Como apodrece uma nação

26/10/2024 às 15:10 Ler na área do assinante

“Se um país é regido pelos princípios da razão, a pobreza e a miséria são objeto de vergonha. Se um país não é regido pelos princípios da razão, a riqueza e as honras são objeto de vergonha”. (Confúcio (século V. a. C.).

Rui Barbosa viveu e atuou durante o final do século XIX e primeira metade do século XX. Tinha um cérebro privilegiado. Foi chamado de “Águia de Haia” por sua brilhante atuação como diplomata. Defendeu na Holanda, entre diversos temas proeminentes, o direito de igualdade entre as nações. Aos 21 anos formou-se em direito. Homem de ação e não somente de palavras filiou-se do Partido Liberal, e defendeu “as eleições diretas, a liberdade religiosa e o regime federativo, com discurso abolicionista, lutou pela libertação dos escravos sexagenários no Parlamento do Império”.

Rui foi ainda, jurista, advogado, político, diplomata, escritor, filólogo, jornalista, tradutor e orador. Um exemplo para qualquer brasileiro que ama a nação. Esse gênio tupiniquim criticou de forma veemente a Terra dos Papagaios rasgando o véu que sempre encobre os poderosos e desmascarando os ladrões do erário público, bem como nosso subdesenvolvimento. 

Como acontece a todos os gênios, seu pensamento continua moderno e se encaixa como uma luva nos dias atuais, como você verá no decorrer do texto.

Sobre a patifaria que grassa no Brasil e sobre o apodrecimento que corrói as mentes dos brasileiros que são alienados pelos políticos e autoridades, afirmou:

- “Ora, onde não entra o sol, não entra a saúde, onde não entra a luz, não entra o asseio, onde não entra a claridade, não entra a ordem, a pureza, o contentamento. A vida que se desenvolve nas trevas. é a vida baixa, descorada, maligna dos miasmas, das sevandijas e dos ratos, a vida triste, infecta e odiosa das masmorras, dos subterrâneos e dos esgotos.
Quando os governos alugam os jornalistas, para enganarem a nação e o estrangeiro; quando os governos assalariam os telégrafos, para intrujarem no país e no exterior; quando os governos venalizam os legisladores, para servirem às suas ordens e cobrirem os seus crimes, a vida nacional fugiu do ar livre, e, subterrada na obscuridade, não gera senão bafios, minhocas, escorpiões e lesmas.
É uma política feita no porão, hoje, a política brasileira: no porão, lugar do escuro, lugar da garrafeira e da paparoca, lugar do milho e do lixo, lugar das fortunas envergonhadas e dos baixos contrabandos, lugar das traições famulatícias e das conspirações de cozinha”.

E foi numa conspiração de cozinha que Lula, condenado a 12 anos de cadeia por assalto aos cofres públicos, foi solto e hoje é presidente.

E foi e continua no escuro do porão, lugar da garrafeira e da paparoca, o Impeachment dos Ministros do STF. No porão permanecem, vigiados, atenciosamente, pelo cão de guarda Rodrigo Pacheco. 

Pacheco rosna contra qualquer um que ouse exigir que os Ministros que se acham donos da Terra dos Papagaios e que possuem dezenas de processos, sejam julgados:

Esses deuses da Terra dos Papagaios, por sua vez, julgam e processam qualquer brasileiro quando bem entendem e quando querem. Eles são a justiça. As leis escritas nos códigos penais nunca os alcançam. Eles são as leis. Suas palavras preferidas são: bolsonarista, estado democrático de direito e terroristas. Afirmam que seus atos (ilegais) salvaram e continuam salvando a democracia brasileira.

Mas seus processos e os crimes dos quais estão sendo acusados nunca são julgados. É uma heresia pensar isso.

Descendo um pouco mais no porão escuro da Terra dos Papagaios vemos a 2ª escala mais alta da justiça: os Desembargadores! No momento atual alguns deles estão enrolados na operação “Ultima Ratio”. Essa operação afastou cinco desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul nesta quinta-feira (24) e identificou que o esquema de venda de sentenças utilizava fazendas milionárias para a lavagem de dinheiro.

Foram afastados dos cargos: o presidente do TJ, Sérgio Fernandes Martins, os desembargadores Vladmir Abreu, Sideni Pimentel (eleito para comandar o TJ a partir de 2025), Alexandre Aguiar Bastos e Marcos José de Brito Rodrigues. Além deles, o conselheiro do TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado de MS), Osmar Jeronymo, também foi afastado do cargo.

Todos usarão tornozeleiras eletrônicas.

Eles são supra-sumo do judiciário. A parte mais rica da nação. São os detentores dos mais altos salários.

É a vergonha das vergonhas.

E temos 81 senadores que não se mexem para julgar os “Supremos”. E aqui entra novamente o grande Rui Barbosa:

- “Eis aí, senhores, como apodrece uma nação. E quando uma nação apodrece, quem são as vítimas da gangrena? As classes ociosas? As classes parasitárias? As classes estéreis? As classes gangrenadas? Não. Estas constituem o próprio tecido gangrenoso, e da gangrena subsistem. Essas nada têm, senão que lucrar, porquanto medram no podredouro, nas miasmas se criam, e com decomposição recrescem.
Com a dissolução pública os que se arruínam, são as classes que, aqui, neste momento, me rodeiam, essas classes de que se forma o tecido celular da comunidade”.

