Escândalo na USP: Professor atraía alunos a seu apartamento oferecendo tutoria
30/01/2025 às 10:59 Ler na área do assinanteO jurista e professor de Direito da Universidade de São Paulo, Alysson Leandro Mascaro, é acusado de assédio e abuso sexual.Os casos relatados teriam ocorrido entre 2009 e o primeiro semestre de 2024.
Os relatos estão no inquérito instaurado pela direção da faculdade. O processo está em sigilo.
O caso foi relatado em uma reportagem publicada na Folha de S.Paulo:
“Os relatos estão no inquérito instaurado pela direção da faculdade, e parte deles foi reiterada por cinco denunciantes ouvidos pela Folha. Todos pediram para não terem seus nomes divulgados. O processo está em sigilo.
A advogada do professor, Fabiana Marques, que também teve acesso aos depoimentos, foi questionada sobre eles e respondeu manter a confiança na inocência de seu cliente e acreditar que os relatos são fracos e não se sustentam.
Nenhum boletim de ocorrência foi registrado contra Mascaro. Os casos foram relatados apenas à USP. Os estudantes dizem ter sentido medo de prejudicar sua jornada acadêmica e a carreira ao denunciar o professor.
Felipe (nome fictício) relata ter conhecido Alysson Mascaro em 2022, na USP. Era seu aluno na disciplina de filosofia do direito. Na saída da primeira aula do ano, elogiou o discurso do professor que, em seguida, teria perguntado sobre a vida do aluno. Eles, então, descobriram ser vizinhos.
O estudante diz que começou a se abrir com o professor e sentiu ter encontrado nele uma figura de apoio.
Dias depois do primeiro encontro, Felipe foi convidado para uma conversa de orientação acadêmica no apartamento do professor, na República, região central de São Paulo.
Segundo o estudante, Mascaro iniciou uma discussão sobre a necessidade de o ser humano ter tesão na vida, citando a filosofia hedonista de Epicuro, sobre o prazer como finalidade da existência.
Falou também que gostava de pornografia e que se masturbava quando lia, afirma o estudante. Por fim, Mascaro teria dado um abraço no aluno, passado a boca em seu pescoço e esfregado seu pênis nele.
Outros alunos e ex-alunos da USP relatam dinâmica parecida. Um deles, convidado por Mascaro para uma conversa sobre assuntos acadêmicos em seu apartamento, em 2022, disse ter sido coagido a ficar de cueca e abraçar o professor. Mascaro teria dito estar imitando a maneira como filósofos e seus discípulos se relacionavam na Grécia Antiga.
Todas as vítimas levadas ao apartamento afirmam ter buscado distância do professor e praticamente abandonado suas carreiras acadêmicas após os episódios.
As acusações de abuso estão concentradas no grupo de pesquisa chefiado por Mascaro na USP, chamado Crítica do Direito e Subjetividade Jurídica.
Em 2017, quando entrou no grupo, Pedro (nome fictício) diz ter ficado surpreso com as exigências do docente. Todos os recém-chegados, afirma, deveriam escrever um artigo ou resenha em homenagem ao trabalho do orientador e chamá-lo de mestre.
Mascaro, segundo o ex-orientando, também pedia favores aos membros do grupo. Algumas demandas eram direcionadas especialmente a uma mulher, uma das poucas desde a fundação do grupo, em 2016. Ela, dizem ex-pesquisadores, era tratada como secretária do professor e até já foi convidada a limpar um apartamento dele.
Até 2020, esse grupo de pesquisa era composto por cerca de 20 pessoas. Quando se tornou virtual, em razão da pandemia de Covid, a quantidade de membros aumentou a mais de 100, apesar de o edital público permitir apenas 15 novos participantes por chamamento.
Segundo depoimentos, Mascaro teria ordenado o aceite de quase todos os interessados em sua orientação.
Alguns dos aprovados foram submetidos a uma entrevista com o orientador. Muitos dos que passaram por essa etapa relataram ter sido posteriormente vítimas de investidas sexuais de Mascaro e abandonado o grupo. Neste mês, 97 ex-orientandos do acusado publicaram uma nota em apoio aos denunciantes.”
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