Por que a “esquerda” parece sempre andar para trás?

18/11/2024 às 21:26 Ler na área do assinante

Fiquei chocado com uma absurda convocação para uma manifestação apoiada pelo PT durante a reunião do G20 no Rio.  Segundo eles, o evento pretende denunciar o “genocídio de Israel na Faixa de Gaza e em defesa do povo palestino”.  Um anacrônico cartaz do evento anuncia em pleno século XXI: “Fora o Imperialismo”, “Fora os Genocidas e Assassinos de Crianças” e é ilustrado por uma mão esmagando oito serpentes pintadas com as bandeiras da Alemanha, Canadá, EUA, França, Israel, Itália, Japão e Reino Unido – alguns países do G20. 

Se entendi direito, sairão 15 ônibus do interior de São Paulo, apoiados por “Comitês de Luta” para gritar contra os países economicamente, socialmente e tecnologicamente mais bem sucedidos do mundo.  Eu não ficaria surpreso se tudo isso estivesse sendo financiado pelo nosso bolso. 

O G20 é formado por 19 países, incluindo também a Argentina, Brasil, China, México, Rússia e Turquia.  Estes não foram representados como serpentes por serem talvez os mais fracos do grupo?     

Defendo a liberdade de expressão e o direito a protestos pacíficos.  Mas sou totalmente contrário a uma oposição de ódio, irresponsável, apoiada em bravatas e inverdades.   

Para começar, o uso e abuso do termo “genocídio” é mentiroso e incorreto.  O termo "genocídio" foi desenvolvido pelo advogado polonês Raphael Lemkin (1900-1958) para definir o Holocausto, assassinato em massa de judeus pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. 

Em 1946, a Assembleia Geral das Nações Unidas reconheceu por unanimidade o genocídio como um crime sob o direito internacional. Definido como "destruição intencional, no todo ou em parte, de um grupo nacional, racial, étnico ou religioso”, o crime de genocídio é definido por 5 aspectos complementares: 

1) Matar membros do grupo
2) Causar propositalmente sérios danos mentais ou físicos aos membros do grupo
3) Criar deliberadamente condições de vida que levarão à destruição física do grupo
4) Tomar medidas para impedir nascimentos dentro do grupo
5) Transferir à força as crianças do grupo para outros

É por isso que a Corte Internacional de Justiça, órgão da ONU sediada em Haia, Holanda, não acatou o pedido da África do Sul para reconhecer Israel como “genocida” por ter reagido às agressões do Hamas - esse sim um grupo genocida.    

Que fique bem claro:  o povo Palestino é dominado em Gaza pelos terroristas do Hamas, que não permitem liberdade de expressão, perseguem mulheres e gays, torturam e matam palestinos de oposição. 

O Hamas definiu suas políticas em documentos oficiais lançados em 1988 e 2017.  O texto de 1988 clama pela destruição de Israel, morte a todos os judeus e critica ferozmente o Egito por conviver em paz com Israel.  O documento de 2017 retirou referências à morte de judeus e ao Egito, acrescentando:

“O Hamas acredita que a Palestina sempre foi e sempre será um modelo de coexistência, tolerância e inovação civilizacional”. Essa maquiagem no texto convenceu muitos ingênuos no Ocidente. 

Ao mesmo tempo, o texto também diz:

“O Hamas rejeita qualquer alternativa à libertação total e completa da Palestina, do rio ao mar”.  Do rio Jordão ao mar Mediterrâneo.  Ou seja, exatamente onde está Israel.  Isso significa que a única democracia no Oriente Médio, um país tolerante e diverso com 10 milhões de habitantes, definido pelo Hamas como “projeto sionista”, teria simplesmente que deixar de existir. 

É como se dissessem:

“Não temos nada contra os Italianos, mas a Itália não deveria existir”. 

O Hamas não quer paz, quer a destruição de Israel.  O massacre de 7 de outubro de 2023, quando o Hamas invadiu Israel, sequestrou, queimou e matou deliberadamente milhares de inocentes, incluindo bebês, teria sido apenas o primeiro passo.

Em maio de 2024, uma maioria na Assembleia Geral da ONU defendeu filiação plena para um “Estado Palestino” na ONU.  Os EUA e Israel dizem que o reconhecimento do estado palestino deve vir por meio de um acordo de paz.  Isso é fundamental:  que tipo de “Estado Palestino” seria vizinho de Israel?  Um país inimigo lançando milhares de foguetes sobre cidades israelenses - como fazem hoje o Hamas e o Hezbollah - ou um vizinho pacífico a lucrar com relações econômicas produtivas, conforme estabelecido no plano aprovado pela ONU através da Resolução 181 em 1947? 

Para quem não sabe, a Resolução 181 aprovou não apenas a criação de um estado árabe e um estado judeu, mas também a criação de uma União Econômica a ser gerida por um Conselho Econômico Conjunto (Joint Economic Board), expressão que aparece 20 vezes nas 22 páginas do documento de 1947.  Não seria maravilhoso ter dois Estados prósperos, um árabe e um judeu, cooperando entre si?  Mas o Hamas e outros rejeitam isso.  O extremismo prevaleceu e o resto é História:  o Estado Judeu chama-se Israel desde 1948.  O Estado Árabe, cujas terras pertenciam ao Egito e à Jordânia, nunca aconteceu.  Ao invés disso, imediatamente após a Declaração de Independência de Israel em 14 de maio de 1948, os exércitos do Egito, Iraque, Jordânia, Líbano e Síria atacaram de todas as direções.  Dois anos depois, perderam a guerra.  Os cerca de 700.000 refugiados dessa guerra de agressão a Israel começaram a ser chamados de “Árabes Palestinos” a partir de maio de 1964, quando o Conselho Nacional Palestino (CNP) e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) foram formados durante uma convenção da Liga Árabe no Cairo. 

A população Palestina cresceu rapidamente nos últimos anos, contando com mais de 5.4 milhões em 2024.  Recentemente, a taxa de crescimento da população palestina foi de 2,3% ao ano de 2022 a 2024, um crescimento de 33%, até maior que o de Israel.  Que “GENOCÍDIO” é esse?  Isso não é genocídio nem aqui nem na China, é apenas propaganda política contra Israel – financiada abertamente ou não pelos autoproclamados inimigos do “capitalismo ocidental”.   

É muito importante separar os Palestinos em geral do Hamas.  Todos os integrantes do Hamas se dizem palestinos, mas nem todo palestino é a favor do Hamas.  Uma pesquisa realizada pelo Centro Palestino de Políticas e Pesquisas (PCPSR) em Gaza e Cisjordânia entre 26 de maio e 1 de junho 2024, concluiu que o apoio geral ao Hamas nos territórios palestinos era de 40%.  Ou seja, há 60% de descontentes submetidos à ditadura do Hamas.  E há Palestinos que querem conviver em paz.  De fato, há dois milhões de árabes vivendo em paz como cidadãos israelenses, usufruindo de plenos direitos civis.  Isso inclui palestinos israelenses e representa 20% da população de Israel. 

Mas, por razões políticas, estão tentando misturar tudo isso no Brasil.  Esse movimento extremista e retrógrado é falso e perigoso por tentar destruir a característica mais marcante do nosso país:  o respeito internacional que o Brasil sempre teve por proteger sua diversidade e pluralidade cultural, religiosa, étnica, e a convivência pacífica entre todos, incluindo árabes e judeus. 

Jonas Rabinovitch. Arquiteto urbanista com 30 anos de experiência como Conselheiro Sênior para inovação, desenvolvimento local e gestão pública da ONU em Nova York.

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