Já passou da hora de dar nome aos bois: O PT é um partido de extrema-esquerda
19/12/2024 às 10:53 Ler na área do assinanteEssa classificação entre “esquerda” e “direita” no espectro político depende do próprio posicionamento pessoal. Para militantes do PCO e do PSTU (e, até pouco tempo atrás, do PSOL), o PT é um partido burguês, que se alinhou com os poderosos contra os interesses do povo. Do outro lado, o bolsonarismo-raíz tende a chamar de comunista todos os que não se alinham ao capitão. Um e outro não se consideram extremos, mas a “verdadeira esquerda” e a “verdadeira direita”. Essa avaliação, portanto, é subjetiva.
Tendo dito isso, precisarei adotar alguma metodologia mais ou menos objetiva para chegar à conclusão de que o PT é um partido de extrema-esquerda. Escolhi para este exercício o posicionamento de Fernando Henrique Cardoso.
Os petistas consideram FHC como alguém de direita. Ocorre que FHC se considera como alguém indubitavelmente de esquerda. Ele próprio, portanto, se auto-classifica como de esquerda. Se os petistas o consideram de direita, isso significa que eles estão à esquerda de FHC. Portanto, são extrema-esquerda.
Vamos analisar a posição de FHC. Por que, afinal, ele se considera alguém de esquerda? Em primeiro lugar, ele estava do outro lado da ditadura militar. Foi perseguido e se exilou. Em segundo lugar, se engajou em pautas caras à esquerda, como a reforma agrária e a concessão de benefícios aos mais pobres.
Os petistas, porém, não perdoam a agenda econômica de FHC. Privatizações, equilíbrio fiscal, independência das agências reguladoras e do Banco Central, são todos mecanismos que, de alguma forma, tiram poder do Executivo. É menos Estado e mais iniciativa privada, o que é imperdoável aos olhos dos petistas.
Claro, não é possível tratar um partido grande como o PT como um monólito. Há correntes mais e menos radicais. Mas, se você abrir a página do partido na internet, pouca diferença notará em relação às páginas do PCO ou do PSTU. As resoluções do partido são, via de regra, muito mais à esquerda do que as posições do governo Lula, que precisa compor para governar. O PT faz o papel da extrema-esquerda.
O que tem surpreendido os analistas e, porque não dizer, os mercados, é que o próprio Lula tem se alinhado à extrema-esquerda. Todos esperavam o Lula “pragmático” do primeiro mandato, alguém de centro-esquerda como FHC, mas o que se tem revelado é um Lula de extrema-esquerda. É irrelevante saber se o Lula do primeiro mandato era fake ou real. O que importa é o que ele é hoje. E o Lula de hoje chegou ao ponto de levar um puxão de orelhas de Gabriel Boric, alguém que, até ontem, era considerado de extrema-esquerda no Chile.
Vamos dar nome aos bois. O PT é um partido de extrema-esquerda. E Lula, hoje, se comporta como um político de extrema-esquerda.
Marcelo Guterman. Engenheiro de Produção pela Escola Politécnica da USP e mestre em Economia e Finanças pelo Insper.
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