O lado sombrio da USAID: Interferência, golpes e desestabilização

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A USAID está sendo fechada por Trump. A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) é frequentemente apresentada como uma instituição voltada para a ajuda humanitária e a promoção da democracia. No entanto, há inúmeras evidências de que, na prática, essa agência tem sido utilizada como um instrumento de interferência política, desestabilização de governos e financiamento de mudanças de regime ao redor do mundo.

Nos últimos anos, a USAID foi acusada de financiar a censura em diversos países. Um de seus programas globais reúne centenas de ONGs de censura em uma rede comum, com o objetivo expresso de pressionar governos estrangeiros a aprovar leis e regulamentações que restrinjam discursos nas mídias sociais.

Diante dessas denúncias, a administração Trump propôs o desmantelamento da USAID, argumentando que a agência servia como um instrumento de intervenção externa, frequentemente financiando grupos que desestabilizam regiões inteiras. O ex-presidente Donald Trump criticou duramente a instituição, declarando que era administrada por “lunáticos radicais” e que financiava ONGs progressistas para desestabilizar a América Latina. Sua administração tomou medidas para reduzir o orçamento da USAID e redirecionar seus recursos.

O senador Marco Rubio também defendeu mudanças na USAID, afirmando: 

“Cada dólar que gastamos estará alinhado com o interesse nacional dos Estados Unidos. A USAID tem um histórico de ignorar isso e decidir que é uma instituição de caridade global. Esses não são dólares de doadores, são dólares de contribuintes. Devemos ao povo americano garantias de que cada dólar gasto no exterior esteja promovendo nosso interesse nacional.” 

A USAID tem um longo histórico de envolvimento em golpes de Estado e desestabilização política ao redor do mundo. Alguns dos casos mais notórios incluem:

Venezuela

A agência canalizou milhões de dólares para grupos de oposição que tentaram derrubar os governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Além de treinar ativistas, a USAID financiou veículos de comunicação contrários ao governo e esteve diretamente ligada ao golpe fracassado de 2002 contra Chávez.

Chile

Durante o governo de Salvador Allende, a USAID direcionou recursos para campanhas midiáticas e grupos opositores antes do golpe de 1973, que resultou na ditadura de Augusto Pinochet. A agência ajudou a criar um estado de caos econômico, justificando a intervenção militar.

Bolívia

Em 2013, o presidente Evo Morales expulsou a USAID do país após descobrir que a agência financiava movimentos separatistas nas províncias mais ricas, evidenciando seu papel na fragmentação e desestabilização de governos que não se alinhavam aos interesses dos EUA.

Cuba

A USAID criou a rede social ZunZuneo, semelhante ao Twitter, com o objetivo de atrair jovens cubanos e disseminar conteúdo antigovernamental para incitar protestos. O projeto foi desmascarado em 2014 e rapidamente encerrado.

Haiti

A agência desempenhou um papel crucial no golpe de 1991 contra o presidente eleito Jean-Bertrand Aristide, apoiando grupos de oposição e até esquadrões da morte. Aristide só escapou da prisão e possível execução graças à intervenção diplomática de EUA, França e Venezuela.

Afeganistão

Sob o disfarce de ajuda humanitária, a USAID operava diretamente com operações de contrainsurgência. Seus agentes mapeavam comunidades, coletavam informações e ajudavam a identificar simpatizantes do Talibã para ataques com drones.

Brasil

Durante o regime militar brasileiro (1964-1985), a USAID teve um papel significativo na manutenção do regime. Documentos desclassificados revelam que a agência ajudou a estabilizar o regime, fornecendo apoio financeiro e técnico. Além disso, esteve envolvida em programas de repressão e segurança pública, treinando forças locais e promovendo métodos de controle social.

A agência também influenciou a educação e a formação de novas elites no Brasil, promovendo uma ideologia alinhada aos interesses dos EUA. O financiamento de organizações da sociedade civil com viés político progressista foi uma estratégia utilizada para moldar o debate político e social do país.

Mais recentemente, a USAID foi acusada de financiar a censura no Brasil. Com o apoio da National Endowment for Democracy (NED), teria viabilizado mecanismos de restrição à liberdade de expressão nas redes sociais, limitando o debate público e impedindo vozes dissidentes de se manifestarem.

Além de sua atuação política e militar, a USAID também tem sido utilizada como ferramenta de inteligência e propaganda.

Em diversos países, a agência criou e financiou meios de comunicação alinhados aos interesses dos EUA. Redes sociais clandestinas, campanhas de desinformação e financiamentos secretos a jornalistas e veículos de ideias progressistas fazem parte das estratégias usadas para influenciar a opinião pública e fomentar desestabilizações internas.

A USAID, sob a justificativa de promover a democracia e o desenvolvimento, tem um histórico marcado por interferências políticas, golpes de Estado e censura. Seu envolvimento em desestabilizações no Brasil e no mundo levanta questionamentos sobre sua verdadeira função.

Diante dessas denúncias, cresce a necessidade de uma reavaliação de seu papel e do impacto que suas operações têm em diferentes nações.

Algumas ONGs patrocinado pela USAID:

BRAZIL 2021

Publicado em 12 de fevereiro de 2022

Solidarity Center (SC)

Abordagens Baseadas em Direitos para Promover a Liberdade de Associação e o Sindicalismo Inclusivo

 US$ 975.000

Para auxiliar sindicatos na defesa dos direitos trabalhistas fundamentais e na busca por melhores condições de trabalho, o Centro (Center) trabalhará com parceiros em vários setores econômicos no Brasil e no Paraguai para fortalecer sua capacidade organizacional e de segurança, aprimorar suas comunicações e melhorar sua capacidade de representar grupos vulneráveis.

