A falsa sinalização de virtude não salvará os democratas

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A cobertura das eleições americanas realizada pela grande mídia brasileira é um roteiro batido: apresentar os democratas como heróis carregados de um humanismo cativante e os republicanos como vilões desprezíveis.

É a luta do bem contra o mal – apesar do espírito secular e mesmo antirreligioso da “nossa” classe jornalística. Donald Trump não é a causa. Muito antes dele, George W. Bush apanhou bastante dos mesmos algozes – apesar do seu servilismo ao mainstream esquerdista ter melhorado um pouco a sua imagem pública.

Pois bem, a atual querela entre o ex-presidente republicano e a atual vice democrata, Kamala Harris, não foge do script corriqueiro. É até mais perceptível: uma candidata mulher e negra, prato cheio para os identitários destilarem a verborragia sinalizadora de virtude igualmente desgastada. Sim, porque quem tem mais de dois neurônios em pleno funcionamento não se importa com o gênero e a cor, e sim com os predicados – ou a ausência deles – de quem ocupará o cargo mais importante do planeta.

Essa cartilha politicamente correta anima jornalistas que não informam, estudantes que não estudam – Roberto Campos sempre teve razão – e demais revolucionários de condomínio, não pessoas comuns, o Homer Simpson.

No mundo das fake news propagadas justamente por quem se arvora dono da verdade, é difícil ter uma fonte totalmente confiável. Quanto às eleições americanas, gosto do agregador de pesquisas do Real Clear Politics. E no que o RCP mostra, o cenário para Harris não é nada animador: ela está atrás de Trump em todos os Swing States – estados que costumam dar vitórias a democratas e republicanos a depender das circunstâncias.

Até mesmo em Nevada, que é um estado azul desde 2008, o ex-presidente está na frente. Se o resultado das pesquisas estiver correto, Trump obterá 312 votos no Colégio Eleitoral – o número necessário para a vitória é 270.

As razões para tal quadro são inúmeras. O mandato do presidente Joe Biden foi um fiasco completo.

Eleito após uma disputa altamente controversa – para dizer o mínimo – com a promessa de recolocar o país na normalidade, o tarimbado democrata deixará a presidência com apenas 40% de aprovação popular.

O aumento no custo de vida provocado pela inflação graças aos mirabolantes pacotes de gastos na pandemia, a saída desastrosa do Afeganistão, uma imigração ilegal sem controle e um quadro geopolítico com duas guerras iniciadas por tradicionais inimigos dos Estados Unidos compõem seu desastroso legado.

Os adultos estavam de volta ao comando, bradou um jornalista americano com a posse de Biden. Pelo jeito, o que se viu foi justamente o contrário. E Kamala estava lá, era vice dele, fez parte disso.

A falta de entusiasmo com ela pode ser medida na declaração de Barack Obama: o ex-presidente sacou a carta do machismo ao falar que ‘’muitos temem uma mulher na presidência’’. Quando tudo indica que a vaca vai para o brejo, nada resta ao esquerdismo chiliquento a não ser vomitar sinalização de virtude, além de demonizar os recalcitrantes e colocar em suas testas o selo de deploráveis – como fez Hillary Clinton na eleição de 2016. Quanto ao homem, ele é isto mesmo: um outdoor ambulante de vitimismo. Pouco importa que o mesmo duplicou a dívida pública americana, passou por cima do Congresso americano e da ONU – longe de mim morrer de amores pelo Leviatã globalista, mas ela existe e deve servir para algo de bom – ao entrar na Guerra da Líbia, enfiou o seu país em acordos comerciais desastrosos e aumentou a divisão interna ao mesmo tempo que prometeu curá-la. Obama é um fiasco completo, e por isso mesmo é idolatrado pela esquerda antiamericana lá e aqui.

Não somente os figurões do establishment democrata tentam salvar Kamala: a grande mídia americana é parte desse esquema podre. A mais nova patacoada foi empreendida pela CBS: o canal simplesmente editou sua entrevista ao programa 60 minutes para fazê-la parecer uma pessoa razoável, pois a realidade foi um vexame típico de Dilma Rousseff – não encham meu saco, canceladores enragés, foi apenas um exemplo. O fato é a milionésima autópsia da morte do jornalismo, pois o que se pratica em seu lugar é militância política de esquerda pura e cristalina. A FOX News, apesar das minhas ressalvas pessoais, ainda consegue salvar um pouco da dignidade jornalística e fez isso ao exibir uma entrevista com a vice-presidente sem cortes ou edições. Ali foi a Kamala real, não o produto de marqueteiros dos bastidores e da imprensa. Pois bem, o desastre foi o esperado e não há como fugir disso.

Volto a falar das pesquisas. Com a ressalva de que elas costumam errar a favor dos democratas, dá para ter algum prognóstico. Se a média do RCP estiver correta, o Partido Republicano obterá maioria nas duas casas. Nos dois primeiros anos de mandato, Trump teve tal cenário, mas os RINOs – republicans in name only, ou seja, republicanos só no nome – sabotaram a sua plataforma política e atrapalharam a vida do então presidente em votações importantes como a revogação do Obamacare. Agora é diferente. Muitos centristas e mesmo liberais – no sentido americano do termo – saíram do partido ou foram derrotados nas urnas, deixando o caminho livre para os identificados com a agenda MAGA, que também não é uma perfeição, mas é certamente melhor que o oferecido por Mitt Romney, Liz Cheney e tutti quanti.

O resultado nas urnas, apesar do prognóstico nada favorável a Kamala e aos democratas, permanece imprevisível. Porém, uma coisa é certa: o monopólio das virtudes não é deles. Eles não são os donos das boas intenções, apesar da vergonhosa tomada de partido da grande mídia pela esquerda. Tal sinalização de virtude é falsa e não os salvará de uma acachapante derrota.

Foto de Carlos Júnior

Carlos Júnior

Jornalista

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