O tecido celular da comunidade é o que chamamos de povão. São eles as vítimas. São os que pagam impostos. São os trabalhadores da lavoura, do comércio, da indústria e demais trabalhadores da parte baixa da nação. São eles que pagam os desequilíbrios financeiros, os déficits do orçamento, as verbas arrebentadas, os créditos extraordinários, os empréstimos onerosos, os maus negócios do tesouro, as viagens do presidente e sua mulher. Sim, é o povão quem paga.

E o que recebe de volta o povão? Uma boa educação pública, obrigatória, gratuita e laica, isenta de ideologias de qualquer tipo, que prepare o homem para o trabalho e para o exercício da cidadania? Bom atendimento quando adoece? Um transporte decente quando vai ao trabalho? Segurança quando volta para casa? Um salário digno?

Isso é apenas um sonho distante.

Vamos descer um pouco mais no porão das fortunas envergonhadas e dos baixos contrabandos e chegamos aos “artistas” de esquerda, aos intelectuais de botequim, aos professores universitários e a nova educação com o “C”... e a todos os “inocentes úteis” que colocaram um ex-condenado de justiça a 12 anos de cadeia na presidência da Terra dos Papagaios.

Observe como uma mão lava a outra. A notícia é da revista Veja:

"Vai Passar: Um musical carnavalesco ao som de Chico Buarque" terá temporadas de dois meses no Rio e em SP e apoio cultural do governo Lula
Com temporadas de dois meses no Rio de Janeiro e dois em São Paulo, a produção tem incentivos de 4,3 milhões de reais do Programa Nacional de Apoio à Cultura do governo do amigão Lula.
O projeto tem como objetivo a produção, montagem e temporada do espetáculo musical original escrito por Pedro Cadore e Yasmin Gomlevsky a partir da obra de Chico Buarque, com temporada de dois meses no Rio de Janeiro e dois meses em São Paulo. O projeto contará também com dois ensaios abertos e duas palestras como contrapartida social”. (Revista Veja - Robson Bonin).

Chico Buarque é aquele mesmo “artista” que lutou com unhas e dentes para que Lula virasse presidente. Em 2017 conseguiu reunir em um abaixo-assinado 400 cantores, intelectuais, influenciadores, acadêmicos, escritores, lideres de movimentos sociais, entre eles o teólogo Leonardo Boff, o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão (subprocurador da República), o escritor Fernando Morais, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Bete Mendes, Marieta Severo, Dira Paes, Fábio Konder Comparato e João Pedro Stédile.

Todos pediam que o semianalfabeto e ex-condenado de justiça se tornasse candidato a Presidência da República.

Todos sabiam que seriam recompensados.

É assim que apodrece uma nação. E novamente Rui:

- “É um país reduzido a pastos dos seus governantes, é anima vilis dos seus charlatães, é um país vaca de leite, um país gado de açougue, um país carniça de hospital. Sua administração, sua política e seu governo, fundados na incompetência, regidos pelo nepotismo, arruinados pelo desbarato financeiro, resume-se numa só palavra: dilapidação”.

Dilapidado está o país, pois as noticias que trazem os jornais são que todas as estatais que estavam saneadas, limpas e dando lucro no governo Jair Bolsonaro, todas estão dando prejuízo:

- “Lula acumula em 2 anos o maior rombo de estatais do século”.
“As empresas estatais federais, estaduais e municipais registraram déficit de R$ 9,76 bilhões em valores corrigidos pela inflação (a preços de setembro) durante o 3º mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). É o maior saldo negativo do século 21 em menos de 2 anos (2023 e 2024)”. (Poder360- 19.out.2024).
- “Estatais têm rombo de R$ 7,2 bi em 2024, maior da história, e governo prepara mudança em empresas”.
- “As empresas estatais de União e estados tiveram um rombo de R$ 7,2 bilhões entre janeiro e agosto deste ano, segundo dados do relatório de estatísticas fiscais do Banco Central (BC). Este é o maior déficit registrado na série histórica iniciada em 2002”. (OGlobo-18/10/2024).
- “Estatais têm rombo de R$ 7,2 bi em 2024, o maior em 22 anos”.
“Déficit acontece quando os gastos das empresas públicas são maiores do que o que entra em caixa. Estatais são empresas controladas pelo governo, e esse rombo afeta diretamente as contas públicas. O Executivo pode ter que cobrir os valores com mais recursos, resultando no endividamento do país e menos dinheiro para gastar com outras áreas, como saúde, educação e infraestrutura”. (CNN, Brasília-11/10/2024).

E finalizo com a modernidade e a atualidade das palavras de Rui Barbosa proferidas no inicio do século passado. Elas mostram que o país estacionou e que nada mudou:

- “Mas a política brasileira é radicalmente amoral, é, convencida e professa- mente, imoral. Renegou a moral, caluniando as nossas instituições com a profissão de irreligiosidade, que eles confundem com a liberdade religiosa. Renegou a moral, estabelecendo como coisas distintas duas leis de moralidade: uma para os indivíduos, outra para o Estado”.

Nota - Agradeço a correção feita no texto anterior pela leitora e comentarista Denise Oliveira E Silva que observou, corretamente, que o nome da jornalista é Lúcia Guimarães e não Lúcia Veríssimo, como aparece no texto. Um deslize imperdoável de meu teclado. Obrigado. E minhas desculpas a Lúcia Veríssimo.

Um bom final de semana a todos.

Carlos Sampaio

Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

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