A verdadeira cara de Salvador Allende

12/09/2024 às 21:00 Ler na área do assinante

A abordagem é de há um ano. E nada mudou de lá para cá.

Nos 50 anos da deposição de Salvador Allende, vimos a imprensa (mas não só) multiplicar mentiras sobre o fato histórico. É o "efeito Goebbels": repetir, repetir, repetir uma mentira até fixá-la como verdade.

Ninguém aqui vai negar nem, muito menos, absolver os crimes da ditadura de Pinochet. O que se vai fazer, sim, é desmascarar a farsa que apresenta Allende como mártir e como se ele houvesse sido um homem justo que teve sua obra benigna destruída pelas forças do mal.

E aí está, aliás, um sinal de psicose coletiva: para falar dos crimes de um canalha como Allende, é preciso de antemão deixar enfaticamente claro que não se está defendendo a ditadura de Pinochet.

Pois o que segue é o retrato mais nítido da indignidade: um traidor de corpo inteiro a desonrar o Chile, o cínico que enganou o povo chileno.

Em 21/09/2005, o jornal britânico The Times publicou um resumo do livro "O Arquivo Mitrokhin", de Vasily Mitrokhin (um desertor da KGB, polícia secreta da União Soviética) e Christopher Andrew (historiador). O livro traz informações confidenciais da KGB. E revela que Salvador Allende era um agente pago do serviço secreto soviético. Detalhe: Allende recebia o dinheiro das mãos de Svyatoslav Kuznetsov, espião da KGB no Chile. Ou seja, Mitrokhin revelou que, às ocultas, o Allende sacralizado pelas esquerdas traía o Chile e servia a um governo estrangeiro.

Para o cérebro socialista, essa traição é justificável, dado o caráter internacionalista do socialismo, que despreza as fronteiras nacionais para instituir um sistema mundial e submeter todos os países ao tacão do partido socialista (e único no poder). Allende estaria, pois, servindo a causa maior do socialismo - e ganhando um dinheirinho, claro, que nenhum revolucionário é de ferro nem resiste a uma mordomiazinha.

Saliente-se que esse caráter do socialismo costuma ser omitido pelos intelectuais de esquerda, sobretudo pela parasitária casta acadêmica.

Fato é que, hoje, documentos provam que Allende era um traidor e um apóstolo da violência que desprezava a democracia. No entanto, como qualquer biltre de sua laia, ele se declarava cinicamente um democrata.

O ex-presidente chileno Eduardo Frei, falando ao repórter Luis Calvo, do jornal ABC de Madri, em 10/10/1973, denunciou aquilo que hoje documentosprovam: os socialistas, com o patrocínio de Allende, introduziram no Chile uma imensa quantidade de armas, escondidas clandestinamente em residências, escritórios, fábricas e armazéns. "O mundo não sabia que o marxismo chileno dispunha de armamento superior em número e qualidade ao do Exército, armamento para mais de 30 mil homens, quando o Exército mal chega a essa cifra", disse Frei, sustentando que uma guerra civil estava sendo planejada pelos socialistas (que governavam então o Chile).

Frei não exagerou. O Congresso do Partido Socialista Chileno (partido de Allende), em 1967, aprovou uma Resolução que dizia: "(...) A violência revolucionária é inevitável e legítima (...). Só destruindo o aparato burocrático e militar do Estado-burguês pode consolidar-se a revolução socialista", profissão de ódio que foi confirmada no Congresso de 1971.

Mas a propaganda faz uma narrativa segundo a qual "Allende acreditava na via eleitoral da democracia representativa e julgava possível instaurar o socialismo dentro do sistema político então vigente em seu país". Quer dizer, tomar o poder pelo voto e, uma vez no governo, trair a vontade do povo e implantar um regime totalitário. Será isso democracia?

Carlos Altamirano, prócer do socialismo chileno, afirmou que Allende, até por volta de 1960, era um político tradicional e social-democrata convicto, quando entrou num crescente processo de radicalização. Mas sem jamais (acrescentou) duvidar da democracia chilena. Ou seja, como visto acima, Allende acreditava que usaria os meios da democracia (o voto inclusive) para impor ao Chile um regime comunista subordinado à União Soviética, a quem ele servia. Era o que hoje, de modo mais sutil e mais insidioso, as esquerdas chamam de "fazer a revolução por dentro".

Eleito em 1970 com apenas 36% dos votos válidos, Allende assumiu o poder com uma frente de esquerda que reunia grupos cujo método de ação era a guerrilha e o terror, com destaque para o agressivo MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionária), fundado para realizar a luta armada. Durante o seu governo, os seus comparsas praticaram tortura, assassinatos, invasões de terras, assaltos a bancos e outros atos de terrorismo.

Como a história romanciada só manifesta a tendência de quem a escreve, não a verdade dos fatos, Allende é ardilosamente maquiado como um homem amigo do seu povo, confiante, pacífico e com uma profunda crença na democracia. Tudo para enfiar na cabeça dos idiotas úteis a falsa crença em que o socialismo é um comunismo mais humano.

