Quem vai se candidatar em 2018?

16/07/2015 às 06:57 Ler na área do assinante

A nossa visão de futuro começa em 2018, que será o grande momento da inflexão dos rumos políticos brasileiros. Ou a total consolidação de "tudo o que está ai", demonstrando a absoluta resiliência dos políticos e da política patrimonialista que ainda domina o Brasil.

Temos como elemento preponderante dos parlamentares, na conquista do poder, o interesse em se apropriar da renda pública ou da decorrente do seu poder.

Essa motivação faz com que os políticos busquem o financiamento empresarial privado como um investimento, tanto para eles como para os financiadores.

As fontes de renda são basicamente duas: as compras estatais e os atos regulatórios. Ser eleito é visto como um meio para obtenção para os apaniguados ou asseclas de cargos para extorquir do privado uma renda para a sua campanha e para si mesmo: uma forma de enriquecimento.

A candidatura ao legislativo não é pelo interesse em legislar, mas porque é o cargo mais aberto ou favorável para se eleger. Os cargos executivos são poucos e para chegar lá é preciso fazer uma carreira política. 

Para ser deputado é preciso começar como vereador. Para ser Prefeito de grande cidade é preciso fazer sucessiva troca entre a Prefeitura e a Assembléia Legislativa Estadual ou a Câmara Federal. Para ser governador, deve passar pela Câmara ou pelo Senado.

Para todas as carreiras, para todas as campanhas quadrienais é preciso obter recursos financeiros. Busca-os junto aos que tem interesses econômicos junto ao Poder Público, com promessas de retribuição. Estabelece-se uma relação de trocas, nem sempre eivadas de ética e legalidade.

Apesar de submetida às contestações de uma minoria ética, que tem a seu favor a mídia, esses políticos conseguem se eleger sucessivamente, mediante uma ação pública assistencialista. 

Há uma dicotomia profunda entre a opinião publicada, que está permanentemente no noticiário, nos debates públicos e a opinião não publicada, que representa a maioria da população e dos eleitores que continua seduzida pelas promessas assistencialistas dos políticos patrimonialistas.

Ao longo de muitos anos, a politica patrimonialista tem resistido e nas duas últimas década foi reforçada pelo PT que a incorporou na sua estratégia eleitoral como forma de conquistar e manter o poder a fim de realizar a sua política social. 

O PT mantém os seus objetivos básicos de promover maior igualdade econômica e social, acabando com a pobreza, promovendo melhor redistribuição da renda e demais ações sociais. Mas percebeu que não chegaria ao poder apenas com a sua ideologia, com o seu discurso e aderiu à política patrimonialista, no que foi bem sucedido. Em 2002 conquistou a Presidência e dai em diante não mais a deixou. Compondo-se com os políticos patrimonialistas no Congresso e com os financiadores associados ao sistema.

O seu evidenciamento com o julgamento dos processos do "mensalão" não abalou o "esquema", embora tenha sacrificado muitos dos seus líderes, principalmente José Dirceu, apeado da Casa Civil. Mas fora do poder, estabeleceu um "protocolo" de procedimentos para o controle do esquema e manter a sua participação, parte formal, através de uma consultoria.

A resiliência do modelo politico patrimonialista, com a sua seção mais organizada, que se apropriou da Petrobras depois de desmontado o esquema "mensalão" desta vez foi fortemente abalada com a Operação Lava Jato.

Ainda que os políticos consigam conter os avanços do exercito comandado pelo Juiz Sérgio Moro, com o apoio da sociedade influenciada e que influencia a opinião publicada, o abalo é mais forte que o processo do "mensalão" conduzido por Joaquim Barbosa. Os impactos alcançam a opinião não publicada, como indicam as pesquisas de opinião política. 

E abala, principalmente os tradicionais financiadores, cujas principais figuras estão presas ou foram presas. 

A ponta do financiamento das campanhas e dos políticos estará fortemente retraída em 2018, com a passagem por 2016. Como e de onde os políticos irão conseguir os recursos para as suas campanhas?

Esta pergunta aponta para um cenário que não só deve ser adequadamente refletido e discutido, como deve dar origem a estratégias concretas.

Sem os recursos tradicionais dos fornecedores do Estado, os políticos dependerão de duas fontes principais de renda: as contribuições populares e das rendas de atividades econômicas sujeitas à regulação ou concessão pública.

Não vamos, de momento, nos ater à elas mas lembrar que esse processo, na Itália resultou na tomada do poder por um magnata, detentor de meios de comunicação: Sylvio Berlusconi.

De outro lado, os evangélicos são os que estão melhor organizados para a captação de doações difusas. 

Em 2016 poderão usar o seu poder econômico, para eleger diversos Prefeitos, começando pela maior de todas as cidades: Celso Russomanno, como o preposto, com popularidade, de Edir Macedo. Dono da mais rica das igrejas evangélicas.

E para 2018, mantida as trajetórias marcadas pela Operação Lava Jato, o atual presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, se conseguir se safar das - por enquanto - fracas acusações que pesam sobre ele. 

Se for atingido, terá dois substitutos de imediato: o Pastor Marcos Feliciano, reeleito deputado federal, com grande votação em São Paulo ou o Pastor Everaldo, que se candidatou em 2014, para começar a ter visibilidade nacional. 

Sejam eles ou qualquer outro poderão contar com uma "lubrificada" máquina de captação de recursos, que seus líderes, como Malafaia, estão dispostos a colocar nas campanhas para sustentar os projetos conservadores.

O PT, ao aderir ao modelo patrimonialista, abandonou a captação junto à sua militância e está tentando restabelecer.

Se o PSDB não montar um adequado esquema financeiro de captação de recursos de forma disseminada, não terá dinheiro para a campanha de 2018. A menos que os banqueiros e rentistas se disponham a financiar. 

A conformação das forças políticas em 2018 será muito diferente da de 2014, em função da recomposição das forças econômicas.

Jorge Hori

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