O desfile de 7 de setembro deste ano, realizado na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, manteve o tradicional simbolismo de celebração cívica, com chegada do Presidente no Rolls-Royce usado em cerimônias oficiais; revista às tropas; desfile de estudantes de escolas públicas do Distrito Federal e das Forças Armadas, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal; participação de atletas olímpicos que competiram nos Jogos de Paris; apresentação da Esquadrilha da Fumaça e da Pirâmide Humana do Batalhão de Polícia do Exército.
Entretanto, um outro simbolismo, espontâneo, pode ser percebido: a redução da participação popular. O povo não se fez presente como nos anos anteriores, ficando, inclusive, abaixo da estimativa oficial.
Imagens que circulam em redes sociais e fotos de matérias na mídia sobre o evento mostram o esvaziamento do público. Também chamou atenção a ausência da primeira-dama, Janja da Silva, em razão de um compromisso internacional no Catar, e dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Igualdade Racial, Anielle Franco.
O tema escolhido para o evento deste ano foi "Democracia e Independência: O Brasil no Rumo Certo". Essa temática reflete uma tentativa do governo Lula de resgatar a confiança nas instituições democráticas, mas o evento ocorrido na véspera da comemoração pelos 202 anos de Independência do Brasil - a demissão do Ministro dos Direitos Humanos após acusações de assédio sexual, inclusive por parte da Ministra da Igualdade Racial - abalou qualquer tentativa de resgate da confiança dos brasileiros. Em especial quando se trata de um governo que deixa claro não conseguir colocar em prática o que prega em discursos.
Houve, ainda, no mesmo dia, uma manifestação paralela, em que diferentes figuras públicas e políticos discursaram em um trio elétrico na Avenida Paulista. Entre as principais bandeiras defendidas pelos manifestantes estavam o fim daquilo que chamam de "perseguição e prisões políticas", a anistia para os envolvidos no episódio de 8 de janeiro, o encerramento de inquéritos que consideram ilegais e o impeachment do ministro Alexandre de Moraes. De acordo com lideranças do movimento, um pedido formal de impeachment de Moraes, assinado por 150 deputados federais, será entregue ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
Simone Salles
Jornalista, Mestre em Comunicação Pública e Política