Pablo Marçal está provando que a vaga no segundo turno é uma realidade!

Ler na área do assinante

O candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, pelo menos até agora, vem provando que a direita não tem dono.

A falta de posicionamento de Bolsonaro em relação ao apoio à reeleição do também candidato e atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes, tem sido sua principal vantagem, não só na corrida eleitoral do município, mas também na construção de seu perfil como liderança no movimento conservador brasileiro.

Agora que Datena, Boulos e Ricardo Nunes faltaram ao debate, justificando que Marçal transformou o evento em um circo, Bolsonaro se vê em maus lençóis. Afinal, ele apoia um candidato que, apesar de ser apontado como o primeiro colocado nas pesquisas tradicionais, não teve coragem de enfrentar um oponente que está em quarto lugar na corrida eleitoral da maior capital do Brasil. Isso levanta a suspeita de que Nunes, junto com os candidatos de esquerda, tenha conspirado para não dar palco a Marçal, que, na verdade, cresce em velocidade impressionante. Recentemente, a revista Veja divulgou que 40% dos eleitores de Bolsonaro votariam em Pablo Marçal. E isso a apenas 50 dias das eleições municipais, que serão no dia 6 de outubro.

E, ao contrário do que era esperado, Marçal transformou a tentativa de desprestígio político dos três oponentes fujões em uma vitrine que o legitima como o verdadeiro candidato da direita para a prefeitura, sem depender de Bolsonaro. Todos os meios de comunicação, tanto na internet quanto na velha imprensa, só falam dos ausentes, dando ao ex-coach a prerrogativa de afirmar que “o problema da sociedade é a falta de homens”. Não muito tempo atrás, Bolsonaro concedeu a medalha de “imbrochável, imorrível e incomível” a Ricardo Nunes e Marçal. Se Nunes e os outros não são homens, será que o candidato do ex-presidente brochou?

Não é segredo para ninguém que, ao ser questionado sobre seu apoio tímido ao emedebista, Bolsonaro diz:

“Não é o candidato dos sonhos, mas temos um acordo.”

Isso não só descredibiliza o próprio candidato como também coloca em “xeque” os benefícios de seu apoio. Além disso, a falta de posicionamento claro do atual líder do movimento abre uma lacuna gigantesca para que outras figuras, como Pablo Marçal, "destronem" Bolsonaro dessa liderança.

Com tantas gafes do ex-presidente nesse apoio duvidoso ao candidato de agenda progressista, Ricardo Nunes, que em um momento assume o apoio eleitoral, em outro demonstra insatisfação com o mesmo, e logo depois reafirma dizendo que “meu candidato em São Paulo é Ricardo Nunes”, elogiar e desqualificar Marçal como inteligente e inexperiente, durante uma entrevista à Rádio 96 FM de Natal, no estado do Rio Grande do Norte, só enfraquece ainda mais sua posição.

As palavras ditas na rádio não caíram bem entre a liderança conservadora, e a pedido do também apoiador de Nunes, o governador Tarcísio, Bolsonaro novamente adotou uma postura mais agressiva contra Marçal. Dois dias depois, em uma mensagem em um grupo de WhatsApp de uma lista de transmissão de aliados, Bolsonaro escreveu: “Certas coisas não é preciso experimentar para saber que é um produto estragado.” Obviamente, a mensagem foi vazada de propósito, com a clara intenção de reafirmar seu apoio eleitoral a Ricardo Nunes.

Tudo isso tem demonstrado uma evidente preocupação no topo mais alto do grupo político conservador. Até o próprio governador Tarcísio, em sua passagem pela cidade de São José do Rio Preto (16), interior paulista, afirmou que Marçal “baixou muito o nível” da corrida eleitoral para a prefeitura da capital e alegou que o influenciador “não tem debate e propostas” e que “não adianta transformar a eleição num circo.” Tiro no pé!

O ex-coach, conhecido também pelos seus “cortes de tramontina”, não perdeu tempo e prontamente respondeu em suas redes sociais, dizendo que “baixaria mais ainda o nível com comunistas.” Segundo o jornal Gazeta do Povo, as declarações do governador não foram meras críticas, mas sim um ataque direto contra Marçal.

