Caso das explosões no DF expõe fragilidade ética da imprensa no Brasil
15/11/2024 às 14:37 Ler na área do assinanteO recente episódio trágico nas proximidades do Supremo Tribunal Federal expõe mais uma vez as fragilidades éticas da imprensa tradicional no Brasil, que opta por uma abordagem tendenciosa e a instrumentalização política de eventos, com o objetivo de minar a direita no debate público.
A explosão de um artefato na entrada do Supremo Tribunal Federal (STF), seguida pelo suicídio de Francisco Wanderlei, conhecido como “Tio França”, levantou novamente o debate sobre a responsabilidade da mídia, a politização dos fatos e as consequências para a direita brasileira.
O incidente ocorreu durante uma semana de movimentações políticas delicadas, incluindo discussões sobre as Big Techs e a Lei da Internet no STF, e coincidindo com a proximidade da reunião do G20 no Brasil. A cobertura do caso gerou acusações de sensacionalismo e manipulação política pela imprensa, além de levantamentos sobre a abordagem da mídia em relação à oposição política no Brasil.
Próximo do STF, em Brasília, Tio França acionou explosivos que carregava e faleceu na sequência. Inicialmente, veículos de comunicação divulgaram a notícia vinculando-o ao grupo de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro relacionando o incidente aos atos de 8 de janeiro de 2023 e a motivações políticas de extremismo de direita. Personalidades da mídia, como Daniela Lima da GloboNews, atribuíram a ele uma relação direta com movimentos golpistas, o que fomentou uma rápida condenação pública de setores da direita.
A imprensa brasileira foi criticada pela rápida associação de Tio França com a direita bolsonarista, sem que investigações mais aprofundadas fossem realizadas. Francisco Wanderlei havia concorrido em 2020 como vereador pelo Partido Liberal (PL) em Rio do Sul (SC), porém, numa coligação local que envolvia o PDT, partido de esquerda. Em 2020, Bolsonaro ainda não integrava o PL : cai por terra a vinculação direta entre o partido e o ex-presidente, sugerida por alguns veículos.
Na madrugada seguinte ao ocorrido, fontes ligadas ao caso revelaram um quadro diferente. Um major da Polícia Militar que participou da apuração inicial, afirmou que Tio França agiu de maneira solitária e sem intenção de ferir terceiros, corroborando as declarações de um vigia que testemunhou o evento. Ele relatou que, embora carregasse artefatos, Tio França não mostrou qualquer sinal de agressão direcionada a pessoas no local, o que levou as autoridades a tratá-lo como um “lobo solitário” e a interpretar a ação como uma tentativa de suicídio.
Relatos de familiares e amigos indicaram um histórico de problemas pessoais que antecederam o incidente. Tio França havia se afastado de sua família, sofrido um divórcio recente e apresentava sinais de desestabilidade emocional. Seus filhos relataram que ele se distanciou de casa e mencionou planos de viajar ao exterior, além de ter publicado mensagens desconexas nas redes sociais pouco antes do fato.
O uso do incidente para justificar restrições e criminalizar a direita brasileira gerou críticas de comentaristas políticos e setores da oposição. O episódio foi visto por alguns analistas como uma oportunidade para certos veículos e personalidades consolidarem narrativas que favorecem a manutenção do status quo político. Segundo críticos, a atitude da imprensa demonstra uma “falência moral” e a falta de empatia para com uma família em luto, evidenciando uma predisposição a explorar tragédias para consolidar opiniões polarizadas.
Além disso, o incidente impactou diretamente o debate sobre o “PL da Anistia” no Congresso Nacional, que buscava revisar penas consideradas excessivas a pessoas detidas em manifestações e eventos políticos recentes. O projeto, que ganhava força, foi visto como “enterrado” após a ocorrência em Brasília, mostrando um direcionamento imediato na cobertura e no discurso de setores da mídia e de parlamentares para deslegitimar pautas defendidas por grupos de direita.
O debate sobre a liberdade de expressão também foi reacendido, à medida que opositores denunciaram um suposto tratamento desigual entre declarações de diferentes espectros políticos. Influenciadores de esquerda teriam feito apelos para ações radicais contra parlamentares de direita, sem, entretanto, enfrentar as mesmas sanções aplicadas a figuras da direita que expressam posicionamentos contrários ao governo atual.
O caso expôs a necessidade urgente de uma revisão sobre a forma como tragédias são tratadas e interpretadas no cenário político e midiático brasileiro. É fundamental que o debate público seja construído sobre um compromisso com a verdade, o respeito às diferenças ideológicas e a humanidade. Em um contexto de polarização intensa, a manipulação de eventos trágicos para justificar posicionamentos ou atacar opositores representa um desvio das responsabilidades essenciais da mídia e das lideranças políticas.
Carlos Arouck
Policial federal. É formado em Direito e Administração de Empresas.