Fernanda Torres... No Pão e Circo moderno, artistas tomam o lugar dos gladiadores
10/01/2025 às 16:27 Ler na área do assinanteComo no período do Império Romano, o Pão e o Circo, levado a efeito desde aqueles tempos, tornou-se uma constante em qualquer cenário político e lugar, que acontece há séculos no mundo. E na atualidade também não tem diferença. Aliás, só mudam mesmo os personagens.
Talvez inspirados pelos Jogos Olímpicos da Grécia antiga, que de certa maneira também mobilizou multidões nas competições esportivas, o “jeitinho romano de ser” tenha observado e convertido atrações populares em manobras políticas.
Este formato de influência político/social, e a expressão Pão e Circo, ganhou o mundo, como política de estado e dominação de massas, onde havia distribuição de pão e trigo à população e os eventos para diversão (distração) do povo. O principal objetivo era evitar revoltas populares por causa das mazelas sociais e corrupção, e para que os políticos ficassem mais à vontade para agir da maneira que melhor atendesse a seus interesses.
Numa analogia que nos remete aos nossos dias, podemos sintetizar que ferramentas como o assistencialismo, os eventos culturais e seus ídolos e os bastidores políticos, que são, na mesma ordem atual, como a distribuição do pão e trigo, as atrações nas arenas e os bastidores do império e do senado romano. Leia-se, portanto, como similitude, para o Bolsa Família, os musicais e filmes com seus artistas, e os bastidores do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal), por exemplo.
Quando o imperador Tito, lá pelos idos dos anos 80 d.C., inaugurou o Coliseu de Roma (iniciado por seu pai, Vespasiano), como o principal palco para distração popular - de 50.000 a 80.000 mil espectadores, com suas mais variadas atrações, a ideia central sempre foi manter o povo “satisfeito” numa aparente democracia. O ponto alto das apresentações eram as lutas sangrentas e mortais entre gladiadores.
Os gladiadores eram os grandes ídolos do povo, ainda que escravizados, e muitas vezes a vitória obtida, em determinadas lutas, lhe davam uma espécie de carta de alforria, tornando-se, assim, um cidadão livre.
O caso mais emblemático para mostrar a mobilização (na verdade, desmobilização, apatia ou inércia) do povo por meio da abstração, foi a épica luta entre Vero e Prisco. Dois dos maiores gladiadores da época, na inauguração do Coliseu (no original, chamava-se Anfiteatro Flávio ou Flavianos, no latim, Amphitheatrum Flavium), eles se enfrentaram naquele que foi considerado o maior dos jogos do império, que durou 100 dias. O embate durou horas a fio, e no final, pela coragem, valentia e espírito de força, ambos, exaustos, foram considerados pelo imperador Tito como vencedores, dando-lhes, como prêmio, a liberdade.
Fazendo uma transição do tempo imperial para nossos dias, o evento do cinema mundial, o Globo de Ouro, realizado no dia 5 último, guarda uma simbologia interessante, porém, com suas próprias características da modernidade.
Ludicamente, vamos enxergar o mundo do cinema e suas telas espalhadas pelo mundo como o Coliseu de Roma. Os gladiadores são os atores e os políticos, e o imperador é o Sistema.
Antes, para ilustrar, vou mostrar uma linguagem silenciosa dos imperadores que valia a vida ou a morte, e como ela é estabelecida hoje.
A vida, a morte, e nos dias de hoje, um “foda-se para você!
Para efeito no Brasil, o imperador Sistema seria a figura no camarote ou púlpito do coliseu Mundo do Cinema. É nas mãos dessa gente, e através deles, que o Sistema abre seus tentáculos.
Os gladiadores Prisco e Vero, seriam a Fernanda Torres e a esquerda brasileira com seus figurões, representados pelo ex-presidiário e um dos cabeças pensantes que seria o José Dirceu, entre alguns outros nomes. A luta entre eles não é para matar um ao outro, pelo contrário. Ambos lutam por um mesmo objetivo: afirmarem-se como ponto central de governança e ganharem empoderamento para sua ideologia ditatorial. Mas o dedo do imperador não é dirigido a eles, e sim, ao povo, com o dedo do meio em riste na cara de todos.
A façanha deste processo é que os vencedores, Fernanda Torres e a esquerda brasileira, ganharam sua própria carta, não de liberdade na vida, para a liberdade de continuarem a usurpar o país e o povo brasileiro, com a conivência das autoridades e aplausos e pedidos de bis dos aleatórios.
Minha inspiração para essa conexão temporal que dei, veio quando vi familiares, ainda cegos pela dominação e doutrinação imposta ao país, que foram às redes sociais exaltar o “feito” da gladiadora Fernanda Torres. Como nas arquibancadas do Coliseu romano, eles são tomados pela euforia e contaminados pela distração, e com seu pão e trigo garantidos à mesa.
Ela, cumprindo seu papel, distribui sorrisos, acena para seu público cativo (no sentido literal da submissão, da dominação e da rendição), e de mãos dadas com a esquerda, amealha fãs que sentem orgulho por sua representante no Coliseu tupiniquim.
Digno de dó!
Alexandre Siqueira
Jornalista independente - Colunista Jornal da Cidade Online - Autor dos livros Perdeu, Mané! e Jornalismo: a um passo do abismo..., da série Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Visite:
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