SITAWI

 Pacto pela Democracia

 US$ 100.000

Para promover a cultura democrática e o valor do diálogo e do engajamento cidadão na defesa de processos e princípios democráticos no Brasil. A organização apoiará a iniciativa Pacto Pela Democracia, uma plataforma da sociedade civil que reúne um grupo plural e diverso de atores da sociedade civil e políticos. A coalizão identificará e promoverá inovações democráticas, organizará diálogos públicos sobre temas-chave da democracia com painéis plurais e monitorará e mobilizará ações coletivas em resposta a ameaças à democracia.

Politize! – Instituto de Educação Política

 Redes de Diálogo no Brasil

 US$ 189.417

Para estimular uma cultura de diálogo e respeito a opiniões diversas. A organização promoverá discursos construtivos sobre temas sensíveis por meio do desenvolvimento de conteúdos e materiais para o engajamento juvenil, incluindo currículos detalhados e treinamento de professores, visando fomentar a tolerância e debates respeitosos que serão utilizados em escolas. A organização envolverá influenciadores de mídia social, redes da sociedade civil e seus próprios voluntários para garantir que múltiplos públicos participem dessas atividades em todo o país.

Associação Artigo 19 Brasil

 Protegendo a Tecnologia e o Espaço Cívico no Processo Eleitoral de 2022

 US$ 111.430

Para promover o uso eficaz de tecnologia e votação digital. A organização educará cidadãos, jornalistas e partes interessadas sobre o uso de tecnologias digitais no processo eleitoral de 2022 a fim de promover confiança nas eleições. Eles monitorarão e conscientizarão sobre ameaças à integridade da participação cidadã e da votação digital e realizarão ações de advocacy para promover propostas legislativas que protejam esses mecanismos.

Fundação Fernando Henrique Cardoso

Fura Bolha: Promovendo o Diálogo Democrático no Brasil

 US$ 84.300

Para fortalecer a cultura e os valores democráticos e combater a crescente polarização política. A Fundação produzirá uma série de vídeos com debates sobre questões de políticas públicas atuais entre figuras políticas proeminentes de todo o espectro político. A série abordará esperanças e receios dos cidadãos, com o objetivo de amenizar preocupações sobre a votação, a pandemia de COVID-19 e o discurso público que demoniza adversários políticos e ideológicos.

SITAWI

Rede Liberdade: Defendendo Ativistas de Direitos Humanos e Democracia

 US$ 161.600

Para fortalecer o Estado de Direito e aprimorar a proteção legal de ativistas de direitos humanos e organizações da sociedade civil (OSCs). A organização realizará litígios estratégicos e treinamento jurídico para OSCs, atendendo à crescente demanda por assistência legal para enfrentar o encolhimento do espaço para a democracia e para a sociedade civil, casos de assédio contra ativistas de direitos humanos e racismo institucional.

SITAWI

 Delibera: Promovendo Novas Formas de Engajamento Cidadão com o Governo

 US$ 130.000

Para demonstrar o mérito da deliberação cidadã como uma abordagem eficaz nos processos de tomada de decisão pública. A organização apoiará a implementação de processos deliberativos, conhecidos como “mini públicas”, para formular e implementar legislação municipal que afete profundamente o dia a dia dos cidadãos, com foco na agenda de mudança climática. O projeto auxiliará as autoridades municipais a entender o valor e desenvolver conhecimentos sobre como incorporar as contribuições cidadãs nos procedimentos legislativos.

Instituto Sou da Paz

 Promovendo o Debate Democrático sobre Políticas de Segurança Pública

 US$ 155.980

Para promover o escrutínio público informado das políticas de segurança no Brasil e para fomentar a conscientização pública sobre a importância de políticas de segurança públicas e democráticas. A organização treinará um grupo diversificado de jornalistas de veículos nacionais e locais, além de mídias comunitárias, em metodologias de coleta de informações sobre segurança pública para produzir relatórios e responsabilizar autoridades. A organização também capacitará comunicadores e influenciadores de mídias sociais nessas metodologias e publicará um manual sobre como acessar informações de segurança pública.

Associação InternetLab de Pesquisa em Direito e Tecnologia

 Promovendo um Espaço Digital Democrático no Brasil

US$ 96.527

Para fomentar uma agenda democrática entre os principais atores das redes sociais e fortalecer os esforços da sociedade civil para combater interferências digitais maliciosas no debate público e político. A organização realizará treinamentos e atividades de capacitação, em conjunto com uma organização parceira, para influenciadores digitais e ativistas da sociedade civil, visando fortalecer o discurso democrático online. Também promoverá pesquisas e engajamento da sociedade civil na identificação de usos coordenados e maliciosos de técnicas computacionais para distorcer a esfera pública digital.

Transparência Brasil

 Fortalecendo a Rede de Advocacy Coletivo

 US$ 75.000

Para fortalecer a capacidade da sociedade civil de realizar advocacia de forma eficaz no Congresso Nacional. A rede realizará atividades de capacitação para fornecer ferramentas, conhecimento e metodologias que melhorem a capacidade de suas organizações-membro de utilizar análises baseadas em evidências, escuta social e estratégias de comunicação eficazes, visando aprimorar suas ações de advocacia em questões de interesse público e de democracia.

Foto de Carlos Arouck

Carlos Arouck

Policial federal. É formado em Direito e Administração de Empresas.

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