Bernardo Boldrini: de Três Passos para perto de Deus e da elevação aos altares
12/07/2017 às 12:19 Ler na área do assinanteA cada dia cresce aqui no Rio de Janeiro a devoção a Bernardo Uglione Boldrini. Não são poucas as publicações nos jornais de anúncios sobre a celebração de missa de agradecimento por graças alcançadas através da intercessão de Bernardo. E nesta cidade, que se tornou violenta e perigosa, como é bom saber que a população ainda tem fé e esperança. O que aconteceu com o pequeno Bernardo o país inteiro sabe. E chora tristeza e ódio. Foi crudelíssimo o que fizeram àquela criaturinha, filho de Deus. Daí a indagação: por que o mal existe?
Essa e outras perguntas, tais como: Quem sou? De onde venho e para onde vou? O que existirá depois desta vida? encontram-se nos escritos de Confúcio, na pregação de Tirtankara, de Buda, no poemas de Homero, nas tragédias de Eurípedes, de Sófocles, nos tratados filosóficos de Platão e Aristóteles. E da resposta - diz João Paulo II, na introdução ‘Conhece-te a ti mesmo’, da Encíclica Fides et Ratio - depende efetivamente a orientação que se imprime à existência humana.
A vida dos mártires é sempre dolorosa. Se já não vem ao mundo em meio à dor, o sofrimento da martirização irrompe no curso da vida. Sem clemência. Sem piedade. A todos apanha. Mesmo os de tenra idade, como foi o caso dos inocentes-mártires de Herodes.
Bernardo também era uma criança. Tinha apenas 11 anos. Carinhosamente, desde o berço, passou a ser chamado de ‘Bê’. Faltou-lhe a mãe, e daí em diante restou abandonado. Fora de casa, teve os cuidados de parentes outros, de vizinhos, das famílias de seus amiguinhos...Mas o que ‘Bê’ queria mesmo era o amor do pai. E não teve. E ‘Bê’ foi brutalmente imolado por seus algozes no dia 4.4.2014. Seu frágil corpinho permaneceu enterrado numa cova, próximo a um rio, no interior da cidade gaúcha de Frederico Westphalen, até 14.4. 2014, quando foi encontrado.
Mas Bernardo não morreu. Bernardo vive. Não a vida transitória que a bestialidade humana com ela acabou. Ele vive a vida que não morre, porque emancipado do carinho e do amor que tanto buscou e não teve e que agora distribui a todos nós. ‘Bê’ não cessa de nos amar, de pensar em nós e por nós. Todos nós. Basta lhe direcionar o pensamento e pedir que Bernardo vem, atende e cuida de nós. É a dulcíssima imortalidade necessariamente imaterial e incorpórea. E que toda a Humanidade saiba que este nosso Bernardo, de Três Passos, a exemplo de Bernardo, da Borgonha do Século XII, já opera milagres com sua intercessão. Peçam, que serão atendidos. Bernardo sempre está presente.
Como é misterioso o Reino dos Espíritos. É metafísico. É transcendental. Situa-se fora e além do conhecimento e mesmo da percepção humana de todas as gerações, passadas, presentes e futuras. Podemos apenas admirar sua imensidão inalcançável e sentir suas projeções em nós e em nossas vida. Mas - perdão, professor Rivail ( Hippolyte Léon Denizard Rivail, Allan Kardec, 3.10.1804-31.3.1869 ) -, com toda admiração e respeito, compreender o mistério ou tateá-lo, jamais. E que ninguém tema que a pequena Três Passos, do nosso Rio Grande do Sul, com cerca de 25 mil habitantes venha ter seu nome inscrito na História como a cidade que teve o infortúnio de ser o local onde moravam alguns monstros que detestavam crianças. Não. A Três Passos de todos nós brasileiros começa a despontar como a cidade de ‘Um Menino Santo, de nome Bernardo’, como previsto pelo saudoso Antonio Cechin, o irmão marista e militante dos movimentos sociais e ambientais, que faleceu em Novembro de 2016, aos 89 anos de idade.
A nossa Três Passos, de Bernardo, é tão sacra quanto a também pequena Riva, de Domingos Sávio; quanto Assis, de Francisco; Narvonne, de Sebastião; quanto Pádua, de Antonio; quanto Ávila, de Teresa; Guaratinguetá, de Antonio de Sant'Ana Galvão; quanto esta sofrida Rio de Janeiro, de Odetinha, de Guido Schaffer e de Araceli Crespo. E que a constatação de Odilo Scherer, quando o Cardeal falou sobre o "caso Bernardo", de que ‘as crianças e os idosos na sociedade ficam insensíveis e sem vez’, desapareça uma vez por todas de nosso país e de todos os povos. E em seu lugar pontifiquem o carinho e o amor. Sempre. Bernardo viajou de Três Passos para ficar perto de Deus e na elevação dos altares. Bernardo, Bernardo, rogai por nós.
Jorge Béja - Advogado no Rio de Janeiro e especialista em Responsabilidade Civil, Pública e Privada
(UFRJ e Universidade de Paris, Sorbonne). Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)
PS - Após publicação no Jornal da Cidade Online, este texto, tal como publicado, será enviado para o e-mail privativo de Francisco, o Papa que todos os povos reverenciam e de quem tenho a graça de ser seu amigo e correspondente, desde Buenos Aires, quando ainda era Arcebispo da capital argentina.
Jorge Béja
Advogado no Rio de Janeiro e especialista em Responsabilidade Civil, Pública e Privada (UFRJ e Universidade de Paris, Sorbonne). Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)