Em nome do pai: o tormento dos lares e a agonia das famílias

06/08/2017 às 07:53 Ler na área do assinante

Vivemos em um momento de entorpecimento total, homicídios corriqueiros já não nos chocam mais! O penúltimo final de semana do mês de fevereiro de 2017 aponta um total de 40 assassinatos só no estado do RS, maior número registrado desde 2014.

Ensimesmados seguimos em frente, alienados em nossas milhares de tarefas diárias, porém, é humanamente impossível seguir em frente, sem sequer parar nem que seja por alguns minutos, para atentar a esta notícia, que ao tempo em que choca, grita simbolicamente o socorro social de que tanto necessitamos: “ADOLESCENTE É ASFIXIADA ATÉ A MORTE EM ESCOLA DO RS".

Assim, esperado seria que nos perguntássemos o que ocorre diante de tanta brutalidade? Porque nossos limites sociais sofrem tão importante afrouxamento?

O momento atual está marcado por uma dinâmica social em que valores vêm se perdendo, o papel da família, as funções parentais, e os limites determinantes de nossa formação enquanto seres sociais parecem já não mais existir.

Pesquisas apontam a importância do papel familiar na formação dos sujeitos, e principalmente o interdito da figura paterna na estruturação de nossa personalidade, principalmente no tocante aos princípios da lei e da moral.

Temos hoje a desorganização total das famílias, somadas a uma confusão de papéis, filhos não mais respeitam seus pais, quiçá professores e outros adultos, pais negligenciam seus filhos da pior maneira possível, a da ausência presente, pois engolfados pela tecnologia e o acumulo de afazeres ficam impossibilitados de destinar à sua prole o olhar que tanto clamam os pequenos. Sem o olhar do pai, ou seja, sem o necessário gesto de amor, crescem as crianças sem norte, sem alento e sem nenhuma moral! Moral aquela tão necessária ao tão esperado respeito ao outro.

O resultante disso invade nosso dia a dia, as páginas dos meios de comunicação e se pensarmos que esta é uma realidade distante de nossos lares podemos rapidamente nos surpreender, pois a próxima vítima pode ser nosso filho, nosso vizinho, ou até nós mesmos. Ao perdermos o limite, perderemos o respeito, consequentemente e inevitável, o próximo passo, perder nossa própria vida!

Patrícia Barazetti

Patrícia Barazetti

Psicóloga clínica e forense. Especialista em intervenções psicossociais. Mestre em Educação. Professora em cursos de graduação e pós-graduação. Pesquisadora em assuntos relacionados a temas sociais, envolvendo adolescentes infratores, crianças vítimas de violência sexual, serial killers e outras formas de violência. Atua em casos jurídicos de grande repercussão nacional e internacional.

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