Kardec permaneceu

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Analisando certos aspectos do caminhar das concepções religiosas, destacamos as ingentes lutas entre o pensamento em expansão dos grandes filósofos e a obscura força da “Suma Teológica”. O vaticanismo enclausurou diversas ideologias de vanguarda, cerceando, de forma alarmante, a própria liberdade de expressão do homem medievo. Não constituíram poucos os heróis do pensamento de ponta, que foram tragados, inapelavelmente, pelas intransigentes labaredas abastecidas pelos preceitos comburentes da Inquisição.

O espírito renascentista, mesmo assim, manteve o bom ânimo diante da realidade circundante e criou a perspectiva de uma frondosa árvore de ciências específicas. No entanto, essa preciosa semente, lançada em ambiente tão hostil, veio germinar, com expressiva força, já no Século XIX, com o advento do Consolador Prometido. Os acordes harmoniosos das verdades espirituais penetraram na acústica do bom senso de Allan Kardec, e, a 18 de abril de 1857, surge, na Terra, “O Livro dos Espíritos”, cântico de caráter evolucionista, emitido pela sonora voz do Espírito Verdade. Porém, nesse século, apareceram algumas filosofias de caráter estranho. O próprio materialismo dialético e mecanicista propunha a ideia de que a forma de produção influenciava os limites básicos da sociedade, conforme o dispositivo político, intelectual, econômico, etc., propugnando o levante irresponsável das chamadas classes desprotegidas. A retórica Positivista, em suas muitas “quixotadas”, acenava, na arena mundial, com a bandeira da luta contra os moinhos espirituais e, como não poderia deixar de ser, desmoronou, por falta de base e lógica. Contudo, Kardec permaneceu!

A Doutrina Espírita jamais produziu os princípios da separatividade e a impositiva intolerância ideológica dos que materializaram o assombrador “Muro de Berlim”. Por isso mesmo, O Espiritismo é tão atual como há 158 anos. Kardec foi o grande maestro da sinfônica da verdade cristã, até porque, o grande Autor da partitura definitiva da libertação humana – Jesus – determinou-lhe a tarefa de trazer, para o mundo, a Terceira Revelação.

Sabemos o quão importante foi a Revolução Industrial, na Inglaterra, fortalecendo e materializando as iniciativas capitalistas, movimento este que antecedeu o histórico levante francês no Século XVIII, que, a rigor, teve como pilotis as propostas iluminadas dos heroicos enciclopedistas que também inspiraram os revolucionários na América do Norte na Guerra americana. Nesse contexto, e por outras tantas razões, o Espiritismo surgiu na conjuntura histórica estrategicamente correta, até porque, se antes tivesse vindo, ou seja, antes das conquistas sociais e das descobertas científicas e debates filosóficos teria sido, invariavelmente, uma obra fracassada, no dizer no próprio mestre lionês.

Em 1857, o homem já conhecia a força a vapor, o telégrafo, a dinâmica do magnetismo, a eletricidade, o telescópio, o microscópio e já eram ensaiados os argumentos teóricos sobre a Atomística. Em boa lógica, reenfatizamos: o Espiritismo chegou, ao homem, exatamente no tempo previsto pelos Emissários do Cristo.

Com Kardec, ficou mais fácil entendermos as primícias evangélicas. Desvendou-nos – o Codificador – uma nova panorâmica de vida após a fatalidade biológica (desencarnação). Assegurou-nos uma aproximação maior com o Mestre, através da leitura de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, propiciando, ao espírito, uma fé raciocinada. Jesus nos deixou como herança a sublime lição da humildade, acessível a todos, desde que a internalizemos como simplicidade de espírito e, não, como indigência material ou inferioridade intelectual. O Cristo foi bastante pródigo em sua mansuetude e tolerância para com os humildes de coração e, por certo, bastante rigoroso e veemente para com os prepotentes e arrogantes.

Renovemos, pois, nossos hábitos e atitudes! Conforme conselhos espíritas, pois nos Estatutos Divinos não há lugar para injustiças. A vida costuma levantar, sempre, os que se abaixam e humilha, inapelavelmente, os que se exaltam.

Jorge Hessen

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