Esses atritos públicos entre Bolsonaro e Tarcísio na tentativa de desclassificar o candidato do PRTB apenas elevam o peso das declarações de Pablo Marçal, que, por sua vez, minam o prestígio do atual prefeito Ricardo Nunes, posicionando Marçal como uma liderança emergente dentro do mesmo movimento que ele afirma pertencer. Com Marçal já tendo conquistado a atenção do público, agora ele conquista também quase a metade dos votos que pertenciam exclusivamente a ele no maior colégio eleitoral do Brasil.

Hoje, a eleição é para prefeito, mas amanhã? Será que Pablo Marçal está conquistando apenas votos? Ou também corações? Vale lembrar que Bolsonaro, quando surgiu na mídia como candidato à presidência, também era desacreditado pelos “especialistas” e analistas políticos, aparecendo com apenas 5% das intenções de voto. Independente da credibilidade dos institutos de pesquisa, até aquele momento, eram os percentuais divulgados na mídia tradicional que pautavam as corridas eleitorais.

E é aqui que reside o temor das principais lideranças da direita brasileira. Pablo Marçal é, de fato, essa potência que ameaça os maiores puxadores de votos do Brasil? Pelo menos na internet, ele é! Só os cortes da “exorcização” de Boulos com a carteira de trabalho foram assistidos por quase 60 milhões de pessoas, apenas no seu perfil do Instagram.

Visualizações vencem eleições?

Mas esses números representam votos? Sim e não. Sabemos, porém, que a direita brasileira está nas redes sociais, e essas mesmas redes foram decisivas para a eleição e vitória da maioria dos candidatos conservadores, incluindo o ex-presidente Bolsonaro, que tinha apenas 8 segundos diários na propaganda eleitoral gratuita na televisão.

Essas visualizações dos vídeos de Pablo Marçal, por exemplo, são 6 vezes a quantidade de eleitores que residem na capital paulista, que atualmente tem 9,3 milhões de votos válidos. Claro que nem todas as pessoas que assistem aos vídeos de Marçal são moradores da cidade de São Paulo, mas se fizermos uma comparação entre os números de seguidores nas redes sociais do ex-coach e empresário com os votos que Guilherme Boulos recebeu nas eleições de 2020, certamente Pablo Marçal estará no segundo turno das eleições deste ano de 2024.

Boulos disputou o segundo turno com Bruno Covas porque obteve pouco mais de 1 milhão de votos na capital, enquanto o falecido teve 1,7 milhão. No segundo turno, Covas venceu com pouco mais de 3 milhões de votos paulistanos.

Porém, o ex-prefeito Bruno Covas foi eleito para ser o “remédio” contra o candidato comunista do PSOL, já que o candidato apoiado por Bolsonaro na época, Celso Russomanno, recebeu praticamente, pelo menos até o momento, o mesmo apoio tímido que Bolsonaro está declarando ao atual prefeito Ricardo Nunes, mas com uma grande diferença: o ex-presidente não diminuía publicamente Russomanno.

Logo depois, nas eleições de 2022, para o cargo de deputado federal, Guilherme Boulos foi eleito com a considerável votação de 1.001.443 votos dentro do estado de São Paulo, e não apenas na capital. Ao fazer outra leitura comparando a quantidade de votos que o comunista obteve no segundo turno de 2020 (2,1 milhões), quando perdeu a disputa para Bruno Covas, percebe-se que o voto em Boulos é flutuante e de ocasião. Vale destacar que Boulos é líder do grupo invasor de propriedades MTST, e durante as eleições de 2020, que coincidiram com a pandemia, a organização distribuiu mais de 1 milhão de marmitas nas periferias, grande parte na cidade de São Paulo. E essa ação elevou muito o nome do candidato Boulos na época.

Só não leva no primeiro turno, mas garante vaga no segundo!

E agora, sabemos que o único apoio de peso que Boulos tem é o do Lula, atual presidente do Brasil, e, claro, o caixa da máquina pública vem junto. Mas o que precisamos destacar é que Pablo Marçal, naturalmente, "rouba" votos da esquerda por ser um coach que vence no discurso de prosperidade, que é possível ser rico e multi milionário, mexendo com o sonho dos mais desprovidos e também por ter o carisma que atrai o jovem de periferia. Ou seja, a figura que ele construiu na internet o ajuda muito como candidato.

