O fim da “Nova República”: Significado e consequências

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A implacável crise política e o esgarçamento das instituições nacionais que têm vitimado o país, sobretudo ao longo dos últimos dez anos – cujo clímax coincide com a contestada (e suspeita) vitória “oficial” de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022 (e suas conhecidas sequelas) –, assinalam um evento da máxima relevância e imanente significado para a história recente do Brasil (a ser melhor investigado no futuro): o fim da (assim denominada) “Nova República”.

Nascida de um retumbante movimento de massas, que postulava o término do regime militar de exceção e o retorno de eleições livres e diretas, tal qual a garantia das liberdades fundamentais, o período inaugurado em 1985 sinalizava o (re)ingresso do país à vigência plena dos ditames da democracia e da república – como depois veio a ser consagrado, formalmente, nos termos da Constituição “Cidadã” de 1988.

Mas cedo percebeu-se que, de “nova”, a falsa república nascente não tinha nada: apenas a carcaça – adornada pela letra natimorta da inócua Magna Carta. Mudava-se apenas a forma para se manter o habitual e “velho” conteúdo: o populismo, a demagogia, o caudilhismo, a farsa, o conluio, o patrimonialismo, a manipulação, o corporativismo, a indecência, a empáfia, o aliciamento, a imoralidade, a devassidão, a hipocrisia, o mau-caratismo, a impostura e, sobretudo (mãe de todas as ignomínias), a corrupção das elites governantes (sob o agasalho de uma pervertida e impudica juristocracia), em seu grau extremo de institucionalização.

A Operação Lava Jato – hoje integralmente solapada – serviu para expor à luz do dia, às massas traídas, as entranhas putrefatas do recém instalado consórcio (“mecanismo”) no poder; da mesma forma que o mandato de Jair Bolsonaro (eleito nas brechas da contestação popular de 2018) estampou a falsidade do espírito democrático dessas mesmas e carcomidas elites – que jamais admitiram, por despudorado “apego” às chaves do cofre, qualquer alternância no poder.

Até as “esquerdas” que, na figura de Lula, prometiam, desde os idos de 2002 (e para isso foram eleitas!), o fim da corrupção, transparência na gestão pública e ética na política, acabaram por se amalgamar aos mesmos e velhos “hábitos” (e “delícias”) de seus pretéritos e repudiados adversários (a quem usavam diuturnamente criticar), tornando-se, desde então, os seus próprios líderes e condottieri, seja na rapinagem, na trapaça, quanto na (agora desmesurada) sede de poder – como provam os delitosos mensalões e petrolões legados pela triste e abjeta trajetória.

É toda essa máfia que, não por acaso, com o apoio dos diversificados “correligionários” e oportunistas de plantão – e o protagonismo e proteção de seus “supremos” representantes de toga –, acabou por retornar à cena do crime, para dar continuidade, com mais veemência e determinação (sangue nos olhos e sede de vingança), à “obra” inacabada.

Quem venceu a última eleição presidencial em terra de Macunaíma, de fato, não foram as (falsas) “esquerdas” tupiniquins (insidiosas em seus propósitos), ou a “agenda progressista” (mero embuste), tampouco o “socialismo bolivariano” (uma gigantesca e catastrófica ilusão), mas o crime organizado. Sim, o tradicional estamento patrimonialista-oligárquico, renovado em seus compartes e quinhoeiros, atualmente associado ao narcotráfico e ao globalismo imperialista do capital financeiro transnacional – a quem servem no papel de imaginárias (e instrumentalizadas) facções “revolucionárias” de fachada.

O 30 de outubro de 2022 demarca, pois, por todas as razões e fundamentos, pelo simbolismo (e consequências) de seu desfecho, o fim da quimérica “Nova República” (que nunca vingou), sua derrocada e fracasso, inaugurando, em seu lugar, com o aval e a “legitimação” (suspeita) das urnas, o reino totalitário da cleptocracia triunfante – com todos os ingredientes contra os quais haviam aparentemente se rebelado, no passado, os seus espúrios e hipócritas artífices.

Só que agora, ao invés do despotismo da farda, passou a viger aquele da toga – contra o qual não há a quem recorrer. É ele que tem se incumbido, em momentos-chave dos conflitos estruturalmente instalados, de dar o suporte necessário ao programado e tirânico expurgo da oposição, ao controle absolutista da mídia (e redes sociais), à desmilitarização das polícias estaduais e à submissão e aparelhamento definitivo das (pusilânimes) Forças Armadas, inviabilizadas como último bastião de recurso constitucional à impostura e ao arbítrio – seguindo-se à risca a cartilha do Foro de São Paulo.

Fecha-se, assim, com esse episódio traumático, uma janela histórica que havia sido aberto para a prosperidade e uma possível proclamação da república (que nunca ocorreu no país); e abre-se uma porta descomunal para a imposição progressiva do crime institucionalizado, da tirania desmesurada e da barbárie incivilizada do terror e da injustiça – cujos efeitos pungentes e calamitosos, aos moldes “chavistas”, serão cobrados, mais à frente, pelas futuras e penalizadas gerações.

Sim, na “guerra brasileira” – salvo imprevistos de última hora ou fatos extraordinários de percurso (tudo ainda é possível!) – terá vencido, mais uma vez, a Cleptocracia Oligárquica – e perdido, comme d’habitude, a República Democrática.

Um epílogo que, caso confirmado em suas linhas tendenciais de momento, já prenuncia um alarmante e tenebroso desastre civilizatório – a exemplo do catastrófico (e ilustrativo) colapso venezuelano.

Alex Fiúza de Mello. Professor Titular (aposentado) de Ciência Política da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Ciência Política (UFMG) e Doutor em Ciências Sociais (UNICAMP), com Pós-doutorado em Paris (EHESS) e em Madrid (Cátedra UNESCO/Universidade Politécnica). Reitor da UFPA (2001-2009), membro do Conselho Nacional de Educação (2004-2008) e Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Pará (2011-2018).

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