Na terra da caneta acorrentada, agora inventaram a cadeira parafusada

Ler na área do assinante
"Pode entrar, não repare a sujeira!"

Assim começa o tour pelo Brasil, essa terra mágica onde o surreal e o absurdo se abraçam como velhos amigos. Nosso visitante estrangeiro, um tanto perplexo, cruza a porta da minha casa, e a primeira coisa que vê é uma caneta acorrentada na lotérica da esquina.

“Precaução”, eu explico.

No Brasil, até caneta precisa de segurança máxima. Sabe como é... Nunca se sabe quando alguém vai dar um despacho na papelaria.

"Pode deixar os sapatos do lado de fora... Mas esconde bem, senão levam!" A frase sai automaticamente.

O visitante ri, achando que é piada. Coitado. Ele ainda não entendeu que a linha entre a comédia e a realidade por aqui é tão fina quanto o orçamento público destinado à saúde.

Ofereço um café, claro. Somos o país que mais exporta café no mundo, mas aqui dentro o que a gente toma é uma experiência sensorial: aquele café preto, amargo, temperado com galhos, gravetos e talvez uma pitada de cevada, tudo misturado para garantir o sabor raiz.

“Quer adoçar?”, pergunto, com um sorriso que denuncia o sarcasmo.

Porque aqui no Brasil, até o amargo da vida a gente toma com um sorriso e um comentário espirituoso.

Nos sentamos e o pobre estrangeiro tenta se acomodar mas não consegue.

“O que é isso?”, pergunta, apontando para a cadeira. “Aparafusei”, solto, como quem diz que trancou a porta de casa. “Vai que o vizinho, o Pablo, resolve vir e me falar umas verdades... E as cadeiras são de ferro, né?!“

O estrangeiro me olha, meio assustado.

 "Vamos ligar a TV?", pergunto. Ele aceita.
“Olha só! Tá passando o Ministério da Verdade na Bobo News... Ai, eu adoro a Daniela!“

Conversa vai, conversa vem, o tempo passa. Toca a campainha e vou abrir a porta.

"Era o oficial de justiça", eu digo.

O estrangeiro se assusta mas eu o tranquilizo:

“Relaxa. Vou passar pro Cristiano. Ele acha uma brecha..."

Chega a hora da janta.

"Tá com fome? Quer uma picanha? Cervejinha?", ofereço, com o mesmo tom que um pai promete um brinquedo que nunca chega.

Ele aceita, entusiasmado.

"Brincadeira, não tem mais, não", esclareço.

Tudo com a naturalidade de quem já prometeu e não cumpriu, muitas vezes.

“Mas vem que a pizza tá saindo do forno...”

Na hora da despedida, ele já parece mais cansado do que faminto, saturado de tantas camadas de surrealismo tropical. Me estende a mão, ainda confuso, mas tentando ser educado.

“Foi... foi... uma experiência única. Obrigado pela hospitalidade, Luis Inácio”, diz, ainda buscando as palavras.

Dou um sorriso largo.

“Volte sempre, meu caro! Só não esquece o relógio e a carteira”, digo, devolvendo os pertences após o truque de mágica.
"Para quem saiu da cadeia mesmo culpado, isso não é nada", explico.

Ele ri, de nervoso.

Santiago Ventura. Escritor.

Quer apoiar o Jornal da Cidade Online? Adquira o livro "O Fantasma do Alvorada - A Volta à Cena do Crime" . O próprio Bolsonaro já conhece o livro. Confira:

Clique no link abaixo:

https://www.conteudoconservador.com.br/products/o-fantasma-do-alvorada-a-volta-a-cena-do-crime

Outra forma de ajudar o JCO é se tornando nosso assinante, o que lhe dará o direito de assistir o primeiro PODCAST conservador do Brasil e ter acesso exclusivo ao conteúdo da Revista A Verdade, onde os "assuntos proibidos" no Brasil são revelados. Para assinar, clique no link abaixo:

https://assinante.jornaldacidadeonline.com.br/apresentacao

Contamos com você!

Ler comentários e comentar