Consultório político-sentimental: 'Será que o Brasil está preparado para um presidente negro?'.
23/06/2017 às 11:40 Ler na área do assinanteVamos responder hoje a singela cartinha de um consulente que nos escreve sob o pseudônimo de 'Quinzinho Barbosa', e nos pergunta: 'Será que o Brasil está preparado para um presidente negro?'.
Quim, eu creio que sim.
Presidentes negros não demandam nenhuma preparação especial.
Os brasileiros podem inclusive usar as mesmas roupas de sempre, não é necessário nenhum traje específico. Nem treinamento, dieta, curso de reciclagem, nada.
As mulheres não precisam correr para o cabeleireiro - pode-se ter um presidente negro mantendo o corte de cabelo atual, as raízes denunciando a tintura, pontas duplas, sem problemas.
Não é necessário mudar o fuso horário, trocar a moeda, inverter a mão do trânsito. O idioma oficial permanece o mesmo, os feriados são mantidos e mesmo os campeonatos de futebol não têm que ter suas regras adaptadas para um presidente negro.
A tonalidade da pele, se foi ou não circuncidado, se paga dízimo ou prefere ajudar quem precisa, se curte mulheres mais velhas ou homens mais novos (ou vice versa), tudo isso fica em segundo plano.
O país não está preparado, isso sim, para um presidente corrupto. Mentiroso. Demagogo. Incompetente. Arrogante. Pretensioso. Falastrão. Pilantra. Cabotino. De rabo preso. Seja ele (o presidente ou seu rabo) preto, branco, verde, vermelho, infravermelho ou ultravioleta.
A pergunta que você deve se fazer é: um presidente que acha que a cor da pele tem esse protagonismo todo estará preparado para o Brasil? Para um país cansado de divisões, de sectarismo, de rótulos, de manipulação ideológica das questões gênero e de raça?
Nas próximas edições, vamos responder às missivas de C Gomes (do Ceará), de Jair B (da Reserva Remunerada), de M. Silva (do Acre) e de João D. (de São Paulo, Capital).
Eles querem saber se o Brasil está preparado para o coronelismo, para a Idade Média, para a inflexão civilizatória multicêntrica da transversalidade florestanista, e para o capitalismo - necessariamente nesta ordem.
Até lá!
Eduardo Affonso
Eduardo Affonso
É arquiteto no Rio de Janeiro.