Já Nunes parece não ter nem um, nem outro, apenas uma dúzia de partidos de centro que, por sua vez, não têm apoio popular e muito menos 100% do Bolsonaro. Então, Ricardo Nunes conta apenas com o apoio do Governador Tarcísio, que, diga-se de passagem, é um grande apoio, mas, dentro desse cenário, disputado contra a surpresa do efeito Marçal, pode não ser suficiente para garantir a reeleição. Em outras palavras, Marçal certamente estará no segundo turno. Só resta saber com quem o empresário vai disputar: Boulos ou Ricardo Nunes? 

4 cenários desastrosos que o Bolsonaro criou para si mesmo!

Cenário 1: Pablo Marçal vai para o segundo turno e disputa contra Guilherme Boulos. Nesse caso, Bolsonaro será forçado a apoiar Marçal, pois estamos falando de Guilherme Boulos. Esse cenário provará duas coisas: primeiro, quem precisará correr atrás de Marçal desta vez será o ex-presidente, já que não há como ficar de fora de uma disputa que também envolve Lula versus Bolsonaro. Marçal, obviamente, aceitaria o apoio, mas com um toque de deboche garantido.

Cenário 2: Pablo Marçal disputará o segundo turno com Ricardo Nunes. É provável que Boulos não apoie ninguém (ou será que sim?), mas Marta Suplicy provavelmente apoiará Nunes, ainda que timidamente, já que foi Secretária de Relações Internacionais da cidade de São Paulo no presente mandato de Nunes, antes de retornar ao PT e ser vice na chapa de Boulos. Mas isso implicaria no PT estar de mãos dadas com Bolsonaro contra Marçal. Terrível, não é? Nunes, então, certamente não poderá aceitar publicamente esse apoio. Pelo menos no mesmo palanque, não.

Cenário 3: Pablo Marçal vence as eleições em qualquer situação, derrotando tanto Bolsonaro quanto Lula na disputa pela capital de São Paulo. Agora, estamos falando de superar os maiores puxadores de votos do Brasil, e não apenas do estado de São Paulo. Esse seria o pior dos cenários para Bolsonaro e, sem dúvida, digno de apostas. Quem duvidaria que Pablo Marçal arriscaria dizer que venceu o mito dentro da própria casa dele? E com todo deboche, quem seria o mito de verdade então?

Cenário 4: Bolsonaro é convencido a abandonar Ricardo Nunes, declarando voto em Pablo Marçal, antes do primeiro turno das eleições, pois não vai querer correr o risco de manchar sua imagem e nem colocar em dúvida o seu poder eleitoral. Certamente é algo que tira o sono do clã Bolsonaro. Recentemente, Eduardo Bolsonaro até criticou o prefeito publicamente por ter aparecido em um vídeo partidário apoiando a candidata a vereadora do seu partido, Joice Hasselmann.

Esse ataque contra o candidato de seu pai demonstra que o apoio não está tão garantido assim. Caso esse cenário se concretize, Bolsonaro cometerá um dos maiores pecados na política, pois seria inédito. Ele não abandonaria apenas sua palavra, mas também o Governador Tarcísio, o vice de Nunes indicado por Bolsonaro, o coronel Melo Araújo e, pior ainda, a liderança do movimento conservador no Brasil. Isso certamente ameaçaria a posição de Bolsonaro, abrindo oportunidades para outros possíveis candidatos à presidência dentro do próprio movimento, que não se importariam em receber a bênção do ex-presidente.

Concluindo

É melhor que nada disso que este jornalista que vos escreve venha a acontecer, pois atualmente Pablo Marçal já causou ranhuras e rachaduras. Além de parte dos eleitores de direita já terem definido sua preferência por Marçal, algumas lideranças mais próximas e fieis de Bolsonaro já demonstram apoio publicamente ao candidato. Caso nada surpreendente ou “cabeludo” venha à tona para desclassificar e desabonar o empresário, tudo indica que Marçal será uma pedra no sapato para os planos futuros da atual direita.

Foto de Daniel Camilo

Daniel Camilo

Jornalista e estudante de Direito e Ciências Políticas. Conservador de Direita e Nacionalista. Em 2022, concorreu ao cargo de deputado federal pelo Estado de São Paulo. Atualmente, está dedicado à escrita do seu primeiro livro, "Academia do Analfabeto Político”, uma obra que tem ênfase na ética política e no comportamento analítico do cidadão enquanto eleitor.

Ler comentários e comentar