“Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”. (Joseph Pulitzer - criador do renomado Prêmio Pulitzer).
Em 25 de agosto de 2022, William Bonner, entrevistou o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva e na abertura da entrevista afirmou que faria perguntas sobre corrupção, já que o petista era investigado na operação Lava Jato, mas para o espanto de todos, afirmou:
- “O Supremo Tribunal Federal deu razão, considerou o então juiz Sérgio Moro parcial, anulou a condenação do caso do tríplex e anulou também outras ações por ter considerado a vara de Curitiba, incompetente.
Portanto, o senhor não deve nada à Justiça”, disse Bonner.
Quem assistia ficou perplexo.
Notem a estratégia usada pelo apresentador: vou perguntar sobre corrupção, mas o senhor não deve nada a justiça. Ora, se ele não devia nada a justiça, então por que perguntar sobre isso? Simples, para passar a imagem de que Lula era caçado pelos poderosos, que Lula era um santinho, era um inocente que lutava pelos pobres, mas era perseguido.
No entanto, todos sabiam e sabem que Lula estava envolvido em corrupção: apurações sobre doações da construtora Odebrecht ao Instituto Lula, a compra de um terreno para a sede da entidade, a aquisição de um apartamento em São Bernardo do Campo (SP) e o caso dos caças suecos...
Em 28 de outubro de 2022, aconteceu o esperado debate presidencial da Globo entre Bolsonaro e Lula. 50 milhões de pessoas assistiam e Bonner era o mediador. Lula afirmava que tinha sido absolvido e que nada devia a justiça. E Bolsonaro, ironicamente, disse:
- “Lula, você dizer que foi absolvido? Só se for pelo Bonner. Se ele vai repetir aqui que você foi absolvido. Eu acho que o Bonner vai ser indicado para um possível hipotético impossível governo teu para ser ministro do Supremo Tribunal Federal”.
E para surpresa de quem assistia, Bonner, o mediador do debate, pediu direito de resposta e afirmou:
- “Como jornalista, eu não digo coisas da minha cabeça. Eu disse isso baseado em decisão fundamentadas do Supremo Tribunal Federal. Eu queria só fazer esse esclarecimento, lembrando que algumas dessas decisões são bem recentes”.
Ao final do debate a internet explodiu com a quantidade de comentários afirmando que Bonner foi o vencedor do debate. E por tabela, Lula.
O país inteiro sabia que Lula estava envolvido em dezenas processos de todos os tipos: suposta obstrução de Justiça envolvendo o silêncio de Nestor Cerveró, por organização criminosa no caso do “Quadrilhão do PT” e na operação Zelotes, que denunciou o petista por corrupção passiva pela suposta aprovação de Medida Provisória em troca de contrapartidas ao PT.
Lula foi preso em abril de 2018.
A alma mais honesta do país ficou 580 dias na cadeia, em Curitiba, até o STF (Supremo Tribunal Federal) mudar seu entendimento e determinar que o cumprimento de pena começa depois de trânsito em julgado do processo. O petista havia sido encarcerado depois de condenado em 2ª Instância.
O ex-presidente deixou a cadeia em 8 de novembro de 2019.
Em abril de 2021, o plenário do Supremo anulou as condenações da Lava Jato contra o petista e o tornou elegível novamente. Meses depois, o STF declarou Sergio Moro, juiz que havia condenado Lula, parcial.
As duas únicas condenações de Lula, nos casos conhecidos como “triplex do Guarujá” e “sítio em Atibaia”, foram anuladas por uma questão técnica. O ministro Edson Fachin, do STF, entendeu que deveriam tramitar em Brasília, e não em Curitiba, e mandou recomeçar do zero. Quando as ações foram reiniciadas, já estavam prescritas.
E Lula virou presidente da Terra dos Papagaios.
Esse é apenas um exemplo de como a mídia brasileira age.
Ela acredita que o povo brasileiro não entende de política, que não sabe como o país funciona e no seu viés comunista direciona o debate.
