Bolsonaro, Marçal e o jogo do poder em São Paulo (veja o vídeo)

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À medida que as eleições municipais em São Paulo se aproximam do fim, a corrida pela prefeitura revela os bastidores do jogo político, onde egoísmo, alianças duvidosas e estratégias de poder se sobrepõem ao interesse público. Um exemplo marcante dessa dinâmica é a postura de Jair Bolsonaro, que, ao escolher apoiar o atual prefeito Ricardo Nunes em vez de uma figura conservadora emergente como Pablo Marçal, parece estar jogando contra seu próprio legado. 

A decisão de Bolsonaro em São Paulo tem causado perplexidade. Não apoiar Marçal, um outsider da política que tem conquistado espaço com sua comunicação habilidosa e apelo popular, seria compreensível. Mas aliar-se a Nunes, cercado por figuras como Michel Temer, Gilberto Kassab e partidos de esquerda, é algo que seus apoiadores não conseguem justificar. As alianças do PL com adversários históricos do bolsonarismo, registradas publicamente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), são vistas como traições aos valores que Bolsonaro defendia. 

Além disso, o episódio em que Bolsonaro apoiou Datena, após o candidato Pablo Marçal ser alvo de uma agressão física, foi mais um sinal de que seu foco está longe do conservadorismo que o elegeu. As contradições em sua postura política alimentam a percepção de que o ex-presidente se move por interesses pessoais, e não pelo povo. 

Enquanto isso, Pablo Marçal continua sua ascensão. Com uma capacidade de comunicação afiada, uma fortuna pessoal considerável e a simpatia crescente de eleitores conservadores, Marçal caminha para se tornar uma liderança ainda mais relevante, independentemente do resultado das urnas. Se vencer, consolidará seu espaço no cenário político nacional. Se perder, sairá fortalecido, com a narrativa de que foi injustiçado e, talvez, movido pelo sentimento de vingança que tanto mobiliza o eleitorado. 

A comparação com Bolsonaro é inevitável. O ex-presidente se beneficiou de doações milionárias, vendeu livros aos montes, e nunca teve suas redes sociais bloqueadas ou contas bancárias congeladas. Mesmo fora do poder, continua a lucrar com sua imagem, com direito a perfumes, kits de churrasco e uma série de produtos estampados com seu nome. A narrativa de que ele lutou pelo povo se enfraquece, enquanto ele se torna um ícone comercial. 

Marçal, por outro lado, já declarou que o sistema político precisa ser "hackeado". Ele sugere que é necessário usar as estruturas do poder em benefício do povo — uma dúvida que ainda paira sobre suas verdadeiras intenções. No entanto, com juventude, dinheiro, tempo e uma estrutura consolidada, Marçal já conseguiu colocar suas cartas na mesa. Resta saber se ele será o próximo "Mito" ou se se distanciará da sombra de Bolsonaro. 

O erro de Bolsonaro, ao não apoiar Marçal, pode ser um golpe fatal em seu próprio futuro político. A aliança entre os dois seria o caminho lógico: Marçal vence em São Paulo, fica em dívida com Bolsonaro, e ambos, mais tarde, poderiam se unir novamente para tentar retomar o poder. Porém, o egoísmo de Bolsonaro o impediu de fazer essa jogada estratégica. 

O mais preocupante, porém, é que, em nenhum momento, o "povo" parece ser o foco central dessas movimentações. Tanto Bolsonaro quanto Marçal, e tantos outros políticos, tratam as eleições como um grande jogo de poder e interesses pessoais, onde o público é apenas a plateia de um reality show de interesses próprios e perseguições. A política se tornou o novo entretenimento nacional, substituindo as novelas, o futebol e até o carnaval. 

Marçal ainda merece o benefício da dúvida, e muitos torcem para que ele não se transforme em mais uma decepção. No entanto, no campo da política, as possibilidades de erro são sempre infinitas. Enquanto isso, o eleitor continua a assistir a esse espetáculo, esperando para ver quem será o próximo a fazer o "M" ou se será, mais uma vez, enganado. 

Opinião: 

A postura de Bolsonaro em São Paulo pode ser uma prova de que, na política, o egoísmo e o interesse pessoal muitas vezes se sobrepõem ao bem coletivo. O apoio a figuras como Nunes e as alianças com antigos adversários minam a confiança de seus eleitores, enquanto Marçal, mesmo sem a benção de Bolsonaro, segue sua trajetória rumo ao protagonismo político. Seja qual for o desfecho dessas eleições, uma coisa é certa: o povo continua sendo espectador de um jogo em que raramente é o protagonista.
Foto de Daniel Camilo

Daniel Camilo

Jornalista e estudante de Direito e Ciências Políticas. Conservador de Direita e Nacionalista. Em 2022, concorreu ao cargo de deputado federal pelo Estado de São Paulo. Atualmente, está dedicado à escrita do seu primeiro livro, "Academia do Analfabeto Político”, uma obra que tem ênfase na ética política e no comportamento analítico do cidadão enquanto eleitor.

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