8 de Janeiro: A Promessa de Pacificação como Ferramenta de Repressão
08/01/2025 às 13:20 Ler na área do assinanteO dia 8 de janeiro de 2023 entrou para a história do Brasil como um marco de resistência democrática diante de atos de vandalismo contra as instituições da República. Um ano depois, essa data foi transformada em bandeira pelo governo para reforçar o discurso de pacificação e união nacional. No entanto, a realidade dos fatos revela que essa narrativa está longe de se concretizar e, mais do que isso, tem sido utilizada como instrumento político de repressão à oposição.
A cerimônia intitulada “Democracia Inabalada”, realizada no primeiro ano de governo no Palácio do Planalto, foi apresentada como uma celebração dos valores democráticos e da união do povo brasileiro. Mas a ausência de governadores e líderes da oposição evidenciou a falácia desse discurso. A unidade exaltada nos pronunciamentos do presidente Lula e de ministros do Supremo Tribunal Federal revelou-se uma retórica vazia, incapaz de disfarçar a continuidade da polarização que fere a sociedade brasileira.
Por trás da fachada de defesa democrática, o governo e seus aliados têm usado os acontecimentos de 8 de janeiro como justificativa para medidas, como inquéritos sigilosos e a perseguição judicial de opositores políticos. Em vez de promover diálogo, a atual gestão reforça uma política de exclusão, tratando adversários como inimigos a serem silenciados. Vivemos num autoritarismo onde os valores democráticos são destruídos quando não respeitamos mais a nossa Constituição. Esse desprezo pelas normas fundamentais gera um cenário perigoso, em que as instituições, em vez de protegerem a sociedade, tornam-se instrumentos de interesses políticos.
A “comemoração” programada para hoje, dia 8 de janeiro, sugere que tudo pode ter sido parte de um elaborado jogo de oportunismo, orquestrado com o objetivo de extrair um benefício político. Ao invés de simbolizar união ou pacificação, a data se torna uma peça de um discurso que, ao amplificar divisões, busca consolidar o poder e deslegitimar vozes dissidentes.
A grande mídia, frequentemente alinhada ao governo, reforça essa narrativa, retratando ações repressivas como necessárias para a proteção da democracia. Essa postura ignora denúncias de abuso de poder e violações de direitos que vêm acompanhando os processos judiciais relacionados ao 8 de janeiro. Além disso, persegue os críticos que buscam discutir o tema de maneira mais aprofundada.
A promessa de pacificação, portanto, desmorona diante dos fatos. O que poderia ser uma oportunidade para fortalecer as instituições democráticas transformou-se em símbolo de instrumentalização política e divisão nacional. Para que o Brasil supere as feridas abertas, será necessário mais do que eventos comemorativos: é imprescindível reconhecer falhas institucionais, garantir justiça imparcial e incluir todos os setores da sociedade no debate público.
Carlos Arouck
Policial federal. É formado em Direito e Administração de Empresas.