Pesquisas eleitorais: uma TORRE DE BABEL numérica. Na apuração, a realidade é só um detalhe!

21/10/2024 às 07:09 Ler na área do assinante

A cada dia que passa no período eleitoral, a sensação que nos dá é que o povo começa a fazer uma leitura mais crítica das pesquisas eleitorais. O voto útil está virando voto fútil.

A começar pelas discrepâncias que estas pesquisas indicam entre si. É um disparate atrás do outro. Tentam, na reta final, trazer um pouco mais de lucidez aos números que apresentam, e com isso tentar salvar da implosão que eles mesmos cometem, contra si e contra seus protegidos. A gama de informação é muito grande, com situações que vão do abstrato à mentira pura, descarada. E eles se aproveitam disso. O que não contavam é que essa percepção dos eleitores que comento aqui, está ficando mais afinada a cada eleição.

Só para não passar batido, até mesmo a diferença da cobrança pelos serviços prestados de pesquisas, são alarmantes. Vão de R$10.000,00 a R$90.000,00, com média de R$45.672,50. Os contratantes são, em sua maioria, a própria imprensa. 

Fiz um pequeno raio X das últimas seis pesquisas (veja ao final da matéria) - Datafolha, Instituto Paraná, Futura, Quaest, Real Time e Doxa, para o 2º turno em Belo Horizonte, entre o candidato Bruno Engler e o atual prefeito, Fuad Noman. São pesquisas divulgadas entre os dias 10 e 17 de outubro, lembrando que o 1º turno ocorreu no dia 6. 

Por motivos óbvios, penetrei um pouco mais na análise em Belo Horizonte, nascido aqui, e porque é a eleição que participo. Mas se avaliarem em outras cidades, especialmente nas capitais, o que encontrarão não foge muito disso... 

Não dá para classificar nem mesmo qual seria a maior aberração entre os números que divulgam. Mas vamos pegar a “transferência de votos” e a “decisão do voto” para entender as maldades que se escondem por trás deste “trabalho”.

Das seis pesquisas que apontam para a transferência de votos dos derrotados, Fuad Noman é o que capta o maior número de votos, segundo as pesquisas. Porém, estes números vão de 19,46% (Real Time) a 38,3% (Paraná) em favor de Fuad, enquanto que para Engler variam entre 2,62 (Quaest) a 10,62% (Paraná e Real Time). O máximo a favor do Bruno Engler é a metade do mínimo do Fuad.

Equivale dizer que dos 1.267.794 votos válidos no 1º turno, sendo que a soma dos votos dos derrotados é de 495.499 (sem contabilizar, e considerando que os 136.491 votos brancos e nulos estarão no mesmo patamar), na média das seis pesquisas, Fuad arrebataria por volta dos 25,88% dos votos válidos. Ou seja, a migração de votos dos que ficaram para trás, 328.105 votos seriam transferidos para ele, que somados aos 336.442 votos que recebeu no 1º turno, chegaria próximo a um total de 664.547 votos. Reparem que ele praticamente dobra sua votação do 1º turno.

Já Bruno Engler, ficaria com míseros 7,24% (em média) dos votos válidos, ou 91.788 dos votos dos perdedores. Somados os 435.853 votos que recebeu no 1º turno, ficaria com 527.641 votos.

Leva-se em conta nestes números, que, mais ou menos, 75.600 votos estariam distribuídos entre os que não sabem ou não responderam, segundo tais pesquisas.

Em sã consciência, o que justificaria um candidato receber 66% dos votos dos perdedores e o outro candidato apenas 18,5%, ou 1/3 do concorrente? Não podemos nos esquecer que, teoricamente, dos 495.499 votos dos perdedores, 339.431 são de partidos considerados do espectro político da direita ou dos que ficam com a boca aberta esperando para abocanhar o que lhes for conveniente, conhecidos também por “Centrão”, e 156.068 votos da esquerda ou estrema esquerda. O raciocínio lógico nos leva a crer que dos 328.105 votos transferidos ao Fuad, vamos considerar que 100% dos votos da esquerda vão para ele, então, ele ainda arrecada mais de 51% do restante, ou 172.037 votos. 

Não é muita imaginação para pesquisas eleitorais?   

No que diz respeito a decisão do voto, a contradição é ainda mais clara. Eles precisam ficar inventando moda com números e acabam se embaralhando todo.

Na justificativa do G1 da Globo (pra variar), o fator Decisão de Voto (da Quaest) está assim descrito: “Ao todo, 76% dos eleitores disseram que a escolha do voto para prefeito é definitiva. Outros 24% disseram que ainda pode mudar caso algo aconteça.”

A divulgação da Quaest apresenta votos definidos, os que podem mudar e os que não sabem/não responderam. Fuad Noman tem 77% dos seus eleitores já definidos e 23% podem mudar de voto e 0% (zero) para não sabem. Acho que ficou ininteligível o negócio... Ora, se 23% podem mudar seu voto é porque já o tinham como definido, portanto, estão incluídos nos definidos, mas se ainda não haviam definido, seria mais coerente dizer que 23% não sabem ainda em quem votar. 

Ao Bruno Engler, os números são bem próximos, e incoerente da mesma forma. Definidos são 78%, 22% podem mudar e 0% (zero) não sabem. 

Loucura, não? Queria saber como foi o fator Decisão de Voto no 1º turno, com a votação real do Mauro Tramonte frente a liderança que foi sustentada pelas pesquisas e imprensa desde o início. Havia apostas até que a fatura estaria liquidada sem 2º turno. Será que o “caso algo aconteça” entrou em ação?

Outros dois aspectos que devemos considerar é a confiabilidade nas eleições, afinal de contas, em 2020 erraram na mão no resultado. O eleito para prefeito de Belo Horizonte, aliás, reeleito, teve simplesmente 6 vezes mais votos do que o segundo colocado nas urnas... Inclusive, contrariando a percepção e sensação das ruas da cidade. 

E por outro lado, a imprensa continua sua saga para “premiar” seus leitores e telespectadores com essa TORRE DE BABEL numérica. Não tratam como notícia, mas, sim, como penduricalhos de narrativas que ostentam. Acho até engraçado a seriedade com que eles fazem suas análises, independente da fonte das pesquisas. É uma seriedade fora do comum. A cara nem fica vermelha..., mas, por dentro já sabem qual a cor deles, né? 

Alexandre Siqueira

Jornalista independente - Colunista Jornal da Cidade Online - Autor dos livros Perdeu, Mané! e Jornalismo: a um passo do abismo..., da série Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Visite:
  http://livrariafactus.com.br

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