As garras do MPF se precipitam contra o mito

16/07/2015 às 20:48 Ler na área do assinante

O Ministério Público Federal decidiu nesta quinta-feira (16) abrir formalmente processo investigativo para apurar em que condições se davam as atividades entre o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a construtora Odebrecht.

Essas relações visavam, sabidamente, abrir caminhos para a construtora brasileira nos mercados internacionais, principalmente, em Cuba e República Dominicana.

Em maio deste ano, a Revista Época, já havia trazido a público que a Odebrecht, a partir do final de 2010, convidou o ex-Presidente para ser uma espécie de viabilizador de seus negócios em obras noutros países, um lobista.

Para tanto, a Odebrecht disponibilizava às suas expensas, voos fretados e acomodações de luxo para que Lula se deslocasse para os países onde haviam interesses a serem explorados.

Lula, nestas ocasiões, ministrava palestras para empresários e governos estrangeiros vendendo virtudes da empresa nacional que muito poderiam contribuir com os planos de investimentos daqueles países. Por essas palestras a Odebrecht também remunerava o ex-Presidente. Dizia a reportagem de então, qualquer coisa em torno de centenas de milhares de Reais.

Consta também que a empresa Exergia Brasil, de Taiguara Rodrigues dos Santos, teria conseguido ganhar várias obras no continente Africano logo após Lula ter viajado para aquela região, com dinheiro da Odebrecht. Taiguara é filho de Jacinto Ribeiro dos Santos, amigo pessoal de Lula e irmão de sua ex-esposa.

Embora não haja nenhum indício de ilicitude nesta atividade, posto que, Lula era à época cidadão comum, a notícia revelada por Época não trouxe quase ou nenhum aborrecimento para ninguém.

Ocorre que, agora que a Odebrecht foi arrastada para dentro da Operação Lava-jato, e seu Presidente, Marcelo Odebrecht, está preso, as relações com Lula passaram a ser mais cuidadosamente observadas pelo MPF. Especialmente, tendo em conta que, a Odebrecht logrou êxito para tocar obras de vulto naqueles países e, mais especialmente ainda, porque nas mesmas épocas a construtora conseguiu vantajosas linhas de crédito junto ao BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

O gatilho para essa iniciativa, certamente, vem se armando com as denúncias e revelações que vão se desenhando nas delações premiadas, muito embora, o próprio Presidente da Odebrecht ainda não tenha prestado depoimento.

Por tudo que se tem revelado neste último ano, desde a deflagração da Operação Lava-jato, muitos personagens de elevado status político e empresarial passaram a frequentar as páginas policiais da grande mídia, indicando que o perigo se aproximava, cada vez mais, das mais altas autoridades do país.

Lula deve ser sim investigado, mas não se pode perder de vista que, no Brasil não é crime representar qualquer empresa que seja, usando da força da figura pública. Lula não era mais Presidente do Brasil quando iniciou sua parceria com a construtora, mas sim, um cidadão civil com grande projeção dentro e fora do país. O problema está em estabelecer se, de fato, essa relação teve início no tempo apontado pela Revista, pois, caso contrário, poderá se confirmar fortes indícios de tráfico de influência, o que é, sim, crime. Ademais, não se pode esquecer que, embora Lula não fosse mais Presidente, sua presença praticamente constante no Palácio do Planalto e suas reuniões com ocupantes de altos cargos do Governo Dilma, muitos dos quais indicados por ele próprio, implique sua extraordinária força para influir decisões governamentais, ainda que, meramente como Presidente de Honra do partido de Poder, o que, por si só, macula a República.

O Instituto Lula, manifestou-se nesta tarde alegando estranhar a abertura do inquérito investigativo, uma vez que, atendendo solicitação da Procuradora Mirela Aguiar, presidente do inquérito, encaminhou àquele órgão todos os documentos solicitados há menos de uma semana.

São componentes altamente combustíveis. Se Lula usou de sua influência junto ao Governo Federal para vender facilidades para particulares, ainda que, como cidadão civil, e logrou com isso receber dinheiro ou bens para si ou para outrem, incidiu num apanhado considerável de crimes que podem lhe render um futuro na cadeia e o desmoronamento irreversível de figura do todo poderoso deus de barro; um ídolo que se acaba.

José Tolentino

Editor do Jornal da Cidade Online

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