Houve um período em que apoiei o governo venezuelano por sua representação anti imperialista legítima, necessária. A Venezuela e em geral os países latino-americanos eram submetidos à classificação vergonhosa e subalterna de terceiromundistas. O Brasil, assim como Bolívia e Venezuela, sob regimes obscurantistas, vivia de cócoras ante o chamado "primeiro mundo". A “constituição” latinoamericana era a cartilha do FMI.
Recebi a primeira eleição de Maduro como um vento benfazejo. No entanto, era visível e previsível que o discurso nacionalista e panfletário, o tom beligerante e o apelo mítico do bolivarianismo poderiam não ser mais que uma estratégia midiática para reforçar seu poder pessoal. Era sua receita para apropriar-se do poder institucional em definitivo, a ponto de, já na escalada de mandatos, fraudar princípios democráticos e jurídicos básicos, fechando portas promissoras e travando caminhos alentadores que houvera suscitado.
Rebaixados de líderes revolucionários a tiranetes bufos, Chavez e Maduro desonraram Símon Bolivar, enlameando a gênese libertária que o bolivarianismo semeou, inteiramente dispersos da verdade das ruas. Nunca foram socialistas. Nem democratas. Nem patriotas. Projetaram-se com um figurino libertador, mas de superfície. O conteúdo é paupérrimo.
Chavez e Maduro contribuíram, sim, com o processo de desqualificação ideológica da esquerda. Municiaram e resgataram – hoje se vê – ultrapassadas ladainhas ideológicas. Chavismo de republiqueta, não há nele honra alguma ao sonho que é capaz de unir os povos da América Latina.
TAQUIRARI - Chavez e Maduro lambusaram-se com a mediocridade ética e politicamente regressiva de uma ambição ilimitada de poder, cuja essência de legitimidade já se esgarçava no primeiro mandato e muitos dos que nele confiavam demoraram a perceber. Não conseguiram sequer ombrear-se com o "maluco beleza" Evo Morales, que mesmo em sua delirante e assemelhada “vocação” pelo poder perpétuo ao menos logrou tirar a Bolívia do colo de colonizadores invasivos.
Cambas, colhas e todos os povos que se ajuntam no entorno andino dançam hoje o taquirari e saboreiam a salteña compartilhando suas dores e seus amores livremente. Já não precisam mais de Morales. O poder central flutua na certeza que cada boliviano tem de ser capaz de gerir seu destino, mesmo – e sobretudo – se for necessário insurgir-se contra os paredões da sorte.
PIOR E PIOR - A Venezuela, infelizmente, pior que as cotoveladas sanguinolentas de Maduro, corre o risco de voltar a um passado em que andar para trás era o avanço de cada dia: sem soberania, sem identidade, tangida como gado que sai de um brete e entra em outro. Maduro o pior de hoje e se a democracia não se estabelecer os venezuelanos correm o risco de retornar ao pior de ontem.
Que direita e, especialmente, a esquerda, aprendam estas lições e não se deixem afundar no simplismo de uma digladiação maniqueísta. Ambas, com suas virtudes e seus equívocos, ainda estão nas séries iniciais de um aprendizado que ao longo dos milênios não se esgotará. A lição é muito simples. Tão simples que acaba desfigurada pelas ambições e vaidades humanas.
O ser humano, de Trump a Fidel, de Maduro a Lula, de mim a ti, precisa graduar-se em convivência. E não gazetear as aulas diárias nas disciplinas e atitudes sobre democracia, respeito, justiça, direitos e generosidade. Afinal, todos querem e precisam respirar. Há oxigênio suficiente a repartir.
Edson Moraes