Quando a burocracia vence o bom senso, a lógica, a humanidade e a compaixão
16/06/2017 às 15:57 Ler na área do assinanteCriança de um ano de idade, acometida de uma grave pneumonia, falece em Santa Catarina, após uma demora excessiva na transferência inter-hospitalar (15h). Faltou gasolina na ambulância do SAMU.
Detalhe importante: a comunidade ofereceu para abastecer o veículo, o que não foi aceito pelo administrador do serviço, pois, segundo ele, está atitude fugia às "normas" do serviço.
Trabalho no SAMU há aproximadamente 10 anos e sei como é triste não podermos atender à um pedido de socorro por falta de recursos.
Às vezes, o número de ocorrências suplantam a nossa capacidade operacional.
É uma luta inglória. A violência está cada dia maior, a irresponsabilidade no trânsito .... não vou nem comentar.
Falta de gasolina, pneus desgastados, falta de peças ou equipamentos quebrados, são problemas corriqueiros, que infelizmente, atrapalham o correto atendimento do SAMU em várias partes do Brasil e dispensam comentários.
Trabalhar com urgência e emergência é difícil, porém, é muito gratificante também. Aprendemos a trabalhar em condições adversas e sob pressão.
Pode faltar tudo para quem trabalha nesta área, menos coerência e bom senso.
O que gostaria de abordar aqui, é a falta de sensibilidade e de humanidade de alguns funcionários públicos, que deixam a burocracia e as "normas" prevalecerem sobre o bom senso e a coerência.
Com um quadro grave de pneumonia, esta criança precisou ser transferida para um hospital com melhor infraestrutura, porque o Hospital São Vicente de Paula, localizado na cidade de Mafra, interior do estado, não possuía condições de cuidar adequadamente desta pequena paciente.
É uma vergonha, uma covardia o que aconteceu com esta criança em Santa Catarina.
É triste saber que a vida de Heloisa, de apenas um ano de idade, poderia ter sido salva se o socorro tivesse sido oferecido a tempo.
É triste saber que os pais, os familiares, os médicos e os funcionários do hospital se predispuseram a abastecer a ambulância e não permitiram.
Alegar que não era permitido abastecer a ambulância com recursos outros, que não fosse os recursos do município, pode ser um argumento válido em uma situação normal, não em uma situação emergencial com risco iminente de morte.
Às vezes as regras precisam ser quebradas por um motivo maior e mais justo.
Será que se essa criança fosse filha desse funcionário a atitude dele teria sido a mesma?
E se fosse filho de um vereador do município, parente ou amigo do prefeito?
A compaixão, a empatia, e a solidariedade, são sentimentos que precisam prevalecer, sempre, em situações emergenciais que fogem da prática habitual e do protocolo pré-estabelecido.
Roberto Corrêa Ribeiro de Oliveira