Uma análise realista sobre o imóvel adquirido pelo casal Lula e Marisa Letícia
14/07/2017 às 08:07 Ler na área do assinanteLula tinha que ser condenado não pela posse do tríplex, mas por ter se apossado DAQUELE tríplex.
Talvez não o tenha escolhido (vamos dar-lhe o benefício da dúvida). Vai ver, foi imposição do Léo Pinheiro (‘Ou fica com esse triplex ou vai receber a propina em ficha de orelhão’), e ele aceitou, a contragosto.
Porque não há como olhar para o edifício Solaris, com aquele mal-entendido encarapitado lá em cima, e não sentir subir pela espinha o horror à classe média de que falava a Marilena Chauí.
Tudo ali é medíocre, ordinário, feio. De uma feiura tão ostensiva, tão intencional, que chega a comover, como comovem os grandes desastres.
Aquilo é um tropeço, um engano - as janelas espiando de soslaio, as varandinhas acanhadas feito riso de banguela.
Nem parece, a rigor, um tríplex. São três andares empilhados - e algo me diz que furaram a laje num canto, botaram uma escadinha em caracol, derrubaram a parede de um quarto para aumentar a sala (deixando um pilar perdido e uma viga aparente) e... salta um tríplex ao ponto pro freguês da mesa 13!
Dilapidaram uma fortuna naquilo. Tipo asfaltando estradinha de chão. Porque estradinha de chão você pode asfaltar à vontade que ela vai ser, no máximo, uma estradinha de chão asfaltada - nunca vai ser uma rodovia.
E o sindicalista que tirou 30 milhões de brasileiros da miséria, que foi Doutor Honoris Causa em Coimbra mesmo sendo analfabeto funcional, que botou a classe D nas filas de ‘chequim’ dos aeroportos, que transpôs o Rio São Francisco - e elegeu um poste! - não foi capaz de olhar para aquilo e se dar conta de que iria habitar um equívoco.
Era um caso clássico de alma de pobre, como bem apontou o desaparecido prefeito Eduardo Paes. Pobre no sentido de desapetrechado de requinte, sem refinamento, porque o (nosso) dinheiro não lhe faltava.
Podia ter o imóvel que quisesse, no endereço que escolhesse. Escolheu (ou dona Marisa o obrigou a escolher, nunca se sabe) aquilo.
Que nem chega a ser de mau gosto (nem isso!): é só sem gosto algum.
Um caixote bege e branco, cuja volumetria lembra uma cômoda de gavetas entreabertas.
Uma fachada com cara de fundos.
Pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, nove anos e meio tá bom. Pela indigência estética, merecia o dobro.
A propósito, aquilo é coisa de engenheiro. Só pode.
Eduardo Affonso
Eduardo Affonso
É arquiteto no Rio de Janeiro.