E você que assiste os jornais todos os dias fica confuso. Faz observações para sua família de como são ladrões os políticos e de que todos são amigos dos jornalistas. Vê e não concorda, absolutamente, em nada do que os “artistas”, “intelectuais”, “especialistas” e “supremos” levados pelos apresentadores para corroborar as afirmações que eles fazem sobre assuntos mais variados, tais como golpe, terroristas, queimadas na Amazônia, manifestações, urnas eletrônicas...
Você, na maioria das vezes, não admite nada do que eles dizem. Mas, acredite você não está sozinho, não está louco, não está errado. Não, não perdeu o juízo quando pensa sobre os donos dos jornais, os poderosos, os togados que impedem que notícias verdadeiras sejam publicadas e fecham altos contratos de publicidade. Não perdeu o juízo quando identifica uma rede de interesses na divulgação das noticias.
Então você deixa de acreditar na mídia.
Mas não foi só você que deixou de acreditar, os americanos também deixaram. Também não acreditam mais em jornalistas, muito menos em “especialistas” ou “artistas” que aparecem na mídia concordando com apresentadores e trazendo fórmulas mágicas para o cidadão comum.
Meditando sobre tudo isso, o bilionário Jeff Bezos, dono da Amazon e do famoso jornal americano The Washington Post, se recusou a dar apoio a Kamala Harris ou a Donald Trump. Essa atitude irritou os demais jornais americanos que costumam a dar apoio a candidaturas presidenciais.
Ele publicou em 28 de outubro de 2024, um artigo de opinião onde faz autocriticas e esfrega na cara dos jornalista americanos e do resto do mundo a realidade e a descrença da população na mídia. Eis o artigo em tradução livre:
- “A dura verdade: os americanos não confiam na mídia”.
“Nas pesquisas públicas anuais sobre confiança e reputação, jornalistas e a mídia têm regularmente caído perto do fundo do poço, muitas vezes logo acima do Congresso. Mas na pesquisa Gallup deste ano, conseguimos cair abaixo do Congresso. Nossa profissão é agora a menos confiável de todas. Algo que estamos fazendo claramente não está funcionando.
Deixe-me fazer uma analogia. As máquinas de votação devem atender a dois requisitos. Elas devem contar os votos com precisão, e as pessoas devem acreditar que elas contam os votos com precisão. O segundo requisito é distinto e tão importante quanto o primeiro.
O mesmo acontece com os jornais. Devemos ser precisos, e devemos ser acreditados como precisos. É uma pílula amarga de engolir, mas estamos falhando no segundo requisito. A maioria das pessoas acredita que a mídia é tendenciosa. Qualquer um que não veja isso está prestando pouca atenção à realidade, e aqueles que lutam contra a realidade perdem. A realidade é uma campeã invicta. Seria fácil culpar os outros por nossa longa e contínua queda na credibilidade (e, portanto, declínio no impacto), mas uma mentalidade de vítima não ajudará. Reclamar não é uma estratégia. Devemos trabalhar mais para controlar o que podemos controlar para aumentar nossa credibilidade.
Os endossos presidenciais não fazem nada para inclinar a balança de uma eleição. Nenhum eleitor indeciso na Pensilvânia vai dizer: "Vou com o endosso do Jornal A". Nenhum. O que os endossos presidenciais realmente fazem é criar uma percepção de parcialidade. Uma percepção de não independência. Acabar com eles é uma decisão de princípios, e é a certa. Eugene Meyer, editor do The Washington Post de 1933 a 1946, pensou o mesmo, e ele estava certo. Por si só, recusar-se a endossar candidatos presidenciais não é suficiente para nos mover muito para cima na escala de confiança, mas é um passo significativo na direção certa. Gostaria que tivéssemos feito a mudança antes do que fizemos, em um momento mais distante da eleição e das emoções em torno dela. Isso foi um planejamento inadequado, e não uma estratégia intencional.
