O açoite mental. Fuja dele. E você, está bem?

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Uma nação é feita de história, e, hoje estamos vivendo uma espécie de plena transição de uma sociedade servil, passando pela inércia, e agora, de alguma maneira, reativa. Isso é fruto do autoconhecimento coletivo que pode avançar anos a fio para surtir efeitos de desenvolvimento humano, social e político.

Vamos nos ater a um período relativamente curto e seus personagens que carregam esse viés de transformação. A imprensa, seja ela informativa ou de entretenimento, ampliada por questões políticas, culturais e econômicas, nos deixa uma lição.

A imprensa de notícias atua de maneira peculiar, porém, maliciosa e perniciosa nesse ponto. Há tempos, a imprensa aprendeu a bajular, mas também sabe trabalhar o emocional das pessoas. De algum tempo pra cá, sei lá, talvez 10 ou 20 anos, esse discurso da existência do ódio vem sendo jogado na conta de um espectro político, neste momento, sempre contra a direita e o conservadorismo.

Mas para que isso tenha efeito na percepção popular, digamos assim, é preciso manter um sentimento pesado de raiva nas pessoas. Se prestarem a atenção, veremos que uma notícia, por exemplo, de uma covardia contra um idoso ou uma criança, ou cenas de violência entre duas pessoas ou em grupos, é levado à telinha, à internet e à mídia de rádio ou impressa, à exaustão. Já cansamos de ver um jornal de televisão repetir inúmeras vezes esses tipos de cenas. Enquanto o repórter ou âncora de jornais vão narrando os casos ou discorrendo textos a respeito, a cena é repetida inúmeras vezes. 

Esse tipo de atuação, ao olhar de quem a veicula, tem vários aspectos importantes. Não é mentira, o fato está ali, filmado; o telespectador assiste incólume despertando um sentimento de raiva que fica estabelecido em seu subconsciente, trazendo uma sensação de “normalidade” ou de insensibilidade ao ato em si. Ou seja, o próprio cidadão age como se a violência fosse uma coisa rotineira e usual, ainda que sinta perplexidade (transformada em raiva); esse tipo de notícia vende, rende grana aos veículos de comunicação. Haja vista que existem programas que só tratam desse tipo de tema. Hoje em dia, cada canal tem um “Brasil Urgente” para chamar de seu.

Há uma rotina na imprensa e suas diversas mídias, que é manter a raiva e o ódio entranhados na população de maneira sistêmica. Essa ordenança vem acontecendo há décadas, e piora cada vez mais, causando um transtorno coletivo bem conveniente ao poder. É daí que nasce, por exemplo, o tal gabinete do ódio, uma criação midiática para subjugar as pessoas. Tem gente que fala em fascismo e extremismo, sem a menor noção do que seja. Vomitam essas expressões como ponto final de sua verdade.

O objetivo, imagino eu, é para dar lastro e uma falsa sensação de certeza às narrativas que a esquerda e o progressismo lançam para dominar as mentes. E deve dar resultado, a ser estudado com profundidade, por que o que existe de energúmenos por aí não está escrito. Eu, particularmente, chamo isso de preguiça mental, onde o sujeito não pensa por si, e sim, pela cabeça do outro.

Vejam nesta manchete de um portal de notícias: “Caso sargento Dias: Justiça manda soltar réu pelo assassinato”. A notícia não é mentirosa. De fato, o réu, no caso o Welbert de Souza Fagundes que assassinou um policial militar, o Sargento Roger Dias, em janeiro deste ano em Belo Horizonte teve seu alvará de soltura emitido. A notícia dá conteúdo à plataforma jornalística, que por sua vez vende espaços comerciais. E por fim, a pessoa que lê, evidentemente, sabendo do que se trata, sente, instantaneamente, uma raiva descomunal. Como pode a justiça soltar um assassino? Mas, a bem da verdade, ele não foi parar nas ruas. Ele continuará sob a custódia do estado num hospital psiquiátrico (está no texto da matéria). Não precisamos entrar no mérito da decisão, se o assassino tem problemas psíquicos ou não. Estamos aqui buscando razões para esse lado de dominação generalizada. 

Qual interesse em publicar a manchete incompleta? Atrair o leitor, e simultaneamente, fomentar a raiva? É assim que eu vejo. A imprensa age como se fosse uma mantenedora do ódio.

Há casos e casos como esse. O mais evidente é a tentativa de assassinato do então candidato à presidência, Jair Bolsonaro, em 2018. Seu algoz, Adélio Bispo, apesar de todas as evidências, tem por sua defesa, a tentativa de transferi-lo para um hospital psiquiátrico. O mais grave, é, que assim, há a consideração de inimputabilidade dos criminosos.

Quem se lembra das novelas mais antigas? Com o passar dos tempos, os vilões ficaram cada vez mais perversos. Os requintes de crueldade são explorados sem o menor pudor. Sem falar na erotização e sexualização de personagens, além da naturalização de gênero. A Pequena Órfã de 1968, Nino, o Italianinho de 1969, A Fábrica de 1971, Cavalo de Aço e Roque Santeiro de 1973, entre outras, eram telenovelas, verdadeiros romances, que alcançaram estrondoso sucesso, mas seus “vilões”, se comparados aos que se sucederam, eram de uma ingenuidade angelical. Chega a dar saudade! 

É fácil, entender. Se podemos usar a arte de prender a atenção do telespectador sem apelações, o que está por trás das maldades “noveleiras” que passaram por um filtro de violência e fenômenos perversos físicos, sociais, políticos, sexuais e estruturais, que quebram a ordem naturais das coisas? A pressão psicológica e a abstração são dois elementos que atuam fortemente na sociedade. As últimas gerações não têm como refletir e enxergar essas nuances do tempo. Eles só conhecem este lado da moeda, a referência que tem, o que equivale dizer, que para eles é normal, e uns acham até legal. Enaltecem vilões como Alexandres Neros, Nazarés Tedescos, Odetes Roitmans e Carminhas da vida. Longe de mim desqualificar os talentos dos atores, pelo contrário; por serem de ótima performance, dão vida aos personagens como nunca.

Não acompanham o que martelam na sua cabeça o dia todo a respeito do clima? Todo dia tem manchete dizendo que vai chover morte.

Enfim, a sociedade brasileira está imersa num conjunto de vilania sem fim. Há até quem aplauda as maldades impetradas por um certo ministro do STF! Já deu até em morte!   

Portanto, caros leitores, só existe um único remédio para nos defender: o senso crítico. É preciso desenvolver a percepção do senso crítico, do olhar periférico da moralidade. É esse senso crítico que pode mudar o conceito que temos da vida.

Não à toa, dizem que futebol e carnaval são as maiores DISTRAÇÔES do povo brasileiro. Pode incluir aí os shows e festivais, alguns que duram dias, cada vez mais pirotécnicos e tecnológicos, que nos sequestram da realidade.  

Foto de Alexandre Siqueira

Alexandre Siqueira

Jornalista independente - Colunista Jornal da Cidade Online - Autor dos livros Perdeu, Mané! e Jornalismo: a um passo do abismo..., da série Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Visite:
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