A Rede Globo (segundo maior partido brasileiro, o primeiro é a JBS) fazia otimísticas apologias em torno das declarações de Henrique Meirelles (ex-presidente do Conselho de Administração da J&F) de que o Brasil tinha saído da recessão e o crescimento econômico era uma realidade inconteste. Eis que os integrantes do Codace (Affonso Celso Pastore, Regis Bonelli, João Victor Issler, Marcelle Chalivet, Marco Bonomo, Paulo Piccheti e Edmar Bacha) declararam que o País continuava em recessão e que não havia sinais do término da retração econômica.
As duas facções (Globo e JBS) entraram em processo de descrédito, tanto que Mirian Leitão, sua equipe e companheiros de bancada passaram a ser hostilizados pela população. A Globo, despudoradamente, mudou de conversa e passou a mostrar que suas notícias anteriores não eram verdadeiras, que faziam parte da propaganda oficial temerista. Tudo não passava de um jogo de cartas marcadas para satisfazer os patrocinadores.
Acontece “jogo de cartas marcadas” quando já se sabe o resultado final antes de começar a disputa, a contenda. Historicamente esses fatos ocorrem nos jogos de baralho, nas lutas de boxe, nas disputas de campeonatos esportivos, nos programas humorísticos, na disputa de violeiros e nas encenações políticas.
Uma semana antes de iniciar o fantástico julgamento do TSE sobre a cassação da chapa Dilma/Temer um analista político de certa rede de televisão divulgou o resultado dizendo que os ministros fulano, sicrano e beltrano votariam pelo sim; e que os ministros fulano, sicrano e beltrano votariam pelo não. O desempate seria um não dado pelo presidente. Não era um furo jornalístico porque a Nação já conhecia esse resultado. O espetáculo começou e por vários dias o noticiário mostrou a verborragia jurídica de suas excelências e os comentários eruditos dos especialistas. Gilmar Mendes justificou dizendo que era a melhor solução para o Brasil.
A derrubada de Fernando Collor e a defenestração de Dilma Rousseff também foram acertadas nos bastidores, antes de se iniciar o processo jurídico. Os acertos e acordos eram conhecidos de todos, mas os espetáculos midiáticos foram brilhantes. Melhores até que as maçantes novelas globalinas. A justificativa era que esse resultado era a melhor solução para o Brasil.
Lá atrás, quando o general Ernesto Geisel determinou as promoções do coronel João Batista Figueiredo rompendo toda a lógica do sistema militar vigente, sabia-se que ele seria o futuro presidente da República. Era um jogo de cartas marcadas imposto pela força e ninguém se opunha ostensivamente. Pelo contrário, muitos arenistas que ainda hoje mandam na política nacional, afirmavam que era a melhor opção para salvar o Brasil do terrorismo comunista.
Muitos brasileiros ainda se lembram do maravilhoso espetáculo popular do movimento das “Diretas Já”, de 1984. O povo e as lideranças emedebistas sabiam que a emenda Dante de Oliveira não seria aprovada, todos sabiam os nomes dos congressistas que votariam a favor e dos que votariam contra. Era um jogo de cartas marcadas que interessava a todos: governantes e opositores. As Indiretas também foi uma jogada de cartas marcadas: trouxeram o ex-presidente da ARENA (José Sarney) para ser o vice de Tancredo, que também era bem visto pelos militares. A justificativa foi a de sempre: salvar a Pátria amada.
O PSDB fez estardalhaço querendo gerar expectativas e ganhar espaço na mídia quanto a sua permanência ou não na “base aliada” de Michel Temer. Pindorama e o mundo sabiam que os tucanos jamais abandonariam quatro ministérios de um governo esvaziado e dependente de apoio parlamentar. Veio o grande dia da decisão: discursos e justificativas de que era preciso salvar a pátria amada, e não largaram o osso, como era o esperado e anunciado pelos cronistas especializados. A justificativa: salvar a Pátria amada do caos econômico.
Eis que de repente FHC, o decano do tucanato nacional, publicou uma carta pedindo a renúncia de Temer e eleições diretas. Dois fatos devem ser observados: continuarão com os cargos e protelarão o caos político até o final de 2018, porque sabem que eleição direta é uma inviabilidade política real.
O próximo espetáculo será a votação pela cassação (ou não) do senador Aécio Neves (PSDB) pelo Senado. As cartas já estão marcadas e os acordos fechados, mas todos negam que tal coisa aconteceu. O PMDB prometeu aos tucanos que não cassariam o Minerinho se o partido permanecesse no governo. E assim será. Temer e seus aliados chegarão ao final de 2018, e o Brasil também, tudo é previsível e está escrito nos “astros”, ou nos bastidores do poder. Nada é impossível.
Agora resta saber o que estão tramando para o depois de Temer. Uma coisa é certa, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Romero Jucá, Eliseu Padilha, Moreira Franco e a Família Sarney continuarão participando do governo. Os lugares de José Serra, Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alkmin estão reservados. O que ainda não dá para vislumbrar é quem comandará o futuro governo.
Em São Paulo os tucanos permanecerão no comando, mas quem herdará o Rio de Janeiro? Em Mato Grosso do Sul quem ficará com a massa falida, uma vez que Zeca, Puccinelli e Azambuja estão encalacrados com a Justiça? Talvez uma dobradinha Pedro Chaves/Carlos Marun (escudeiro de Eduardo Cunha e de Michel Temer)?
Provavelmente haverá mudanças partidárias, mas não acontecerão mudanças políticas. Depois das mudanças tudo ficará como está, mantendo a tradição de Pindorama. As duas reformas que o povo brasileiro realmente quer, jamais virão: a reforma partidária e a reforma do Judiciário.
LANDES PEREIRA. Economista com doutorado; é professor de Economia Política.
Landes Pereira
Economista e Professor Universitário. Ex-Secretário de Planejamento da Prefeitura de Campo Grande. Ex-Diretor Financeiro e Comercial da SANESUL. Ex-Diretor Geral do DERSUL (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem). Ex-Diretor Presidente da MSGÁS. Ex-Diretor Administrativo-Financeiro e de Relações com os Investidores da SANASA.