Pesquisas eleitorais: sem perceber que é automutilação, a imprensa, sem noção, continua fazendo vista grossa, ou pior!

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Nos últimos dias, a sociedade se espantou com o grau de cinismo dos tais institutos de pesquisa, que não se tocam com a vergonha que passam. Mas, além de seus benefícios financeiros, acabam encontrando respaldo na imprensa também.

E não é que o Portal UAI/Jornal Estado de Minas publicou matéria, sob o título - Derrotada, esquerda vira fiel da balança e turbina Fuad, com a opinião do experiente jornalista Orion Teixeira, baseado apenas no resultado de duas pesquisas até aqui divulgadas (Datafolha e Paraná)? Será que o contraditório não passou pela cabeça do jornalista, questionando porque não há na pesquisa a mostra da fidelização da direita com Bruno Engler, que ao olhar dos números dos derrotados com viés de direita são bem maiores que o da esquerda, que, portanto, poderia turbinar a campanha dele? A direita, sob o olhar do Datafolha, principalmente, sumiu, evaporou. Estranho isso, não? 

Um pouquinho de boa vontade é igual prudência e caldo de galinha; não fazem mal a ninguém!

Já as pesquisas do Datatempo, de propriedade da Tempo Editora divulgado pelo Portal O Tempo, assinado pelas jornalistas Clarisse Souza e Leticya Bernadete, foi mais além. Pesquisaram a tendência de transferência de votos dos candidatos derrotados para os finalistas Bruno Engler e Fuad Noman. E o resultado se aproxima mais de uma utopia do que qualquer expectativa eleitoral, o que significa, da mesma maneira que das pesquisas citadas anteriormente, fomentar comercialmente o jornalismo e os analistas de plantão. É através destes números que balizam seus comentários, a meu ver, quase lúdicos. Lá na apuração real, se nada ficar minimamente próximo, tudo bem, o objetivo já foi alcançado. Não há aqui, nenhuma crítica a metodologia científica utilizada, mas apenas o meu ponto de vista, inclusive, político da ferramenta. 

Elaborei um quadro com os números apresentados pela pesquisa Datatempo, publicado ontem, a fim de melhor entendimento dos números. Na minha visão, há um exagero no resultado que vai contra o espectro político de alguns dos derrotados. Podemos considerar, sem medo, que os eleitores do Tramonte, Viana e Gabriel tem um viés mais à direita, ainda que sejam, todos, mais ligados ao centrão (vai para onde for mais atraente, lembremos), mas a percepção contrária da pesquisa mostra outra tendência.

Veja como são as coisas... só no tocante à rejeição, se as pesquisas consideram que Bruno Engler tem um alto índice de rejeição, segundo eles na faixa acima dos 47%, ainda que Fuad também tenha, por volta dos 38%, essa pesquisa não reflete isso. Engler absorve 19,58% da transferência de votos e Fuad 52% (duas vezes e meia a mais que Engler), o que respectivamente aumenta o número de votos para Engler em torno dos 10% (de 34,38% para 43,10%) e para Fuad mais de 17% de sua votação do 1º turno (de 26,54% para 43,45%). Vamos lembrar que essa diferença da transferência de votos entre eles, indica que uma distribuição nos índices de rejeição, nos votos brancos e nulos, e também num eventual anúncio de apoio, que até aqui não foi pronunciado nem pelo Republicanos do Tramonte, nem pelo Podemos do Viana e nem pelo MDB do Gabriel, e claro, por suas coligações. 

Enfim, cabe fazer uso do discernimento profissional e sensibilidade pública para assinar matérias como essas. A exceção cabe em caso de interesses outros ou por defesa ideológica. Para ajudar os colegas, sugiro a eles minhas observações quanto as divulgações das pesquisas, sem tirar do contexto o fundamento que a própria pesquisa indica.

Está explicadinho, tintim por tintim, os números apresentados. Fazendo assim, materialização da lógica do subjetivo que a pesquisa contém.

Leiam, meus caros:

https://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/63590/pesquisas-eleitorais-para-que-este-nariz-tao-...

Foto de Alexandre Siqueira

Alexandre Siqueira

Jornalista independente - Colunista Jornal da Cidade Online - Autor dos livros Perdeu, Mané! e Jornalismo: a um passo do abismo..., da série Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Visite:
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