"Sumiço" de Marcola é manobra da defesa do traficante e a imprensa "mordeu a isca"

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Desde que o narcotraficante Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, chegou na capital do país, em 2020, autoridades locais frustraram diversas tentativas de instalação do PCC na Capital Federal.

Marcola cumpre pena na Penitenciária Federal de Brasília.

Naquela época o governador Ibaneis Rocha (MDB) ingressou com uma ação no STF para que ele fosse transferido para fora da capital. Ibaneis afirmou que a presença do criminoso traria riscos à cidade. Afinal, estamos falando da capital do país, moradia de ministros de Estado, ministros dos tribunais superiores e de representações estrangeiras. Porém, estranhamente o pedido foi negado pelo ministro Luís Roberto Barroso, alegando que a transferência seria ainda mais arriscada.

Daquele tempo a esta parte foram frustrados planos de fuga que, se executados, seriam cinematográficos.  No ano passado, Policiais Federais e do setor de inteligência do sistema prisional identificaram um plano que incluía o sequestro de agentes do sistema penitenciário federal, assim como de familiares. Além desses, ainda estavam na mira autoridades federais, que ajudariam a pressionar o governo pela liberação do traficante.

Um segundo plano consistia no uso de "força bélica" para destruir os muros da penitenciária. Eles iriam provocar uma rebelião e liberar Marcola e outros líderes da facção que estão presos em Brasília.

O PCC quer se estabelecer em Brasília, mas diante das dificuldades peculiares à Capital Federal, estão instalando células nas cidades do entorno. 

Pois bem.

Marcola está num presídio de segurança máxima, gerido pelo DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional), do Ministério da Justiça, com rotinas e segurança reforçada para impedir a fuga ou resgate de presos.

Os líderes das organizações criminosas são isolados dos demais detentos. O objetivo é que eles fiquem incomunicáveis com o mundo exterior, com exceção dos contatos com os advogados. Assim, em tese, são impedidos de repassar ordens para integrantes que estão do lado de fora das prisões. A Penitenciária Federal de Brasília conta com esquema de vigilância especial, servidores bem treinados e com restrições para a circulação interna, assim como visitas.

Este sofisticado cenário de segurança máxima só tornaria o sumiço do Marcola ainda mais sinistro.

Só que não! Marcola não sumiu. Ele estava em isolamento total desde março e há um mês foi transferido para a enfermaria. Tudo absolutamente dentro dos parâmetros normais do regime de segurança máxima da Penitenciária Federal de Brasília. 

Na verdade, o que há de novidade nada mais é do que uma simples petição do advogado de Marcola, que busca caracterizar um estado de desorientação e confusão mental em seu cliente, para então sustentar que o isolamento total está causando sérios danos psíquicos a ele, chegando a indicar “oscilações na percepção da realidade”.

Se o Marcola está “sumido”, é porque o isolamento está sendo eficiente – tudo como manda a lei.

Tudo isso não passa de uma brilhante manobra da defesa. Com essa “choradeira”, a defesa quer pressionar as autoridades a afrouxarem o regime de isolamento.  Como se não bastasse, a imprensa mordeu a isca e deu eco aos familiares de Marcola e seu advogado.

Realmente seria trágico e lamentável para qualquer familiar de preso ter o acesso dificultado ao seu parente querido encarcerado, não fosse esse parente o líder da maior facção criminosa do país.

É possível que Marcola não seja mais interessante à cúpula do PCC e essa transferência para a enfermaria, realizada há um mês, não passe de um plano diabólico para “fritarem” o seu cérebro com remédios psiquiátricos que causem danos irreversíveis?

Nesse país tudo é possível, mas por enquanto, sem provas, é pura teoria da conspiração – um devaneio.

O que não é concebível é ganhar eco uma construção jurídica romântica como essa, que prima pelos direitos humanos na sua concepção mais pura, quando o preso em questão é o cabeça de uma poderosa máfia internacional, sanguinária e cruel. 

Marcola não sumiu. Isso tudo é pura choradeira da defesa. Ele está em isolamento total desde março e faz um mês foi transferido para a Enfermaria – é o que se sabe dele.

Chega a ser confortante para o brasileiro saber que alguma coisa funciona direito nesse país: o isolamento total do Marcola – ou não estaria incomodando tanto. 

Foto de Carlos Fernando Maggiolo

Carlos Fernando Maggiolo

Advogado criminalista e professor de Direito Penal. Crítico político e de segurança pública. Presidente da Associação dos Motociclistas do Estado do Rio de Janeiro – AMO-RJ. 

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