao alto comando americano é que ele foi executado pelo esquadrão da morte do governo panamenho. O canal está ameaçado. O presidente autoriza o ataque ao Panamá, pois o tratado diz que se houver ameaça ao canal os americanos devem repeli-lo.
- “A 'Operação Flecha Reta' é toda sua, general”, diz o alto-comando reunido. Caças, helicópteros de combate, 12 navios de guerra, tanques, um batalhão de fuzileiros são mobilizado para o ataque imediato.
O espião foge em direção ao aeroporto. Ele pretende escapar para Suíça. No caminho o caos se instala. Os americanos atacam e bombardeiam a cidade. No aeroporto, que está fechado, o embaixador suborna os policiais e diz a Osnard que assim que concluírem o trato do dinheiro ele estará livre para partir.
Enquanto isso os presidentes se comunicam e o presidente americano recebe a informação de que tudo foi uma farsa. O canal está seguro. Vigiado. As ordens do ataque que começou são imediatamente canceladas. O embaixador acompanha Osnard até o avião e recebe sua parte. Ele embarca e vai embora com o dinheiro que financiaria a falsa operação.
O Alfaiate, chorando, relata o seu passado a esposa e diz que se tornou alfaiate na prisão e que seu tio Benny mandou que incendiasse o armazém onde trabalhava e por isso foi preso. Ele diz que na prisão todos mentem:
- “Mentimos porque é melhor que a realidade”.
Enquanto isso, no jatinho particular que o leva para longe do Panamá, o espião Osnard, confortavelmente instalado, com um risinho sarcástico no rosto, começa a paquerar a aeromoça.
O filme sem heróis nos mostra que a corrupção, a maldade, a incompetência dos tais serviços secretos, a ganancia desmedida que reside em todos os corações humanos, supera todas as barreiras e limites.
Nos mostra ainda a arrogância dos dirigentes, que mesmo sabendo que foram enganados, não sentem vergonha e nem reconhecem os erros.
Adverte-nos que informações falsas, teorias da conspiração inventadas pelos que buscam se manter no poder iniciam operações que provocam o caos, causam dores, ceifam vidas e massacram inocentes.
Em 18 de fevereiro de 2025, Paulo Gonet, Procurador Geral da Republica do Brasil, dando uma de John Lé Carré, denunciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e militares por tentativa de golpe de Estado em 2022. A denúncia, segundo ele, resulta da análise de mais de 800 páginas do relatório da PF, enviado à PGR.
Nela, assim como no romance “O Alfaiate do Panamá”, estão presentes elementos de intriga política, suspense, deslealdade, falsidade, ganancia, mentiras e espionagem. Existe também a “conspiração silenciosa”, o ataque preparado para tomar o poder que nunca aconteceu. E todas estas coisas estavam escritas nos papeis. Desenhado. Tudo inventado.
Paulo Gonet é, também, vice-procurador-geral Eleitoral, honrando a tradição brasileira de um único sujeito exercer vários cargos ao mesmo tempo e por suas mãos passou o julgamento da inelegibilidade do ex-presidente Bolsonaro em duas ocasiões:
- A primeira, por causa de uma reunião de Bolsonaro no Palácio da Alvorada com embaixadores estrangeiros, realizada em 18 de julho de 2022.
- A segunda, referente às comemorações do Bicentenário da Independência, realizadas em 7 de setembro do mesmo ano, em Brasília e no Rio de Janeiro.
Nos dois eventos Gonet CONDENOU Bolsonaro a inelegibilidade, apontando a prática de abuso de poder político e o uso indevido dos meios de comunicação.
Notem que desde o inicio John Lé Carré, o romancista do Alfaiate do Panamá, perde disparado em imaginação para Gonet.
Antes de ser nomeado Procurador, Gonet, apresentava-se como “católico, conservador, pró-família e pró-vida. Não é um progressista. Alguém que quer fazer ativismo e mudar a lei e a Constituição pelo Judiciário". As palavras são de Bia Kicis.
Ledo engano. Gonet era 'sócio' do Ministro Supremo Gilmar Mendes, agora ex-sócio no IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa). Sua indicação para o governo Lula, como não poderia deixar de ser, foi fortemente apoiada por Alexandre de Moraes e todos os outros Ministros.
Assim, todos os cordéis se fecharam em uma única mão: acusação, julgamento e condenação.