Pois esse "Mahatma" Allende, que, na presidência, dizia-se numa "guerra não declarada", não quis ter a sua segurança feita pelas Forças Armadas nem pela polícia, ao contrário doutros chefes de Estado: a sua segurança era feita pelo chamado Grupo Amigos do Presidente (GAP), guerrilheiros com instrução militar completa recebida em Cuba e, notem bem, chefiados por um membro do Serviço de Inteligência cubano.

O GAP, que reunia 134 guerrilheiros, recebia treinamento permanente dos cubanos no Centro de Instrução Militar El Cañaveral, que outra coisa não era senão a casa de campo do presidente Allende. E contava com três depósitos de armas e munição: na citada casa de campo, na residência do presidente (a chamada Casa Presidencial de Tomás Moro, que era também outro quartel do GAP) e, pasmem, no palácio La Moneda, sede do governo.

Não foi por acaso, pois, que, em 1971, Fidel Castro, o tirano de Cuba e lacaio da União Soviética, percorreu o Chile por cerca de um mês, alentando com sua verborragia as aspirações revolucionárias e pregando a necessidade de ser preservada "a unidade do conjunto da Esquerda".

Já não há controvérsia. Allende era o colaboracionista que, chefiado por Fidel Castro, desrespeitava a lei chilena para obedecer ao governo de Moscou. A esse fato, somem-se que, embora clandestinos, os atos das facções esquerdistas no Chile (com apoio dele), não eram invisíveis e foram gerando crescente revolta na população, da qual Allende nunca teve amplo apoio, eleito que foi por apenas 36% dos votos válidos.

Allende quebrou todas as regras. E a situação ficou insustentável ante o fato de seu governo introduzir ilegalmente armas no Chile, treinar guerrilheiros em preparação de uma guerra civil e permitir intromissão estrangeira no país, com o que afrontou a lei 12.927/1958 (Lei de Segurança do Estado) então em vigor.

Na citada entrevista, Eduardo Frei sintetiza as circunstâncias da queda de Allende , afirmando que o Congresso Nacional e a Suprema Corte (máximas autoridades do legislativo e do judiciário) denunciaram que o governo vinha fraudando a Constituição, acordos votados no parlamento e até sentenças exaradas por juízes sem qualquer vinculação política.

Frei também relata que, por omissão ou comissão inclusive da imprensa, a comunidade internacional ignorava que Allende, quebrando suas promessas e se afastando da legalidade, começou uma obra de destruição sistemática da nação, enquanto se espalhava no mundo uma mentira dizendo que se fazia um raro experimento político no Chile com a implantação do marxismo por métodos legais, constitucionais e civilizados. Mentira!

Ora, o modelo de Estado de inspiração marxista extingue as liberdades e é, obviamente, incompatível com a democracia. Fora disso o que há é retórica mentirosa para engrupir em especial a juventude escolarizada.

Como se vê, as mentiras sobre Allende começaram antes da sua deposição.

E servem como cortina de fumaça para ocultar o que ocorria de fato. O Chile era palco de um embate da Guerra Fria. Foi derrotado quem tentava implantar no país o totalitarismo soviético (o pior modelo de ditadura já visto). E quem venceu se alinhava com os Estados Unidos.

Para se ter ideia do drama de que o Chile escapou, basta saber que o comunismo (implantação avançada do socialismo) matou na União Soviética 62 milhões de pessoas entre 1917 e 1987. E na China, mais de 76 milhões de chineses foram mortos pelo regime comunista entre 1949 e 1987, além dos 3,5 milhões de civis que o Partido de Mao Tsé-Tung assassinou antes de consumar a revolução chinesa (totalizando 80 milhões): só nesses dois casos (e há muitos mais) o número de mortos ultrapassa os 140 milhões.

Os fatos falam por si. Em 1973, poderes instituídos da República chilena denunciavam a ilegalidade do regime e abusos das facções socialistas, e a maioria do povo repudiava o governo de Allende: é fácil entender por que o 11 de setembro teve amplo apoio. Não quer dizer que se tenha então dado carta branca aos crimes que vieram depois, mas apenas que, isto sim, ninguém queria o autoritarismo, a corrupção nem a violência do regime socialista que se estava impondo ao Chile.

A História ensina. Mas, quem aprende com ela? Allende liderava um plano de impor ao Chile um  regime totalitário, pior modelo de ditadura que já se viu, com supressão total das liberdades. Pinochet liderou a reação e tirou o Chile das garras do comunismo soviético, mas impôs ao país uma ditadura vergonhosa. A lição que daí se tira - que professores de História costumam ignorar - é que a concentração do poder político num regime fechado (tenha rótulo de esquerda ou de direita) descamba para a violência estatal regida por governos autoritários, o que só favorece a supremacia dos egoístas, a insegurança jurídica, o abuso da força para instaurar a "ordem do medo" e a óbvia supressão das liberdades.

Porém, se o que se quer é viver numa civilização baseada no certo, no bom e no justo, então a solução é um "regime democrático", o que só é possível com uma sociedade aberta, um Estado transparente (com o império da lei, não do juiz) e o resguardo da livre iniciativa (em seu sentido mais amplo): eis tudo o que o comunista Salvador Allende não queria.

Renato Sant'Ana

Advogado e psicólogo. E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br

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