Gostaria também de deixar claro que não há nenhum “quid pro quo” (algo em troca de algo) de qualquer tipo em ação aqui. Nem a campanha nem o candidato foram consultados ou informados em nenhum nível ou de nenhuma forma sobre essa decisão. Foi tomada inteiramente internamente. Dave Limp, o presidente-executivo de uma das minhas empresas, a Blue Origin, se encontrou com o ex-presidente Donald Trump no dia do nosso anúncio. Suspirei quando descobri, porque sabia que isso daria munição para aqueles que gostariam de enquadrar isso como algo diferente de uma decisão baseada em princípios. Mas o fato é que eu não sabia sobre a reunião de antemão. Nem mesmo Limp sabia sobre isso com antecedência; a reunião foi agendada rapidamente naquela manhã. Não há conexão entre ela e nossa decisão sobre endossos presidenciais, e qualquer sugestão em contrário é falsa.
Quando se trata da aparência de conflito, não sou um dono ideal do The Post. Todos os dias, em algum lugar, algum executivo da Amazon ou da Blue Origin ou alguém de outras filantropias e empresas que possuo ou nas quais invisto se reúne com autoridades governamentais. Certa vez, escrevi que o The Post é um "complexificador" para mim. É, mas acontece que também sou um complexificador para o The Post.
Você pode ver minha riqueza e interesses comerciais como um baluarte contra a intimidação, ou pode vê-los como uma rede de interesses conflitantes. Somente meus próprios princípios podem inclinar a balança de um para o outro. Garanto que minhas opiniões aqui são, de fato, baseadas em princípios, e acredito que meu histórico como proprietário do The Post desde 2013 respalda isso. Você é, claro, livre para fazer sua própria determinação, mas eu o desafio a encontrar uma instância nesses 11 anos em que eu tenha prevalecido sobre alguém no The Post em favor dos meus próprios interesses. Isso não aconteceu.
A falta de credibilidade não é exclusiva do The Post. Nossos irmãos jornais têm o mesmo problema. E é um problema não apenas para a mídia, mas também para a nação. Muitas pessoas estão recorrendo a podcasts improvisados, postagens imprecisas nas redes sociais e outras fontes de notícias não verificadas, que podem rapidamente espalhar informações erradas e aprofundar as divisões. O Washington Post e o New York Times ganham prêmios, mas cada vez mais falamos apenas com uma certa elite. Cada vez mais, falamos conosco mesmos. (Nem sempre foi assim — na década de 1990, alcançamos 80% de penetração domiciliar na área metropolitana de DC).
Embora eu não force e não vá forçar meu interesse pessoal, também não permitirei que este artigo fique no piloto automático e desapareça na irrelevância — tomado por podcasts não pesquisados e farpas de mídia social — não sem uma luta. É muito importante. Os riscos são muito altos. Agora, mais do que nunca, o mundo precisa de uma voz credível, confiável e independente, e onde melhor para essa voz se originar do que a capital do país mais importante do mundo? Para vencer esta luta, teremos que exercitar novos músculos. Algumas mudanças serão um retorno ao passado, e algumas serão novas invenções. A crítica será parte integrante de qualquer coisa nova, é claro. Este é o jeito do mundo. Nada disso será fácil, mas valerá a pena. Sou muito grato por fazer parte deste esforço. Muitos dos melhores jornalistas que você encontrará em qualquer lugar trabalham no The Washington Post, e eles trabalham arduamente todos os dias para chegar à verdade. Eles merecem ser acreditados”.
Apesar de ao final do texto pedir credibilidade aos jornalistas do The Washington Post, sentimos um pouco de alento quando um bilionário se recusa a influenciar eleitores para votar em um ou outro candidato, deixando que o eleitor escolha livremente.
Talvez seja um inicio de mudanças. Talvez sirva de lição aos proprietários dos grandes jornais brasileiros.
Um bom final de semana a todos.
Carlos Sampaio
Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)