A publicação da denúncia contra Bolsonaro fez os órgãos de comunicação pro-governo soltarem fogos de artificio. Jornalistas amigos do governo vibraram com a acusação e passaram horas somando os anos que, segundo eles, Bolsonaro passará na cadeia.
O líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), classificou a acusação como um ataque às liberdades individuais.
- A denúncia representa mais um degrau da escalada criminosa contra a liberdade dos brasileiros e é “desprovida de evidências concretas que sustentem as graves acusações imputadas. É uma verdadeira peça de ficção, uma denúncia encomendada para gerar um resultado que todos já conhecem. Denúncia essa, baseada em delações e presunções, ao longo do processo, o delator foi alterando e omitindo. Situação mais do que suficiente para anular as delações”.
Como esse assunto já foi mais do que mastigado e a análise seria repetitiva, trago a vocês a indignação da oposição, através do “Manifesto em Defesa da Democracia e da Liberdade do Brasil”, que refuta de forma veemente a acusação do escrevinhador da Terra dos Papagaios, Paulo Gonet:
- “A Oposição na Câmara dos Deputados traz à nação brasileira um alerta urgente sobre o estado de exceção que se instala silenciosamente, mas a olhos vistos, em nosso país.
O Brasil está vivenciando um preocupante processo de erosão de suas instituições e de ataque sistemático às liberdades individuais e coletivas.
A censura e a perseguição política contra aqueles que ousam discordar do establishment são flagrantes.
Jornalistas, influenciadores, políticos e cidadãos em geral, alinhados à direita, têm sido alvos de medidas autoritárias que violam princípios fundamentais da Constituição Federal e tratados internacionais de direitos humanos.
A liberdade de expressão, pilar de qualquer sociedade democrática, está sendo esmagada por decisões arbitrárias, censura prévia e prisões políticas que se tornaram instrumentos para calar vozes dissidentes.
Isso sem contar o sem-número de abusos contra as leis vigentes, com prisões sem fundamento jurídico idôneo (como no caso de Filipe Martins, preso por uma viagem jamais feita).
A imprensa livre, que deveria ser um escudo contra o abuso de poder, tem sido alvo de tentativas de silenciamento por meio de processos judiciais seletivos, bloqueio de contas bancárias e remoção forçada de conteúdos críticos ao governo e ao sistema judiciário.
Os jornalistas que ousam denunciar essa escalada autoritária enfrentam ameaças, detenções arbitrárias e restrições inconstitucionais à sua atividade profissional.
Os advogados, por sua vez, são impedidos de trabalhar conforme previsto pela Constituição e pela lei, sendo forçados a defender pessoas investigadas sem ter acesso aos autos dos processos, nem ter conhecimento do que seus clientes são acusados.
E quando tentam fazer sustentações orais ou despachar com os juízes responsáveis pelo estado de coisas inconstitucional que enfrentamos hoje, jamais são recebidos e apenas encontram portas fechadas.
Além disso, políticos de direita estão sendo perseguidos de maneira implacável.
Utiliza-se o aparato estatal para sufocar a oposição, criminalizar opiniões e restringir direitos fundamentais.
A instrumentalização da justiça para fins políticos é um ataque direto à soberania popular e compromete o equilíbrio dos poderes, que deveria ser a base do Estado democrático de direito.
A denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Jair Bolsonaro, pela suposta “tentativa de golpe de Estado”, entre outros crimes alegados, mas jamais comprovados, representa mais um degrau nessa escalada criminosa contra a liberdade dos brasileiros.
Trata-se de uma série de acusações rasteiras, desprovidas de evidências concretas que sustentem as graves acusações imputadas.
Uma verdadeira peça de ficção, uma denúncia encomendada para gerar um resultado que todos já conhecem.
Uma denúncia baseada em delação e presunções.
Ao longo do processo, o delator foi alterando e omitindo fatos, situação mais do que suficiente para anular a delação.
E a maior insanidade de todas: não tivemos acesso a tais delações. Apenas no dia de hoje foram retirados os sigilos das delações.
Há outro aspecto que precisa ser veemente repudiado e refutado: insistência na tese de questionar a legitimidade do processo eleitoral, que seria uma suposta etapa para a preparação de um golpe.
