André Mendonça e Nunes Marques, o silêncio é inocente?
16/08/2024 às 11:09 Ler na área do assinanteO silêncio dos ministros André Mendonça e Nunes Marques diante das revelações expostas pela Folha de S.Paulo tem gerado inquietação e perplexidade, principalmente no seio do movimento conservador.
Quando Jair Bolsonaro, então presidente da República, indicou ambos para o Supremo Tribunal Federal (STF), muitos conservadores depositaram neles a esperança de um equilíbrio na Corte, especialmente em um momento em que as ações do Ministro Alexandre de Moraes, vistas como excessivamente perversas, têm sido motivo de críticas intensas.
Alexandre de Moraes, que já protagonizou diversas decisões polêmicas, tornou-se uma figura central no embate entre o STF e apoiadores do governo Bolsonaro. As suas ações, muitas vezes interpretadas como perseguições políticas, têm sido amplamente debatidas, especialmente no que tange à liberdade de expressão e aos limites do poder judicial. Neste contexto, Mendonça e Marques foram vistos como potenciais defensores de uma perspectiva mais alinhada aos valores conservadores.
No entanto, o silêncio de ambos diante das últimas revelações trouxe à tona um sentimento de desilusão. Afinal, se eles foram nomeados justamente para servir como um contrapeso ao que muitos consideram ser uma "ditadura judicial", por que, então, permanecem em silêncio? Esta ausência de manifestação é percebida não apenas como uma falha em cumprir com as expectativas que lhes foram atribuídas, mas também como uma omissão em um momento crítico para o país.
O Ministro André Mendonça, que chegou ao STF com o rótulo de "terrivelmente evangélico", deveria representar a voz daqueles que veem na religião e nos valores tradicionais um baluarte contra a degradação moral e social do Brasil. Já Nunes Marques, com seu perfil técnico e conservador, era visto como uma garantia de que as decisões judiciais seriam tomadas com imparcialidade e respeito às liberdades individuais.
O que se observa, entretanto, é que tanto Mendonça quanto Marques têm mantido uma postura de neutralidade em um dos momentos mais tensos da história recente do Supremo Tribunal Federal. Isso levanta uma questão central: até que ponto o silêncio é uma estratégia, e não uma concessão? Estariam os dois ministros aguardando o momento certo para se posicionarem, ou seu silêncio é uma aceitação tácita das ações do STF sob a liderança de Moraes?
Essa falta de reação, que muitos esperavam que fosse enérgica, reflete uma preocupação crescente sobre o papel que esses ministros efetivamente desempenham no STF. Se por um lado, o silêncio pode ser interpretado como prudência, por outro, ele pode ser visto como uma traição aos princípios que deveriam guiar sua atuação na Corte. O movimento conservador, que acreditava que a indicação desses ministros seria um passo em direção ao equilíbrio do poder, agora se vê diante de um dilema: confiar na estratégia silenciosa ou exigir um posicionamento claro?
O silêncio, em si, não é neutro. Em um tribunal onde cada palavra, cada voto, pode definir os rumos da nação, a ausência de manifestação em momentos cruciais é, em si, uma forma de ação. Ao não se posicionarem, Mendonça e Marques estão, na prática, permitindo que o poder do STF continue a pender para um lado, sem o equilíbrio que muitos esperavam.
No fim das contas, a expectativa de que esses ministros seriam os guardiões dos princípios conservadores no STF está sendo colocada à prova. Mas a questão é: um atrito público entre os membros da Suprema Corte faria alguma diferença neste momento? Este jornalista que vos escreve acredita que seria crucial para acelerar e inflamar não só a mídia, mas também o povo e os senadores, conduzindo a um desfecho há muito aguardado.
Daniel Camilo
Jornalista e estudante de Direito e Ciências Políticas. Conservador de Direita e Nacionalista. Em 2022, concorreu ao cargo de deputado federal pelo Estado de São Paulo. Atualmente, está dedicado à escrita do seu primeiro livro, "Academia do Analfabeto Político”, uma obra que tem ênfase na ética política e no comportamento analítico do cidadão enquanto eleitor.