A denúncia tenta transformar o direito à crítica em delito, colocando sob suspeita qualquer pessoa que ouse discordar do nosso processo eleitoral e descuidando que tal direito é perfeitamente protegido pela Constituição e pelo Código Penal.
Não há possibilidade de defesa para o presidente Bolsonaro.
Ele já entra condenado a 20, 30, 40 anos de prisão.
Ele será julgado por aqueles que se vangloriam de ter derrotado o bolsonarismo.
O sistema se esforçou como nunca para tirar Lula da cadeia e colocá-lo de volta no poder.
Passados dois anos de uma gestão catastrófica, esse governo biônico está caindo aos pedaços, impopular, incapaz de tirar o país de uma crise sem precedentes.
Povo faminto, escândalos de corrupção estourando todos os dias, sigilo de 100 anos para os gastos da Janja.
A única conquista desse grupelho político que tomou o país de assalto é a denúncia contra Jair Bolsonaro.
O sistema quer matar Bolsonaro politicamente porque ele já aparece à frente das pesquisas contra o descondenado.
Esta semana, recebemos um relatório contundente da Associação dos Familiares das Vítimas do 8 de Janeiro, que reúne documentos e provas de todos os tipos de violações de direitos praticados nesses últimos anos.
No momento oportuno, daremos a completa publicidade a esse material.
Aqui, bem próximo da Praça dos Três Poderes, centenas de pessoas são vítimas de maus tratos de toda a espécie e seus advogados cerceados nas prerrogativas da advocacia.
Precisamos revelar o que está acontecendo dentro dos presídios da Papuda e da Colmeia.
Uma pena que, hoje, para alguns setores da OAB, as tais prerrogativas só existam para quem defende o outro lado do espectro político.
O Estado brasileiro mantém centenas de presos políticos e segue à caça de outros tantos.
Diante desse cenário, não podemos nos calar. É nosso dever denunciar ao mundo o que está acontecendo no Brasil.
Apelamos às organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, à imprensa independente e a todas as nações que prezam pela democracia para que voltem seus olhos ao nosso país e pressionem as autoridades responsáveis.
O momento exige coragem e união.
Nossa luta não é apenas por um grupo específico, mas pelo direito de todos os brasileiros viverem em uma sociedade em que a liberdade não seja uma concessão do Estado, mas um direito inalienável.
Hoje, a perseguição é contra a direita conservadora.
Amanhã, quem será o próximo alvo?
Esse autoritarismo, essa ditadura constitucional, que se instala sob o disfarce de legalidade, precisa ser parada.
A História nos ensina que quando a liberdade de um é ameaçada, a liberdade de todos está em risco.
A resistência democrática precisa ser firme.
Exigimos o fim das perseguições políticas, a restituição das liberdades individuais e a garantia de um país onde a pluralidade de ideias seja respeitada.
Não permitiremos que o Brasil se torne refém de um aparato estatal totalitário, repressivo e opressor, em que uma minoria de poderosos coloca a maioria desamparada de joelhos.
O futuro da nossa nação depende da nossa ação agora."
Para finalizar, reproduzo as palavras de dois homens públicos, para trazer um pouco de razão a este momento tão conturbado.
Marco Aurélio Melo, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal:
“A Anistia não pode ser vista como algo pior que a Lava Jato. Eu continuo na tecla inicial: onde há a competência do STF em julgar um ex-presidente da República”?
José Múcio Monteiro, ministro da Defesa:
- “Nunca houve ameaça de golpe… O golpista não precisa de Constituição, de livro, de regra. Eu acho que a gente tem margem para conversar, sem viés eleitoral, sem viés partidário, sem polarização...”.
A todos que nos leem, lembrem-se:
O futuro da nossa nação depende da ação agora. No dia 16 de março estaremos nas ruas por Fora Lula e pela Anistia aos presos do 8 de janeiro”.
O romance O Alfaiate do Panamá e a Acusação de Gonet são peças de ficção. Mas a ficção, às vezes, tem o poder de se tornar realidade. O STF, como a PF e a PGR antes dele, já declarou Bolsonaro culpado, várias vezes, em entrevistas à imprensa. Isto é, seu julgamento já foi realizado.
A acusação de Gonet apena completa o plano asqueroso do Poder Judiciário, com STF à frente, corrompido através de altos salários, desmoralizado, sem qualquer apoio dos brasileiros honestos.
Bom final de semana a todos.
Carlos Sampaio
Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)